(de um conto japonês)
Duas rãs, muito curiosas,
dois potes tendo encontrado,
jogaram-se dentro deles,
num gesto brusco, impensado...
Mas logo se arrependeram
ao verem os potes cheios..,
Queriam se libertar
porém não achavam meios!
De um pote, dizia uma,
desesperada da vida:
"É melhor logo morrer,
pois já me sinto perdida!"
E assim falando assim fez,
não demorou um segundo!
Despediu-se comovida,
e sem lutar foi ao fundo...
Pos-se a segunda a bater,
pela noite toda afora!
Sem qualquer ajuda ter,
não desesperava embora!
... Num pote cheio de leite,
acharam de madrugada,
uma rã bem lá no fundo,
imóvel, morta, gelada...
E noutro pote, bem perto,
clara manteiga se via,
e em cima dela, cansada,
outra rã, feliz, dormia...
Não serve só esta história
apenas para criança...
— Imitai sempre esta rã,
que lutou sem esperança…
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PURIFICAÇÃO
(Dos "Versos Áureos" de Pitágoras)
Sê bom, sincero e firme de vontade.
Escuta os bons conselhos, com carinho.
Sê forte, casto e justo. Ama a Verdade
Procura sempre o reto e bom Caminho.
Destrói toda Paixão que torpe, invade
teu peito, e nele quer fazer seu ninho...
Lembra-te sempre que a Felicidade
é flor... E que também possui espinho.
Cala (tem fé!) se o Erro prevalece,
suporta tua Dor com toda calma
e o Mal que te fizeram sempre esquece!
Os olhos fecha a toda prevenção.
Tal como ao corpo nutra bem tua alma
e atingirás a Purificação!
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RECORDAÇÕES SOMBRIAS
Não sei porque, tão só, neste momento,
vendo a Tarde, que aos poucos, vai morrendo,
percorrem um a um, meu pensamento,
os quadros de um Passado tão horrendo.
Lembrando com terror este Passado,
em que a vida era presa por um fio,
recordando esta fase, amargurado,
o meu corpo ainda sente um calafrio...
Oh! as noites de Dor em que eu passava,
à meia luz, imóvel, recostado,
temendo o próprio ar que respirava,
escutando o relógio compassado...
Oh! as tardes tão longas e sombrias,
mergulhado no Tédio e na Tristeza!
Oh! as horas compridas e tão frias,
de silêncio, desânimo, incerteza!
Agora, do Passado, já distante,
julgo ter sido incrível pesadelo,
mas tão claro ainda e horripilante,
que sinto medo e horror ao descrevê-lo...
Só quem um dia teve a sua Sorte,
violenta e bruscamente interrompida,
só quem um dia viu de perto a Morte,
dará valor intensamente a Vida!
Por isso, com os olhos rasos d'água,
lembrando, com mais calma, o meu sofrer,
a Deus bendigo toda minha mágoa
e agradeço esta graça de viver!
Fonte:
Luiz Otávio. Um coração em ternura…: poesias.
RJ: Irmãos Pongetti, 1947.
Luiz Otávio. Um coração em ternura…: poesias.
RJ: Irmãos Pongetti, 1947.
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