Cristina Katz Norton nasceu a 28 de Fevereiro de 1948, em Buenos Aires, Argentina. Reside há mais de 30 anos em Portugal e optou pela nacionalidade portuguesa. A sua obra engloba a poesia, o romance e o conto, da qual destacam-se os livros O Afinador de Pianos, O Lázaro do Porto, Os Mecanismos da Escrita Criativa, O Segredo da Bastarda, A Casa do Sal e agora O Guardião de Livros.
Confeccionado em papel pólen, com uma capa belíssima e letras douradas no título, o livro é realmente muito bonito. Mas, acontece que O Guardião de Livros é mais que apenas uma capa bonita.
A forma de narrativa de Cristina Norton é completamente envolvente; ela utiliza construções de frases, fazendo inversões na estrutura das frases, dando seguimento em outras, mas depois ali residia o estilo da autora, sua marca. Além disso, ela consegue escrever passagens extremamente tristes, até mesmo cruéis, para, em seguida, trazer um toque sempre ácido, deliciosamente irônico.
O pano de fundo da história é a vinda da família real para terras brasileiras, enquanto Napoleão invadia países da Europa. O personagem principal é Luis Joaquim Marrocos, um jovem português que trabalha na Real Biblioteca Nacional de Portugal, seguindo os passos de seu pai, um homem cuja vida foi devotada aos livros. O jovem levava uma vida pacata, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, até o dia em que foi designado para acompanhar caixotes de livros enviados para o Brasil.
O ritmo da narrativa é bem dinâmico, com narradores que se revezam: Marrocos, A Escrava, O escravo, narrador oculto e onisciente, a esposa de Marrocos. Os capítulos são curtos; em alguns deles Marrocos narra as sua impressões, seja de sua vida em Portugal, os arranjos para sua vinda ao Brasil, até as impressões sobre a vida na colônia. Vale destacar a narrativa sensível, mas também debochada, crua, do choque cultural vivido pelo personagem. Acompanhamos as relações entre Marrocos e sua família através das cartas transcritas – um recurso muito interessante e que dá mais tempero à história, suas relações com os brasileiros, a relação consigo mesmo (e aqui vemos a evolução do personagem e sua busca por pertencer, de fato, a algum lugar). Há também capítulo intitulados “Crônicas da Corte”, sobre os quais a autora nos deixa em suspenso, questionando o fundo de verdade naqueles textos.
O Guardião de livros é uma espécie de homenagem aos amantes de livros. Já no título isso fica claro e, depois, na descrição de Marrocos, em várias passagens de sua vida, fica clara a sua devoção à leitura e ao objeto livro, em si, inclusive com críticas àqueles que não partilhavam da sua paixão (discordo nesse ponto porque acho que cada um ama o que quiser e puder!).
Esse livro tem histórias bem contadas, costuradas, envolventes e, para isso, é fundamental ter bons personagens.. Marrocos é um homem comum e, ao mesmo tempo, um homem cheio de facetas, nuances; ao longo da história conhecemos vários Marrocos, vemos sua evolução, acompanhamos seus conflitos, seu questionamentos. Não é um personagem carismático no sentido de que você vai se encantar de cara e torcer por ele, mas no sentido de que ele vai lhe cativando página a página. À medida que se lê, sente-se raiva, indignação, escárnio, pena, compaixão, simpatia. Possui uma hiponcondria desenfreada, e, do ponto de vista da psicologia, é excelente as descrições de seu comportamento; chora-se com seu sofrimento, pelos mais diversos motivos.
No capítulo A Escrava, o primeiro capítulo, foi ali que acontece a mágica – o livro pega pela mão e não solta. Como se não bastasse, Cristina Norton ainda coloca epígrafes de Jorge Luis Borges e Mia Couto! O guardião de livros é mais que recomendado. É, sem dúvidas, uma das melhores leituras do ano.
Fonte:
Blog da Nayara
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