quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trovadores do Além (Parte 1)

1
Nenhuma ciência elucida
Onde a saudade é mais forte:
Se nas lágrimas da vida,
Se nos júbilos da morte.
SOARES BULCÃO

2
O mal é o mesmo em ofensas
De obsessões infelizes,
Quando dizes e não pensas,
Quando pensas e não dizes.
MARCELO GAMA

3
Mãezinha, não sei ao certo
Onde a ausência dói mais fundo.
Se na paz do firmamento,
Se na dor que envolve o mundo.
RUBENS DE SÁ

4
Para as tristezas da vida,
Trabalho é o grande remédio.
Quem com tédio mata o tempo,
O tempo mata de tédio.
CRISTÓVÃO BARRETO

5
O ouro, por mais renome,
Guarda esquisita função:
No cofre, piora a fonte,
No trabalho, gera o pão.
VIRGÍLIO BRANDÃO

6
Escreves? A cada traço,
Relembra a morte terrena...
Há muita pena no Espaço
Apenas devido à pena.
BATISTA CEPELOS

7
Reencontrei-te reencarnada...
Imagina o meu deserto!...
Rever-te perto e tão longe,
Sentir-te longe e tão perto...
LÍVIO BARRETO

8
Saudade – angústia que embala,
Tem um ponto impertinente:
Quem sente, às vezes não fala.
Quem fala, às vezes não sente.
ROBERTO CORREIA

9
Do Além se vê, face a face,
O que nunca se entendeu,
Na morte de quem renasce,
Na vida de quem morreu.
HELVINO DE MORAIS

10
Estranha contradição
Que a Terra vira e revira:
Muita mentira é paixão,
Muita paixão é mentira.
EMÍLIO DE MENEZES

11
Que conflito doloroso
No antigo romance nosso!
Quero amar-te e não consigo,
Quero esquecer-te e não posso.
LAURO PINHEIRO

12
Para a Justiça de Deus,
Tem muito mais expressão
A gota de caridade
Que o rio da pregação.
MARTINS COELHO

13
Saudade – sombra erradia
Que envolve a gente na estrada,
Lembra chuva mansa e fria
Numa casa destelhada.
TARGÉLIA BARRETO

14
Não sei de amor tão perfeito
Que esta divina ternura
Que as mãos carregam no peito
E guardam na sepultura.
VIDA

15
Desencarnei... É verdade,
Mas prodígios não me peças!
Já tenho a infelicidade
De ver o mundo às avessas.
RAUL PEDERNEIRAS

16
Que o mundo não te embarace
Na aparência fementida.
A vida que está na face
Não mostra a face da vida.
SABINA BATISTA

17
Bênçãos de Deus! – para vê-las,
Basta olhar por onde fores,
O céu repleto de estrelas,
A terra cheia de flores.
GOMES LEITE

18
Agora não mais me iludo
De que, na Terra ensombrada,
Quem não tem nada tem tudo,
Quem tem tudo não tem nada.
ANTÔNIO SALES

19
Tarde percebo no Espaço
A grande filosofia...
O que fazia não faço,
O que faço não fazia.
XAVIER DE CASTRO

20
Adoro a Terra, entretanto,
Vale mais no meu arquivo
Ser vivo depois de morto,
Que ser morto sendo vivo.
MARTINS COELHO

21
Do que vejo após a morte,
Que mais me causa aflição,
É ouro na caixa forte
E pequeninos sem pão.
JUVENAL GALENO

22
Toda mulher é uma estrela,
Se traz, seja linda ou não,
A palma do sacrifício
Na palma de sua mão.
IRENE SOUZA PINTO

23
Ventura! – riqueza d’alma
Que atirei pela janela.
Saudade! – retrato vivo
Do bem que se foi com ela.
ARTUR RAGAZZI

24
As coroas de finados,
Na campa de quem morreu,
São grandes zeros dourados
Se a vida nada valeu.
CORNÉLIO PIRES

25
A pessoa vigilante
Usa verbo temperado;
Nem franqueza com pimenta,
Nem brandura com melado.
DERALDO NEVILE

26
Boneca que sempre riste
De alma gelada e insincera,
Ah! Boneca, como é triste
A solidão que te espera!
VIVITA CARTIER

27
O mundo aplaude e coroa
Quem vence a batalha a esmo,
Mas, no Além, o vencedor
É quem venceu a si mesmo.
ANTÔNIO AZEVEDO

