sábado, 30 de janeiro de 2021

A. A. de Assis (Era um tempo e tanto) Parte 3, final

47.
Menino de sete
versus menino de oitenta.
Jogo de botão.

48.
Olhar de criança.
Tendo à frente dois sabugos,
dois boizinhos vê.

49.
A primeira volta
na primeira bicicleta.
Esquecer quem há-de?

50.
A prece das seis.
Cantavam em coro as aves
as Ave-Marias.

51.
Um quintal eu tinha
que tinha abacate e pinha.
Tinha passarinhos.

52.
Tuka, Puã, Xuê.
Difícil mesmo era achar
um sem apelido.

53.
Ventinho legal.
Vamos pra beira do rio
soltar papagaio.

54.
Tinha a escrivaninha,
tinha uma pena e o tinteiro.
Tinha um escritor.

55.
Ah, os velhos mestres.
Cabelos bancos, ou sem-los,
que bonitos são.

56.
Gira o mundo, gira.
Desde a primeira girada,
quanto sonho em mira.

57.
O sonho dos sonhos.
O baile das debutantes
num salão dourado.

58.
Que bom que deixaram
seus sorrisos para os netos.
Álbum de família.

59.
Noite de retreta.
A bandinha no coreto
e os casais sonhando.

60.
Festa no vagão.
Hora de abrir o farnel
para o frango assado.

61.
Foi progresso ou não?
Meu vô trocou a espingarda
por um violão.

62.
Quatro e quatro... oito,
café com leite e biscoito.
Lembra a tabuada?

63.
Aula de latim.
Ego mei mihi me me,
sui sibi se se.*

64.
Teste de audição.
Canta ao longe um pintassilgo
e eu escuto, oba.

65.
Cada mês que passa
vai passando a ser passado.
Um a um, que pena...

66.
Quantas vezes, ah,
eu vi o pião rodar.
E os anos também.

67.
Quais os rios, nós.
Há pedras, mas também flores,
da nascente à foz.

68.
A esperança é infinda.
Os galos cantam ainda
nos quintais vizinhos.

69.
Caminhar, cantar.
Ó ciranda, ó cirandinha,
vamos ser e andar.

70.
Grave em ouro e bronze:
haverá futuro, e bom.
Isaías, onze.
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*São pronomes pessoais da primeira e da terceira pessoa.

Fonte:
A. A. de Assis. Era um tempo e tanto. (triversos). Ed. Do Autor, 2021.
Ebook enviado pelo autor.

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