Pedrinho tirou várias cópias do programa e as pôs dentro das cartas de convite que ia enviar aos seus amigos e às amigas de Narizinho.
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GRANDE CIRCO DE ESCAVALINHO
eqüestre e pedestre dirigido por
PEDRO MALASARTE
ESCAVALINHO DA SILVA
no Sítio do Pica-Pau Amarelo
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A famosa Emília correrá
no seu cavalo de rabo de pena
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O incrível homem que
come fogo e engole espadas
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O célebre palhaço Sabugueira
(rir, rir, rir. . .)
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A monumental pantomima o
Phantasma da Ópera
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O espetáculo terminará
com uma sensacionalíssima
SURPRESA
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Os espectadores terão direito a
uma cocada ou um pé-de-moleque
da célebre doceira ANASTAZIMOVA
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HOJE HOJE HOJE
VER PARA CRER
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Preços: cadeiras: 1 real;
arquibancadas: 10 centavos
Observação: é expressamente
proibido entrar por baixo do pano
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eqüestre e pedestre dirigido por
PEDRO MALASARTE
ESCAVALINHO DA SILVA
no Sítio do Pica-Pau Amarelo
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A famosa Emília correrá
no seu cavalo de rabo de pena
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O incrível homem que
come fogo e engole espadas
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O célebre palhaço Sabugueira
(rir, rir, rir. . .)
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A monumental pantomima o
Phantasma da Ópera
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O espetáculo terminará
com uma sensacionalíssima
SURPRESA
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Os espectadores terão direito a
uma cocada ou um pé-de-moleque
da célebre doceira ANASTAZIMOVA
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HOJE HOJE HOJE
VER PARA CRER
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Preços: cadeiras: 1 real;
arquibancadas: 10 centavos
Observação: é expressamente
proibido entrar por baixo do pano
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Quem levou as cartas? Quem mais se não esses preciosos portadores chamados Envelopes? Mas como os senhores Envelopes não sabem chegar ao destino se não forem acompanhados dos senhores Sobrescritos e de diversos senhores Selos, Pedrinho arranjou diversos senhores Sobrescritos e diversos senhores Selos para acompanharem os senhores Envelopes na longa viagem que tinham de fazer. E esses portadores se comportaram muito bem.
Nenhum deles se distraiu pelo caminho com brincadeiras, de modo que as cartas foram parar direitinhas nas mãos de cada um dos convidados.
— Muito bem! — disse a menina depois que os portadores partiram. — Só resta agora convidarmos os nossos amigos do País das Maravilhas. Eles nunca viram um circo e hão de gostar.
— É no que estou pensando — disse Pedrinho. — Acho melhor fazer um convite geral e incumbir o senhor Vento de ser o portador.
E o menino assim fez. Escreveu um lindo convite numa folha de papel de seda, picou o papel em mil pedaços e subiu à mais alta pitangueira do pomar para jogá-los ao vento lá de cima. E jogou em verso, porque o Vento, o Ar o Fogo e outras forças da natureza só devem ser faladas em verso.
Vento que vento frade,
Estas cartas levade,
Norte, sul, leste, oeste,
E direitinho, se não...
Temos complicação!
Narizinho, de nariz para o ar embaixo da árvore, riu-se daqueles versos. Depois lembrou-se de uma coisa.
— Você fez asneira, Pedrinho. Mandou convites para todos, o que não é prudente. Podem aparecer o Barba Azul, o capitão Gancho e outras pestes.
— Não tenha medo. Se algum deles cair na tolice de aparecer, atiço-lhe o cachorro em cima.
— Que cachorro? Não temos nenhum aqui.
— Mas vamos ter. Pedirei ao tio Barnabé que nos empreste o Maroto por uma semana. Preciso dele para não deixar que ninguém penetre por baixo do pano — e também para ser atiçado contra Barba Azul, capitão Gancho ou qualquer outro pirata que apareça. Que acha da idéia?
— Serve.
— Neste caso, apare no avental estas lindas pitangas.
E começou a derriçar lindas pitangas, vermelhas e graúdas. Depois desceu, com os bolsos cheios e sentou-se na raiz da árvore ao lado da menina. Ia comendo e falando.
— Tenho agora de levantar um empréstimo — disse ele. – Sem comprar uma peça de algodãozinho não poderei fazer o circo. Mas custa R$ 10,00 e no meu cofre só há R$ 5,30.
A menina fez a conta na areia com um pauzinho.
— Estão faltando R$ 4,70, se a minha conta estiver certa.
— Menos — advertiu Pedrinho. — Podemos contar com a renda do circo.
— Grande renda! Você bem sabe que todos vão pagar de mentira, e com dinheiro de mentira não se compra nada nas lojas.
— Sim, mas há duas cadeiras de um cruzeiro cada uma, reservadas para vovó e tia Nastácia. Elas têm que pagar dinheiro de verdade. E vou fazer já os bilhetes, porque precisamos vender essas cadeiras hoje mesmo e receber o dinheiro adiantado.
Pedrinho engoliu apressadamente as últimas pitangas e foi fazer os dois bilhetes especiais.
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C. de E.
Cadeira Reservada ..................................... R$ 1,00
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Narizinho, como era muito jeitosa para negócios, encarregou-se de vendê-las. Dona Benta não botou dúvida; comprou e pagou com uma nota muito velha, mas que ainda corria.
