domingo, 8 de janeiro de 2012

Regina Vilarinhos (A Hora do E-mail)


Ah, o que é um e-mail? Quantos e-mails a gente espera por dia ou por hora? Para onde a gente quer mandar um e-mail?

Será que ao abrir nossa caixa de entrada, acharemos lá mensagens do mundo inteiro: algumas alucinantes e maravilhosas, ou repetitivas e entediantes... Ou até mesmo Deus ou alguns dos seus anjos de plantão, sabe aqueles que ficam com a caixa de e-mails aberta o tempo todo (afinal somos milhões de usuários!), mandam AQUELA mensagem linda, perdoando todos os nossos mails de piadinhas sobre padres e freiras, as fotos com os Deuses e Deusas gregas, as correntes carentes que mandamos para sabermos quantos de nós estão de plantão esperando por elas.

Quando damos o login de identidade, vem a resposta mágica: "Você tem 6 novas mensagens", em negrito! Finalmente, Deus ouviu minhas preces e resolveu me dar mais uma chance, eletronicamente falando. Anda computador! Abre logo a caixa de entrada, está lá minha salvação (pelo menos por hoje!).

Minha inspiração está de volta! Meu dia não está perdido! Terei assuntos diversos para o resto do dia e da semana. Encaminharei para todos a nova piada do Bush e Saddam, enviarei aquela apresentação com fundo musical para os amigos mais ecléticos, tirarei vantagem entre as invejosas sobre a foto de meu amigo virtual, que diz que está louco para me conhecer e que virá um fim de semana do Rio, só pra matar a curiosidade e, quem sabe, termos algo mais que uma amizade.

Mas, que coisa, o computador dele deu vírus (de novo) e ele perdeu as fotos da última viagem à Porto Seguro, que tinha escaneado para me mandar. Ah, mas ele promete que no próximo e-mail manda sem falta. E eu acredito. E depois, uma mensagem de mala direta, uma de alerta sobre a doença transmitida pelo celular... Ah, sim tem uma apresentação (mais uma!), com uma linda mensagem do mestre que transmitia ensinamentos aos seus discípulos e disse... Ei! Duas mensagens de minhas amigas escritoras. Será que estão me enviando um novo poema, saído agora dos seus neurônios poéticos e repletos de amor pra dar?

Meus Deus, elas me pedem conselhos! Pode?! Eu, dar conselhos à alguém? Como puderam pensar isso de mim... eu queria tanto dizer-lhes que estão enganadas. Já imaginou abrir sua caixa postal e achar uma mensagem de pedido de conselhos?

"Você é tão equilibrada!" Afirma uma. "Você sempre tem uma palavra de razão", dispara outra. Gente, e agora? Não posso deixá-las na esperança de abrirem seus e-mails e não encontrarem minha resposta, seja lá como for. Elas também tem ansiedade eletrônica e sofrem de emaillatria, como se de cada letrinha lida no corpo da mensagem, um novo mundo se abrisse, o amor de suas vidas surgiria na tela do monitor quando a foto fosse baixada, a combinação exata das dezenas da mega sena viria em código conhecido somente por elas.

Respiro fundo, pouso minhas mãos sobre o teclado, clico em "Escrever nova mensagem", e me lembro de que em meu computador tem uma apresentação linda, com fotos do Taj Mahal, um mantra maravilhoso, infalível, e trato de anexá-lo ao texto. Junto com ele, copio uma piada excelente sobre loiras. Não! Sobre portugueses...Nãããooo! Ah já sei, a foto do Bush e Saddam em enlace carnal extremamente amoroso. Pronto! Minha resposta está perfeita e só preciso clicar no enviar. Antes, digito os endereços no Cco, pois uma não precisa saber que mandei a mesma mensagem para a outra. Pelo menos, por enquanto, até nos encontrarmos pessoalmente e minha estratégia ser revelada.

Uma esperança sendo enviada pela banda larga.

Os olhos delas irão brilhar, quando brotarem na suas identidades a notícia mágica: "Você tem (1) nova mensagem." Em negrito.

Fonte:
Contos do Coral. Garganta da Serpente.

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