sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Adonias Filho (O Largo da Palma) 1. A Moça dos Pãezinhos de Queijo)


Espaços:

Largo da Palma, Igreja e Ladeira da Palma (visão animista). Os encontros entre Gustavo e Célia são no Largo da Palma e no Jardim de Nazaré. A casa dos pãezinhos de queijo e a de Gustavo.

Foco narrativo e Tempo

A narrativa é em terceira pessoa, com um narrador onisciente. Conhece presente e passado dos personagens, os fatos e os sentimentos internos dos personagens diante dos fatos.

Percebemos como os aspectos psicológicos são tão intensos que torna extremamente subjetiva a percepção do mundo exterior.

Embora a narração dos fatos enfatize sempre os aspectos psicológicos, interiores, o decurso temporal é cronológico, com pequenos flashes de volta ao passado (por exemplo: a morte do pai de Célia, a doença da mãe de Gustavo).

A narrativa é bastante lírica, embora aqui e ali se percebam aspectos críticos como quando fala de Largo “sempre mal-iluminado que parece em penumbra” ou quando fala da postura capitalista do pai de Gustavo em sua “decepção de ter um filho, quando não inválido, praticamente inútil”

Linguagem

Linguagem concisa, períodos curtos, incisivos. A linguagem narrativa é intensamente lírica. O narrador explora os aspectos poéticos da linguagem. Presença constante de metáforas, símbolos, comparações.

Uso do Discurso Livre Indireto:

Falará com a mãe, à noite seguinte, pouco antes de sair para encontrar-se com o rapaz. E se a mãe perguntar quem é ele e o que faz, como responderá? Dir-lhe-á que não sabe sequer o nome porque não houve tempo para maior aproximação. Confessará, porém, o detalhe: “Ele é mudo”. Inútil discutir, procurar explicar, tentar justificar-se frente ao espanto da mãe. Sabe que ela não compreenderá, ninguém entenderá, o sobrado inteiro a dizer que tem um parafuso a menos. Uma doida, apenas uma doida se deixará seduzir e fascinar por um mudo.

Personagens

Há nos dois personagens protagonistas uma intercomplementaridade (carência, desejo, complementação no outro).

Joana - viúva de Roberto Militão.

Célia - protagonista, moça de dezoito anos, cabelos de carvão que chegam aos ombros, olhos também negros que combinam com a pele amorenada. Há quem afirme ser mais bonita que o canto do pássaro. Gustavo - protagonista, ele adora, com a música, os ruídos das ondas do mar, do vento nos coqueiros e os cantos dos pássaros. Falar, porém, não fala. Expressa-se com as mãos e o rosto. Responde escrevendo ou gesticulando, porque é mudo. A avó, mãe do pai, é a sua verdadeira mãe. Sua mãe desaparecera e a avó corta, enérgica, qualquer pergunta a esse respeito dizendo: é uma doente da cabeça.

Enredo

É no Largo da Palma, tão velho quanto Salvador, na esquina da ladeira que desce no caminho da Baixa dos Sapateiros, é precisamente aí que fica “A Casa dos Pãezinhos de Queijo”. Ali vive um bocado de povo, cobertas coloridas enfeitam as janelas, e a gritaria dos rádios sufoca os pregões dos vendedores de frutas da Bahia.

Joana faz os pãezinhos no andar de cima e Célia, sua filha, os vende na loja, embaixo, com a freguesia aumentando dia a dia. Todos comentam a delicadeza de quem os vende.

Gustavo escuta a voz de Célia pela primeira vez quando vai comprar pãezinhos de queijo para a avó. Nada permanece a não ser a voz que acabara de ouvir. Doce e macia, ao lado do riso alegre, a voz da moça é música melhor de ouvir-se, nas manhãs de domingo, que o próprio órgão da igreja.

No dia seguinte volta à "Casa dos Pãezinhos de Queijo". O que deseja, no íntimo, é retroceder. As pancadas do coração, porém, ordenam que prossiga. Mas prosseguir para quê? É um homem sem voz que, ao tentar falar, consegue apenas guinchar como um bicho.

Apoiando-se no balcão, escreve: "não sou surdo e, porque ouvi, sei que você se chama Célia." Célia, sentindo mais que percebendo, sabe que ele fora para declarar-se como um namorado. Permanece, pois, fascinada pelo rapaz que não fala e que de rosto faz lembrar um dos anjos da igreja.

Sabe que não esquecerá jamais, com os cabelos negros e os olhos cor de avelã, o rosto do rapaz que reflete enorme amor de homem. Como entender o que acontece? Homem ele já é com o peito largo e forte que é quase um lutador. Alto e belo como uma árvore. E por que – Senhora Santa da Palma – e por que é mudo? Nasceu assim? Houve um acidente? Doença? Uma doida, apenas uma doida se deixaria seduzir e fascinar por um mudo!

O pai de Gustavo não ocultava a decepção de ter um filho, quando não inválido, praticamente inútil. Os médicos não admitiam a cura. Que moça, afinal, o aceitaria como namorado? Ou seria uma criatura extraordinária e incomum ou apenas uma vigarista que, sabendo-o rico, a ele se chegava por causa do dinheiro.

Ele tem medo. Medo de que ela escape qualquer dia por ele ser mudo e – ela escapando – sentir-se novamente desesperado e só.

O milagre

- Não quero que você escreva mais! Quero que você fale!

Gustavo ouve e sente que o amor e o beijo de Célia podem gerar o milagre. (...) As bocas se afastam, as mãos mais se apertam, as lágrimas nos olhos que parecem sangrar. Tudo, agora, é nele angústia e dor. (...) é como num parto, a voz está nascendo. (...) E ele a rir e a chorar ao mesmo tempo, exclama, em tom ainda fraco, mas exclama:

- Amor!

Fonte:
www.integralweb.com.br

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