28
Palavras – formas da imagem
Que o cérebro deita aos molhos.
Pranto – divina linguagem
Do coração pelos olhos.
CHIQUITO DE MORAIS

29
Por mais que o mundo progrida,
Vale o antigo passaporte;
Velha campa – nova vida,
Novo berço – velha morte
GODOFREDO VIANA

30
Não há júbilo, a rigor,
Que se possa comparar
Ao de amor que encontra o amor
Depois de muito esperar.
MACIEL MONTEIRO

31
Mãe, abençoa teu filho
Mesmo ingrato, rude e vão.
A luz nunca perde o brilho
Por derramar-se no chão.
RITA BARÉM DE MELO

32
Há muita paixão que arrasa
Qual fogueira bela e vã.
Hoje, brilho, chama e brasa,
E muita cinza amanhã.
MARCELO GAMA

33
Criança, - linda semente,
Raio de luz a sorrir.
É nesse pingo de gente
Que Deus te entrega o porvir.
BELMIRO BRAGA

34
Muitos vivos vendo o morto
Sentem pânico profundo,
E há muito morto com medo
Dos vivos que estão no mundo.
CARLOS CÂMARA

35
Não sei discernir qual seja
Mendigo mais sofredor,
Se o pobre que pede pão,
Se o rico que pede amor.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

36
Eis o quadro mais perfeito
Que já vi do desconforto:
Mãe transportando no peito
A mágoa de um filho morto.
MARIA CELESTE

37
Afeições vistas do Além
Em cem paixões que entrevejo:
Uma delas – amor puro;
Noventa e nove – desejo.
LUCÍDIO FREITAS

38
O coração quando ama
É céu que brilha de rastros,
Luz de Deus que desce à lama,
Ou lama que sobe aos astros.
SABINO BATISTA

39
O imenso mar que se aninha
Entre céus, terras e escolhos
Brilha menos que a gotinha
De pranto a cair dos olhos.
AMÉRICO FALCÃO

40
Quem conserva terra vã
Na Terra sem cultivar,
Nasce na Terra amanhã
Sem terra para morar.
ADERBAL MELO

41
Rio morto, árvore peca,
De tudo vi no sertão,
No entanto, pior é a seca
Que lavra no coração.
VIRGÍLIO BRANDÃO

42
Palácios, arranha-céus,
Muitos dos mais expressivos,
São custosos mausoléus
Resguardando mortos-vivos.
BENEDITO CANDELÁRIA IRMÃO

43
Depois da morte, sentimos,
No mesmo grau de rudez,
Tanto o mal que praticamos,
Quanto o bem que não se fêz.
JÔNATAS BATISTA

44
Ama, filhinha, entretanto
Sofre a dor que o lar te der.
É toda feita de pranto
A glória de ser mulher.
VIDA

45
Mãe que partiu!... Podes vê-la
Na fé que te reconforta
Toda mãe é como estrela
Que brilha depois de morta.
CELESTE JAGUARIBE

46
No mundo, ninguém conhece
A força de redenção
De uma lágrima que desce
Dos olhos ao coração.
CARLOS CÂMARA

47
Amor – da sombra em que existo,
Parece clarão de aurora,
Consolo de Jesus-Cristo,
Mão estendida a quem chora.
ULISSES BEZERRA

48
Depois da morte é que a gente
Tem o amor que aperfeiçoa,
Amando quem nos esquece
Nos braços de outra pessoa.
JOVINO GUEDES

49
Coração, padece a chama
Do martírio em que te elevas!
Se muito sofre quem ama,
Quem não ama vive em trevas.
BERNARDO DE PASSOS

50
Ateu – enfermo que sonha
Na ilusão em que persiste,
Um filho que tem vergonha
De dizer que o pai existe.
ALBERTO FERREIRA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

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