sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Estante de Livros (“A Ferro e Fogo”, de Josué Guimarães)


A saga da colonização alemã, particularizada na luta pela sobrevivência e na identificação com as condições históricas rio-grandenses por parte da família Schneider, lembra como processo narrativo O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Porém o sopro épico que anima as páginas do escritor de Cruz Alta é substituído por uma preocupação maior com o prosaico, com a mesquinha luta cotidiana, com a tarefa inglória de resistência em meio a uma terra estranha.

Local e época:

A narrativa se passa no Rio Grande do Sul [abrangendo as terra que hoje correspondem ao Chuí, Santa Vitória do Palmar, São Leopoldo, Porto Alegre, Rio Grande e Portão], no tempo do Império, num ambiente hostil, pobre e violento durante e após a guerra da Cisplatina, onde os personagens principais vivem em meio a bugres, negros, castelhanos, gaúchos, soldados e alemães.

Caracterização dos personagens:

Catarina - era uma mulher de rosto redondo e forte. Uma mulher decidida, batalhadora, humilde e mãe de três filhos. Apesar das dificuldades que passou, era solidária, carinhosa, cristã, corajosa e paciente. Ela era esperta, pois sabia lidar com os negócios, e trabalhadora. Não tinha preconceitos e tomava as iniciativas pois possuía uma personalidade forte.

Daniel Abrahão - era indeciso, covarde, queria preservar sua vida, não enfrentando as situações e acabou ficando alheio a tudo e obcecado pela religião. Era um homem sem iniciativa que acabou sendo comandado por sua mulher.

Grundling - era um homem perspicaz, ganancioso, preconceituoso, fazia de tudo para realizar os seus objetivos, gostava de ostentação, de mostrar sua riqueza. Ele apreciava beber e frequentar casas de prostituição. Embora gostasse muito da esposa com a qual teve dois filhos.

Resumo:

O governo brasileiro estava trazendo imigrantes da Alemanha para o Rio Grande do Sul, com a promessa de que eles receberiam terras, sementes, animais,... Dentre esses imigrantes estava a família de Daniel Abrahão Lauer Schneider, que se instalou na Real Feitoria de Linho Cânhamo [atual São Leopoldo]. Ele, sua mulher Catarina e seu filho Phillip viviam em condições miseráveis.

Daniel e um grupo de amigos se reuniam para beber e Grundling era quem pagava essas bebedeiras. Um dia, Grundling propôs um negócio para Abrahão, ele daria todas as condições para uma viagem ao sul do estado, forneceria um casal de escravos, um índio chamado Juanito e terras, mas Grundling não especificou qual era o negócio, disse apenas que iriam armazenar mercadorias. Daniel estava indeciso, quem optou por ir foi Catarina, pensando no futuro de seus filhos. Depois de alguns dias de viagem, chegaram ao local e começaram a realizar as reformas necessárias. Apareceu por lá Harwether, uma amigo das antigas bebedeiras, trazendo as mercadorias que deveriam ficar guardadas ali até Mayer ir buscá-las.

Já estavam há algum tempo no negócio, quando se iniciou a Guerra da Cisplatina, e Daniel descobriu que as mercadorias armazenadas por ele eram armas e os castelhanos já estavam desconfiados do contrabando. Certa vez, Juanito viu uma tropa aproximando-se, avisou Catarina que ordenou a Daniel que se escondesse em um poço e ela mentiu para os soldados castelhanos que o marido não estava. Eles descobriram as armas e as levaram. O movimento de soldados era contínuo, não só de castelhanos com também de brasileiros, por isso Daniel permaneceu vários meses no poço que ate já estava mais estruturado. Catarina foi violentada por soldados e Juanito ficou coxo por causa das surras. Mayer mentiu em São Leopoldo que Daniel contrabandeava armas para os castelhanos, por isso os soldados brasileiros também estava atrás de Daniel.

Enquanto os Schneider passavam dificuldades, Grundling e seu amigo Major Schaeffer, amigo da Imperatriz Leopoldina, se divertiam com bebedeiras e prostitutas. Grundling, a pedido do doutor Hillebrand, decide ajudar uma moça deixada por bugres na cidade. Com o passar do tempo ele se apaixona pela moça chamada Sofia, casa com ela e tem filhos.

Aparece na estância dos Schneider um soldado chamado Ostereich, um alemão convocado para lutar na guerra, informa Catarina sobre o fim da guerra da Cisplatina e que ele voltava para São Leopoldo. Catarina menciona o desejo de deixar aquelas terras e ir para São Leopoldo. Então eles entram em um acordo, ela trocaria as terras pelas propriedades de Ostereich.

Os Schneider foram para lá e Catarina decidiu que Daniel voltaria a exercer sua profissão de origem, a de seleiro. Além disso, abriu vários empórios, e já estava fazendo concorrência aos empórios de Grundling. Daniel ficou traumatizado com a guerra e constrói um alçapão para permanecer durante a noite.

Grundling descobriu que Catarina estava na cidade e foi falar com ela. Foi recebido hostilmente com uma arma empunhada por ela, sendo inviável a comunicação ele retornou para casa. Enquanto isso, havia uma conspiração por parte dos alemães que reclamavam da demora na entrega das terras prometidas, houve algumas mortes de alemães o que aumentava ainda mais a revolta.

Grundling não permitia que a esposa saísse às ruas pois eram sujas e ele não gostaria que ela tomasse sol e queimasse sua pele branca. Sofia acabou ficando anêmica e morreu. Catarina resolve ir acertar as contas com Grundling, em quem ela colocava toda a culpa pelas desgraças que aconteceram em sua vida. Quando chega ao local, Grundling pensa que ela vem em solidariedade por causa da morte da esposa. Ao olhar a profunda tristeza que invade Grundling, ela desiste do seu objetivo [matar], esquece seu velho ódio e segue junto a ele o cortejo, contendo o choro.

Fonte:
Algo Sobre.

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