quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Andrey do Amaral (O Homem atrás do escritor, O Escritor atrás do homem)


Visando um meio de aproximar o público do escritor ou escritora, de modo a que não enxerguem apenas assim, mas o homem ou mulher que existe atrás dos livros, estou iniciando hoje entrevistas selecionadas, enviadas a diversos escritores/as, que mostrará ao público leitor que atrás de seus livros, é um ser humano com sentimentos, opiniões, lutas, vitórias e derrotas.

O homem atrás do escritor, o escritor atrás do homem.
A mulher atrás da escritora, a escritora atrás da mulher.

São perguntas que abrange basicamente a literatura, não havendo envolvimento político, futebolistico, e qualquer outro ico, um pouco mais extensas que as normais, para dar uma visão mais geral do escritor desde sua infância até os projetos futuros, passando por dicas aos novos escritores, questionamentos sobre literatura, etc., divididos em tópicos para uma melhor orientação do leitor.

Nessa primeira série, o Singrando Horizontes entrevista o escritor, professor e agente literário Andrey do Amaral, 33, do Distrito Federal.

Andrey do Amaral (1976) é graduado em Letras, com especialização em Língua Portuguesa e em Gestão Cultural. Teve seus livros publicados pelas editoras Best Seller, Autodidata, Ao Livro Técnico e Ciência Moderna. Dedica-se à pesquisa da vida/obra do poeta paraibano Augusto dos Anjos e ao estudo de direitos autorais. É professor de literatura brasileira e agente literário filiado à Câmara Brasileira do Livro (CBL/SP). Dá consultoria a autores, principalmente aos novos que pretendem entrar no mercado editorial. Entre outros, são seus autores agenciados Moacir C Lopes (A Ostra e o Vento), Marcos Kleine e Roger (Ultraje a Rigor), Carlos Maltz (ex-Engenheiros do Hawaii).

INFÂNCIA E PRIMEIRAS LEITURAS

• Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.

Nasci, cresci e vivo na Capital Federal. Como aqui há muito militar e professor, o ensino em Brasília se destaca um pouco em relação aos outros Estados. Mesmo no sistema público, a qualidade era bem parecida com as escolas particulares. Lembro-me que haviam muitos projetos literários na escola. O incentivo à leitura era grande. Assim, os alunos tomavam gosto pelos livros.

• Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Meus pais são leitores, e acredito que isso me ajudou. Foi um espelho que tive. Dizem que criança copia. Eu copiei o hábito de leitura dos meus pais.

• Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever.

Na sexta série, me lembro de uns livros de contos e crônicas divertidas, dos melhores autores da nossa literatura, com o Drummond e Fernando Sabino. Os alunos gostavam muito. Nossa alegria era fazer teatrinho dos contos. Na oitava série, lemos Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quando a professora nos disse que era um morto que escreveu aquelas memórias fiquei bastante curioso. Achei o livro difícil, mas o entendi no todo.

ANDREY DO AMARAL, ESCRITOR

• Fale um pouco sobre sua trajetória literária. Como começou a vida de escritor?

Quando entregava meus textos para os professores de redação, era sempre um problema. Ou eles me elogiavam na frente de todos os outros alunos (e eu morria de vergonha) ou não acreditavam que eu tivesse escrito. Alguns me perguntavam se tinha sido minha mãe que escrevera as redações. Eu negava, mas alguns ainda duvidavam.

• Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Parece que escrever é uma necessidade para quem lê, independentemente se vai publicar ou não. Como sempre lia as crônicas de humor na escola, escrevi uma proposta de livro para uma editora paulista. Em 1999, publicamos Como Enlouquecer Sua Sogra. O livro foi um sucesso e vende até hoje.

• Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?

Acho que todo autor tem que se profissionalizar e tratar sua carreira como se fosse uma empresa, e seus livros como produtos comerciais. Quem não tem dinheiro para fazer um site, que faça um blog ou similares, mas o autor deve estar na rede. Minha página é http://www.andreydoamaral.com/

• Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Poucos são os autores hoje que vivem de literatura. Nosso consumo ainda é baixo se compararmos a autores americanos, por exemplo.

LIVROS E PRÊMIOS

• Quais foram os livros escritos pelo senhor?

Mercado Editorial – Guia para Autores (2009)
Novo (e Divertido) Acordo Ortográfico (2009)
O Máximo e as Máximas de Machado de Assis (2008)
Cuidado eu te amo – Desautoajuda do Amor (2002)
Como Enlouquecer Sua Sogra (1999)

• Dentre os livros escritos pelo senhor, qual te chamou mais atenção? E por quê?

Estou no mercado desde 1999 como autor. Meus livros foram todos publicados por editoras comerciais e todos, graças a Deus, tiveram ótima vendagem. Em 2009, lançamos o livro Mercado Editorial – Guia para Autores, relatando um pouco o nosso trabalho como agente literário e a maneira correta de o escritor enviar seu original para as editoras. Esse trabalho é um agradecimento por tudo aquilo que conquistei com o livro.

