sábado, 1 de novembro de 2008

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense - Parte XII)



9 – ANTOLOGIAS E PERIÓDICOS LITERÁRIOS NO CEARÁ

As primeiras antologias de contos apareceram, no Ceará, muito depois do surgimento de jornais e revistas voltados para a divulgação da literatura cearense.

A primeira delas é Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza, 1965). A única mencionada na bibliografia sumária de A Literatura Cearense, de Sânzio de Azevedo, de 1976. Com um estudo de Braga Montenegro, intitulado "Evolução e Natureza do Conto Cearense", apresenta obras de Artur Eduardo Benevides, Braga Montenegro, Eduardo Campos, Fran Martins, João Clímaco Bezerra, José Maia, Juarez Barroso, Lúcia Fernandes Martins, Margarida Sabóia de Carvalho, Milton Dias, Moreira Campos e Sinval Sá.

10 Contistas Cearenses – Antologia (Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, Fortaleza, 1981) é resultado do "Concurso Livreiro Edésio", promovido pela Livraria Edésio e pela Secretaria de Cultura. Seguindo a ordem de classificação no concurso, o livro traz peças de Airton Monte, Nilto Maciel, Alberto Santiago Galeno, Nilze Costa e Silva, César Barros Leal, Waldy Sombra, Fernando Câncio Araújo, Maria Ilma de Lira, Valdemir de Castro Pacheco e Maria Amélia Barros Leal. A apresentação é de F. S. Nascimento, um dos ajuizadores do concurso.

Antologia do Conto Cearense (Edições Tukano, Fortaleza, CE, 1990) foi organizada por Mary Ann Leitão Karan. Embora tenha pouco mais de cem páginas, inclui principiantes ao lado de consagrados, num total de 15 participantes, deixando de lado contistas com livros publicados, até mesmo por grandes editoras, além de serem verbetes em enciclopédias de Literatura Brasileira.

O Talento Cearense em Contos (Editora Maltese, São Paulo, SP, 1996) é obra de Joyce Cavalcante, como organizadora. Com mais de 200 páginas, incluiu 31 contistas. E também esqueceu alguns nomes importantes do conto cearense, como Airton Monte, Caio Porfírio Carneiro, Francisco Sobreira e Nilto Maciel.

Há também antologias mais abrangentes, isto é, que apresentam contos, crônicas e capítulos de romances ao lado de poemas. Em "A Literatura Cearense e a Cultura das Antologias" (FM, págs. 119/134), Batista de Lima relaciona e comenta, uma a uma, as antologias literárias publicadas no Ceará. Segundo ele, a primeira dessas coletâneas a apresentar prosa de ficção, ao lado de versos, se trata de Os Novos do Ceará, no primeiro centenário da independência do Brasil, editada em 1922 e organizada por Aldo Prado. Informa ainda: "Quanto aos textos em prosa, há dos mais variados tipos: são contos, pequenos ensaios e algumas crônicas com tom doutrinário".

A quinta antologia da Literatura Cearense – informa Batista de Lima – é a segunda a apresentar prosa e verso. Editada em 1957, Antologia Cearense, organizada pela Academia Cearense de Letras, mostra 102 escritores dos séculos 19 e XX.

Em 1966 foi divulgada Terra da Luz, dividida em duas partes: "Poetas Cearenses" e "Prosadores do Ceará". Em 1998 o Diário do Nordeste patrocinou a segunda edição, atualizada, a cargo de Carlos d’Alge, desta feita subdividida em dois volumes. Um deles traz o subtítulo Prosadores e vai de José de Alencar a Paulo Bonavides. No entanto, muitos dos contistas aparecem com capítulos de romances. Contos mesmo, ou trechos de contos, somente de Herman Lima, João Jacques, Fran Martins, Moreira Campos e Eduardo Campos.

Em 1976 Sânzio de Azevedo apresentou a volumosa obra intitulada Literatura Cearense, "a mais completa das nossas antologias", na opinião de Batista de Lima.

Outro exemplo desse tipo de antologia é Letras ao Sol – Antologia da Literatura Cearense. Organizada por Oswald Barroso e Alexandre Barbalho, publicou-se em 1996, com selo da Editora Maltese, de São Paulo, e apoio da Fundação Demócrito Rocha, do Ceará. Contos e trechos de contos somente de Oliveira Paiva, Herman Lima, Moreira Campos, Juarez Barroso, Airton Monte e Gilmar de Carvalho.

Há, ainda, antologias resultantes de concursos literários, muitas delas compostas de contos e poemas. Por sua imensa variedade e terem sido mencionadas no decorrer do ensaio, não serão relacionadas neste capítulo.

Os periódicos, no século 19 e princípios do XX, nem sempre estiveram relacionados a grupos ou movimentos literários. Dolor Barreira afirma: "As revistas e jornais exclusivamente ou em parte literários surgem todos os anos, copiosamente, sendo de notar-se que entre 1850 e 1932 o Barão de Studart catalogou duzentos e vinte e quatro deles".

Uma das mais citadas em estudos é a revista A Quinzena, do Clube Literário, que circulou de janeiro de 1887 a junho de 1888, perfazendo 30 números. Em suas páginas estamparam-se contos de Oliveira Paiva, Francisca Clotilde, José Carlos Ribeiro Júnior, poemas de Juvenal Galeno, colaborações literárias de outros membros do Clube e convidados, como o contista catarinense Virgilio Varzea. Como o nome indica, o jornal circulava quinzenalmente e era vendido por assinatura e nas ruas.

