segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Versos Verdes (Parte 3)


EDILSON NASCIMENTO LEÃO
Urandi / BA

A ABELHINHA


A abelhinha invadiu a cozinha...
Entrou zumbindo, foi um escarcéu.
Os meninos com medo do seu ferrão,
Se esconderam e deitaram no chão.
Ela sobrevoou... zum! zum! zum!
E acentou-se num pedaço de melão.
Dele saboreou e tornou a sobrevoar,
Mas era do mamão que ela queria se deliciar.
Comeu a sobremesa, os meninos
Deitaram-se debaixo da mesa.
Saiu sorrateira, voando até a prateleira.
E com seu jeitinho à brasileira,
Beijou uma florzinha que estava
Em uma estantezinha.
Depois saiu abanando suas asinhas,
Se achando também,
A rainha da cozinha.

ELIZABETH MARIA CHEMIN BODANESE
Pato Branco / PR

BRISA...


Ah! Brisa...
Vento suave e fresco deste amanhecer
Beija as folhas verdes,
Das montanhas vestidas de Verde,
Da verde mata que acabo de ver.

Verde da Mata Atlântica...
Verde de folhas vivas!
Verde da vida...

Ah! Brisa...
Acaricia o verde e desliza...
Abraça essas montanhas cheias de vida...
Beija o Verde...
O Vivo Verde...
A Vida…

ERITÂNIA CASTRO MACHADO DE SOUSA BRUNORO
Rio Branco / AC

VERDES SUSPIROS


Entre que a porta está aberta!
Venha sem medo de chegar.
Observe como o Sol ora desperta
Vendo a Lua no céu se afastar.

Tu, que és a brisa nascente,
Enche de alegria a gaivota que voa
Por entre as veredas e sente,
Que com seu voo, a floresta povoa.

Respiram as folhas em seus verdes dias,
Admirando o nascer e o adormecer do horizonte
E deixando de lado suas vãs agonias.

À espera de se fazerem libertas,
Respiram o sonho da eternidade
E o vento no rosto da saudade.

FÁTIMA MOTA
Natal / RN

MEU CORAÇÃO PRIMAVEROU


Sob meus pés há um tapete de flores
traçando caminho entre hortênsias azuis
margaridas e belos girassóis.

O sentimento retira as vestes dos pudores
desarroxeia e joga fora tudo que polui.
A saudade é uma aurora e abriga novos sóis.

A vida habita-me e polvorosa é minha cidadela
há pedregulhos e rios caudalosos, há flores no asfalto
paredes cobertas de heras. Há o outro lado da moeda.

O meu desejo por ti, esperança
e ao te avistar, este incauto coração, primavera.
Sossegam enfim... todas as esperas.

GÉLCIO DE BARROS SORMANI
Mainz / Alemanha

O QUE RESTA


Os calos sobrando nas mãos
os dentes faltando na boca
as palavras que nunca entendeu
o prato que nunca provou
as coisas que nem imagina
o céu onde nunca voou
a honra acima de tudo
o direito que nunca chegou
a prece das seis da tarde
a fé que nunca faltou
a corformação com a sina
da miséria a toda prova
e o tempo passando sem graça
com a graça de Nosso Senhor.
Sua certeza de terra, uma cova
pois até seu resto de sonho
secou.

HELEN DE ROSE
Sorocaba / SP

PÉ DE MANACÁ


Lá no alto do morro só restou
Um pé de manacá entristecido
Que a terra molhada não levou
Depois das nuvens terem chovido

Sua sombra traz uma esperança
E suas flores um lindo colorido
Depois da tempestade, vem a bonança
De algo mais eterno e bendito

Suas folhas balançam com as lágrimas
Dos que ficaram na fria saudade
Olhando o que restou de suas lástimas
Soterradas no pé do morro em calamidade

A morte passeou pela madrugada
Sem olhar nos olhos dos destinos
Arrancou da vida apressada
Na calada da noite destes abrigos

Um lamento trazido pelos ventos
Trouxe suas flores aos jazigos
Colorindo os corpos nestes fragmentos
Em que todos nós sentimos os perigos

É a natureza gritando por socorro
Aos Homens de boa vontade
E lá no alto daquele morro
Um pé de manacá chora de saudade

ISMAR CARPENTER BECKER
Rio de Janeiro / RJ

SERTÃO


Nasci no sertão árido
Galhos retorcidos
A abelha zuadeira no pé da aroeira
Mandacarú que florece entre as pedras
Que maltratam meus pés desnudos
Sertão água pardacenta
A juriti que pia solitária
Solo pedregoso
Arenoso
Aparentemente sem vida
Nasci no sertão
Do repentista e violeiro
Que canta a dura realidade da vida
Sol inclemente castiga a pele
A alma
Na mata acinzentada
Espinhos furam o bucho das estrelas
Que despencam do céu lúgubre
Nasci no sertão árido como uma alma sem fé
Sem esperança
Sem a chama que aquece meu coração de pedra
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Fonte:
Versos Verdes. RJ: Câmara Brasileira dos Jovens Escritores, 2010

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