• Que acha de sua obra?

Minha obra é eclética. Escrevo humor e ensaio. Também tenho contos e desenvolvo um romance sobre a vida do poeta paraibano Augusto dos Anjos. Na hora certa publicarei ficção.

• Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

• A internet é uma excelente forma de divulgação. Encurta distâncias. Encontramos novos leitores e os leitores nos encontram. Os autores devem aprender a usar mais a internet a favor de suas obras.

• Tem prêmios literários?

Prêmio Biblioteca Nacional (2002) por meu ensaio sobre Augusto dos Anjos e o Pontos de Leitura (2008) pelo Ministério da Cultura, entre outros mais regionais.

CRIAÇÃO LITERÁRIA

• Você projeta os seus livros? Como é que você os concebe?

Seja para mim ou para meus autores agenciados, eu penso no livro como um produto que tem que dar lucro, sem perder a qualidade. E qualidade não é só aquele romance profundo e psicológico. Há qualidade em livros de humor, livros engraçados.

• Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

Acredito na vocação. Não sou muito fã de escolas para escritores. De qualquer forma, exercício ajuda sim a melhorar o texto.

• Como surge o momento de escrever um livro?

Penso num projeto e depois desenvolvo cada parte desse projeto. Ofereço o projeto às editoras, vislumbrando o lucro que aquela obra pode dar, além do interesse que o leitor terá com o livro.

• Quanto tempo você leva escrevendo um livro?

Não penso no tempo. Penso que o livro deve estar simplesmente pronto quando tem que estar. Já terminei livros com seis meses e ainda não terminei meu ensaio-biográfico sobre Augusto dos Anjos, o qual está me tomando anos (anos prazerosos).

• No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

O que é porcaria? Há críticos que já julgaram de “porcaria” livros de Machado de Assis, de Júlio Ribeiro. Por isso, é que eu penso que o escritor deve ter uma intimidade muito grande com seu texto, e não ter pressa para publicar. Já chamaram meu livro Cuidado Eu Te Amo de porcaria, mas o público-alvo dele adora. Escrevi o Cuidado Eu Te Amo para adolescentes. É claro que se um doutor em literatura começar a ler este livro não vai gostar. São públicos diferentes.

O ESCRITOR E A LITERATURA

• Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?

É por isso que eu digo que o autor deve tratar o seu trabalho como se fosse uma empresa, detalhando o público-alvo e as estratégias de venda. Imagine montar uma loja de sapatos finos num bairro onde ainda não há pavimentação. Quem vai querer sujar os sapatos novos na lama? Ninguém. O escritor deve focar sua obra no público-alvo. Até hoje tem romancista que envia seu original para editora que só publica livro técnico! O autor deve pensar para se tornar conhecido, ou relativamente conhecido. Quem quer fama vai para o Big Brother; quem quer ser conhecido pelos seus leitores que foque no seu público-alvo.

• Na sua opinião, que livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

Quando eu dava aula de literatura, discutia muito esse termo com meus colegas professores. A leitura não pode ser obrigatória, deve ser sugerida. Obrigatório de ser o empenho estatal em dar condições aos professores para que desenvolvam bons projetos de leitura em sala de aula.

• Qual o papel do escritor na sociedade?

Entretenimento e informação. Provocar reflexão nas pessoas, ajudar a pensar, provocar riso, emocionar. Quem lê o romance Maria de Cada Porto, de Moacir C. Lopes não tem como não chorar. Quem não se emociona com o Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa?

• Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Só a poesia é que nos alivia desse mundo cruel. Eu amo os poetas.

A PESSOA POR TRÁS DO ESCRITOR

• O que choca o senhor hoje em dia?

Como ser humano está cada vez mais violento. Só a poesia salva!

• 14) O que o senhor lê hoje?

• Como faço agenciamento literário, leio de tudo: romance, conto, poesia, crônica, livros técnicos... Particularmente, gosto de uma boa história. Sempre releio os clássicos realistas e naturalistas.

• Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Quero fazer alguma coisa em comunidades carentes ou cujo acesso ao livro ainda seja difícil.

CONSELHOS AO ESCRITOR

• Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

De tanto me perguntarem isso escrevi o Mercado Editorial – Guia para Autores. Os melhores conselhos estão lá, inclusive com os contatos dos melhores agentes literários do mundo.

• O que é preciso para ser um bom escritor?

O bom romancista deve ler muitos e muitos romances. O cronista deve ler muitas e muitas crônicas. O poeta deve sempre ler poesia. O autor técnico deve esgotar a leitura em todas as obras do seu ramo. É isso. A leitura é que faz um bom autor.


E para encerrar a entrevista

Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?

1) Que as pessoas já nascessem com a vontade de ler;
2) Que houvesse mais livrarias nas ruas e
3) Que os livros tivessem um custo menos para que todos lessem.

Fonte:
Entrevista Virtual realizada por José Feldman, para o Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes.

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