– Mamã, nem todas as crianças que morrem vão para o Paraíso. O outro dia vi levar para o cemitério um menino que tinha morrido; o seu papá e as duas irmãzinhas acompanhavam o caixão e choravam tanto que me fazia pena. Iam a chorar porque aquele menino tinha sido mau, não é verdade?
– Não; naturalmente foi sempre bom, e a sua alma, enquanto choravam seus pais e suas irmãs, já estava vivendo feliz no Paraíso.
– A alma? mamã; não sei o que é; não compreendo bem.
– Maria, acabas de me dizer que tiveste pena de ver chorar as duas pequerruchas.
– Tive, sim, mamã, tive muita pena.
– Ora bem, o que é que no teu corpo estava desconsolado e triste? eram os braços?
– Não, mamã.
– Eram as orelhas?
– Oh! não, mamã, era cá dentro.
– Esse lá dentro, Maria, é a tua alma que se alegra ou se entristece, que te repreende quando fazes o mal, e que está satisfeita quando praticas o bem.
Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.
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