Tia Nastácia, porém, era a negra mais regateadeira deste mundo, de tanto regatear com os mascates sírios que passavam por lá. Fez a choradeira do costume e tanto barateou que obteve a sua entrada por 80 centavos.
— Com uma condição! — disse a menina. — Você tem que arranjar um tabuleiro de cocadas e pés-de-moleque. Circo sem cocadas não tem graça.
A negra resmungou, mas acabou prometendo. Obtidos assim mais R$ 1,80, ainda ficavam faltando R$ 2,90. Como fazer para consegui-los? Estavam os dois meninos atrapalhados com aquele difícil problema, quando a boneca apareceu com a sua colherzinha torta.
— Eu sou capaz de arranjar esse dinheiro! — disse ela depois de refletir um momento. — Mas só o arranjarei se Pedrinho me der aquele carro de rodas de carretel que ele fez outro dia.
Pedrinho soltou uma gargalhada.
— Você está pensando que dinheiro é biscoito, Emília? Por mais ativa que seja uma boneca não é capaz de arranjar nem um tostão.
— Não duvide de mim, Pedrinho. Bem sabe que sou uma boneca diferente das outras. Se me promete o carrinho, juro que arranjo o dinheiro.
— Pois vá lá, prometo!
A boneca deu uma risadinha cavorteira e foi correndo para dentro.
— Grande boba! — exclamou Pedrinho. — Pensa que dinheiro é cisco.
— Não duvide de Emília — advertiu a menina. — Ela tem lábias e não me admirarei se aparecer com o dinheiro.
— Como?
— Sei lá. Isso é com ela.
— Muito bem — disse Pedrinho mudando de assunto. – Tenho agora de ir ao mato cortar paus e cipós para a armação do circo. Enquanto isso, trate de fazer a roupa dos artistas.
— E a roupa da “surpresa”?
— Essa fica para o fim — concluiu o menino, pondo o machadinho ao ombro e partindo para a floresta.
Na tarde daquele dia dona Benta caiu numa grande aflição. Imaginem que tinha perdido os óculos e não podia costurar, nem fazer coisa nenhuma. “Sem óculos não sou gente” – costumava dizer. Nastácia e Narizinho já haviam batido a casa inteira, mas nem rasto encontraram dos “olhos de dona Benta”. Nisto a boneca aproximou-se da pobre senhora, dizendo com o seu arzinho de santa:
— Todos já procuraram os seus óculos, menos eu. Quer que os procure?
— Que bobagem, Emília! Pois se Nastácia e Narizinho, que são gente, não acharam meus óculos, você, que é uma simples boneca de pano, os há de achar?
— Tudo é possível neste mundo de Cristo, como a senhora mesma costuma dizer. Se quer experimentar a minha habilidade de achar coisas...
— Pois procure. Quem a impede disso?
— Quanto me paga?
— Interesseira! Pago o que você quiser. Um tostão, por exemplo.
Emília deu uma risada gostosa.
— Tinha graça! Era só o que faltava eu procurar óculos para ganhar um tostão! Meu preço é R$ 3,00.
— Você está louca? Não sabe que R$ 3,00 é quase o preço de um par de óculos novos?
— Não sei, nem quero saber. Só sei que meu preço para procurar óculos de velha é R$ 3,00 — e em notas novas. Se quer, bem; se não quer...
— Quero, quero — respondeu dona Benta já meio danada. – E quero também que vá brincar e não me atormente mais.
Emília saiu a procurar os óculos por todos os cantos e dali a cinco minutos gritava:
— Achei, achei o fujão! — e veio correndo, a sacudir os óculos no ar.
Dona Benta abriu a boca, de espanto.
— Onde estavam, Emília?
— Dentro do bolso de sua saia de gorgorão amarelo. Dona Benta abriu ainda mais a boca. Não podia compreender aquilo. Havia muito tempo que não punha aquela saia; como, pois, os óculos tinham ido parar lá, e logo no bolso? Mistério...
— Agora passe-me para cá os três cruzeiros em notas novas. Promessa é dívida — como diz tia Nastácia.
Dona Benta não teve remédio. Foi ao baú, escolheu três notas novas e deu-as à boneca. Emília dobrou-as, bem dobradinhas, e foi correndo procurar o menino que já havia voltado da floresta.
— Pronto! Aqui está o dinheiro! Passe-me um tostão de troco.
Pedrinho arregalou os olhos, assombrado, e apalpou as notas para ver se eram verdadeiras. Depois tirou um tostão do bolso e deu-o à boneca.
— Não aceito tostão velho e feio — disse Emília torcendo o nariz. — Quero um novo, alumiando.
Pedrinho teve de procurar pela casa inteira um tostão novo e teve também de consertar uma das rodas do carro de carretel, que estava solta. Só depois disso é que Emília entregou o dinheiro.
— Para que quer tostão, Emília? Dinheiro de nada vale para quem é boneca.
— Quero para rodar — respondeu ela — e saiu, muito contente da vida, rodando o tostão pela sala.
Enquanto isso, dona Benta e tia Nastácia cochichavam na cozinha a respeito do estranho acontecimento.
— Foi cavorteiragem dela, sinhá! — dizia a preta. — Emília está ficando sabida demais. Juro que foi ela quem escondeu os seus óculos para apanhar os cobres. A gente vê cada coisa neste mundo! Uma bonequinha que eu mesma fiz, e de um pano tão ordinário, tapeando a gente desta maneira! Credo!...
––––––––––––––
Continua… Circo de Cavalinhos – III – O circo
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
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