sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 11a. Parte


" PEQUENINA... "

Sim, és pequenina...
E sendo mulher, lembras mais
às vezes, uma menina...

Uma menina cheia de sonhos
vãos...

Sim, és pequenina...
(como gosto que sejam as mulheres
para melhor caberem em minhas mãos...)

" PERGUNTA TOLA "

Afinal
(para o meu bem
ou para meu mal)

- encontrar Você
para quê ?

" PRESENÇA... "

Se esta página onde escrevo
fosse um espelho, meu amor

... estaria embaciada ainda
pelo teu calor…

" PRÍNCIPE ENCANTADO "

Ontem
Me senti Príncipe Encantado
quando você me encontrou...

E ao Vê-la
em sua ingenuidade sonhadora,
em sua desprevenida beleza,
fiquei a lastimar antecipadamente a sorte
de mais uma Princesa…

" QUANTO A MIM... "

Bom é saber que me esqueceste,
e descobrir (para meu mal
ou para meu bem?)
que eu apenas te amei...

Que tu fosses feliz
foi afinal
o que sempre desejei
e quis...
........................................................................

Não choro, não me lamento
de nada sinto falta...

... E para que falar em sofrimento
se a noite vai alta…

" RECEIO... "

I

Às vezes receio ( e talvez falte pouco)
que esse ímpeto que vem do coração
com uma força estranha,
extravase em ternura quente
como as lavas de um vulcão pela vertente
de uma montanha...

Receio que transborde
esse ímpeto louco, que domo
nas profundezas do Ser
e é fogo, em meu olhar...

E eu ponho tudo a perder...
Tudo... Eu que há tanto tempo me contenho
não sei como,
a esperar...

I I

Nesse silêncio me aprisiono
e me acovardo,
nesse silêncio me guardo...

Por mim, por ti, por nós dois,
é melhor que não venha a palavra,
que eu fique mudo...

Se te dissesse a primeira palavra
talvez depois
fosse capaz de tudo…

" REMORSO ? "

Por que há de ser assim o amor,
sempre desajustado
em nossas vidas?

Esta ternura que tanto te cativa
uma outra inutilmente a desejou
e bem que a mereceu....

Perdoa, amor... Mas essa ternura
que te dou,
é remorso talvez, sentimento de culpa,
que seu eu?

Prodigalizo-te o que por tanto tempo
neguei, sem explicação,
a quem tanto se deu, e desesperada se foi
sem qualquer explicação…

" RESTOS DE NAUFRÁGIO... "

Me lembro de teus gestos de criança, teus olhos garços,
teus cabelos louros despenteados
pela aragem fria,
me lembro de tua perturbação adolescente
naquele dia...

E da expressão de teu olhar
sempre que me encontrasse,
quando o amor era um primeiro rubor de alvorada
em tua face...

S então eu fosse teu e tu fosses minha
eu, puro, sem passado, a esperar pelo mundo;
tu, a imagem da própria ingenuidade
em seu canto inicial,
nosso amor teria sido um céu azul, profundo,
onde dois pássaros esvoaçassem
antes do pouso nupcial...
.............................................................

Maldade do Destino... Coisas da Vida em seus desígnios...
nem pudeste ser minha e nem pude ser teu...
(Ah! aquele instante dos instantes
que irremediavelmente se perdeu!)
- em que este amor teria sido o amor perfeito
como as manhãs de abril nas montanhas distantes...

E hoje que tens cansado o corpo e a alma entregas
em gestos lassos,
com esse jeito de quem tem pago pelo pouco
que tem recebido,
um doloroso preço,
- hoje, enfim, que te tenho em meus braços,
eu, também, sou um saturado, um perdido,
e já não te mereço...

Depois de tantas voltas inúteis, nossas vidas
que ventos estranhos desarvoraram
sobre o mar,
são como os restos de um naufrágio
que as ondas dispersaram
e ao fundo de uma mesma praia
foram dar...

Restos... somos restos de nós mesmos
a boiar...

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

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