quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Contos e Lendas do Mundo (A Última Folhinha Verde)


Há muito tempo atrás, no Hemisfério Norte, havia um rei que estava de cama, muito doente ... morrendo lentamente.

Porém, mais forte do que a doença que lhe consumia, era o profundo desânimo que lhe tocava a alma. O rei havia desistido de viver.

Sua filha vinha vê-lo todos os dias e tentava animá-lo, relembrando dos bons momentos da vida.

Mas em vão, ela não reagia. O rei havia desistido e viver.

Passava os dias inteiros na cama, olhando para a janela à sua frente e observando uma grande árvore que ia lentamente perdendo suas folhas, porque o outono havia chegado.

Em uma manhã, quando a filha tentava animá-lo, o rei lhe disse:

- Sabe, filha, quando aquela árvore perder a última de suas folhas, terá chegado a minha hora de morrer...

- Que é isso pai? Que tolice! Por que amarrar o seu destino ao destino de uma árvore?

Mas o rei não a ouviu, tão absorto estava em sua melancolia.

A filha então compreendeu que existem momentos em que as palavras ficam muito pobres e não dão mais conta de acender uma luzinha no coração das pessoas.

Resolveu agir.

Assim que o pai adormeceu, a moça entrou no quarto com um pincel e um potinho de tinta verde. Subiu em um banquinho e pintou no vidro da janela, bem na direção da árvore que seu pai olhava, uma folhinha verde.

À medida em que o outono ia avançando e o inverno tomava seu lugar, as folhas da árvore desprenderam-se todas e saíram dançando ao vento...

O rei observava cuidadosamente todos os seus movimentos.

Observava, especialmente, uma certa folhinha verde muito teimosa e persistente, que não se movia do lugar e ficava agarrada a árvore, não importava o quão forte fosse o vento, quão inclemente fosse a chuva.

Até que a neve chegou e cobriu a árvore com um manto branco.

Mas, de sua cama, o rei havia atado o fio da vida àquela folhinha verde e continuava olhando-a fixamente.

E foi assim, agarrando-se à folhinha verde que o rei atravessou o inverno de sua doença e o inverno de sua alma.

Então, quando a primavera chegou e muitas novas folhinhas cobriam a árvore e aquela pequena folha verde ficou perdida entre tantas outras, o rei encontrou seu ânimo, sua vontade de viver e ficou de pé. Voltou à vida.

Mais tarde, enquanto limpava a folhinha pintada na janela a filha pensou:

- Espero que, algum dia, se o desânimo tomar conta do meu ser, alguém consiga oferecer uma folhinha verde, para que eu possa receber, através dela, a seiva da vida.

Fonte:
Conto reescrito por Rosângela Alves, do original de Magali Bonniol. La fille de l’arbre. Paris, L’école des loisirs, 2002. Disponível em Contar e Encantar.

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