Outros importantes órgãos da imprensa literária da época foram O Domingo, Revista Contemporânea, Ceará e A Avenida. O primeiro apareceu em 1888 e nele se publicaram contos cearenses e também de outros Estados.

Na reflexão de Dolor Barreira, "quem estuda as letras do Ceará, sem ânimo prevenido, nos anos que medeiam entre 1890 e 1900, não pode deixar de ocupar-se, algum pouco, com a Revista Moderna", fundada em 1891, publicada mensalmente e dirigida por Adolfo Caminha. No capítulo seguinte de sua portentosa obra, o historiador lembra mais três periódicos daquele período: O Ceará Ilustrado, a Galeria Cearense e A Pena.

O jornal O Pão, da Padaria Espiritual, fundada em 1892, teve editado o primeiro número em 10 julho, com o anúncio de que seria publicado somente aos domingos, "não se acceitam assignaturas" e "não se acceita collaboração". Além de poemas, publicava contos, artigos etc. Lopes Filho assina o "conto popular" intitulado "O Dia Aziago" como Anatolio Gerval, no n.º. 2, enquanto Arthur Theophilo assina "A Morte da Avó", acrescentado do pseudônimo Lopo de Mendoza, no n.º. 7. O periódico teve duas vidas: A primeira editou seis números e a segunda se iniciou em 1895 e terminou em outubro de 1896.

O Centro Literário surgiu em 1894 e imprimiu a revista Iracema a partir do ano seguinte até 1896. A Academia Cearense, fundada em 1894, criou a Revista da Academia Cearense, que circulou até 1914. Dela surgiu a Academia Cearense de Letras. Outro periódico literário de relevância é Cipó de Fogo, de 1929, dirigido por João Jacques, como veículo de divulgação das idéias e obras do modernismo cearense. O Grupo Clã surgiu em 1943. A revista Clã teve editado o primeiro número em 1946.

Estes órgãos estão muito bem estudados em dicionários, enciclopédias e histórias da Literatura, razão pela qual se dará destaque, neste estudo, às revistas e jornais surgidos após o Grupo Clã.

Nota-se, ainda, a inexistência, no Ceará, de revistas dedicadas exclusivamente ao conto, à narrativa curta. Em outros países e mesmo no Brasil também elas não são muito freqüentes. No México, no século XX, a revista El Cuento chegou a ser divulgada no Brasil. No Rio de Janeiro a revista Ficção perdurou por algum tempo, no final dos anos 1970. Mensal, publicava contos de escritores brasileiros novos ou em plena atividade. Nos anos 1980 surgiu Ficções, da Editora Mercado Aberto, do Rio Grande do Sul, e em 1998 apareceu outra Ficções, no Rio de Janeiro (Editora Sette Letras). A explicação mais provável para que isto ocorresse e ocorra pode ser o pequeno número de contistas, em relação aos poetas e romancistas. Veja-se que ao tempo do Grupo Clã poucos foram os contistas mais fecundos. O mesmo se pode dizer em relação ao período seguinte, quando surgiu O Saco. Talvez apenas cerca de dez escritores se dedicassem ao conto. Só recentemente esse número aumentou, como se pode verificar quando se folheiam Seara e Espiral.

Vejam-se, em resumo, as principais revistas literárias surgidas no Ceará após 1970.

O Saco Cultural, idealizado e dirigido por Manoel Coelho Raposo, Jackson Sampaio, Carlos Emílio e Nilto Maciel, teve impresso o primeiro número em abril de 1976. O último saiu em fevereiro de 1977. Dividido em quatro cadernos, acondicionados em um saco de papel (a capa), num deles (Prosa) apresentou contos dos cearenses Airton Monte, Alcides Pinto, Antônio Girão Barroso, Barros Pinho, Carlos Emílio Correa Lima, Fernanda Gurgel do Amaral, Francisco Sobreira, Fran Martins, Gilmar de Carvalho, Hugo Barros, Jackson Sampaio, João Teixeira, José Domingos Alcântara, José Hélder de Souza, Joyce Cavalcante, Juarez Barroso, Marcondes Rosa, Moreira Campos, Nilto Maciel, Oliveira Paiva, Papi Júnior, Paulo Véras, Renato Saldanha, Roberto Aurélio e Yehudi Bezerra.

A história desta revista, bem como a análise de seus fundamentos ideológicos, o leitor poderá conhecer melhor no livro Cultura e Imprensa Alternativa, de Alexandre Barbalho.

Siriará – Uma Revista Literária foi o órgão do grupo do mesmo nome. O Grupo Siriará surgiu oficialmente em 1979, após a divulgação de um manifesto, datado de 14 de julho daquele ano. É desta data a publicação do n.º 1 (e único) de Siriará – Uma Revista Literária. Nele se estamparam, além de poemas e desenhos, contos de Carlos Emílio, Geraldo Markan, Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral, Nilto Maciel, Jackson Sampaio, Eugênio Leandro, Paulo Véras e Airton Monte.

Seara – Revista de Literatura surgiu em 1986, em Fortaleza, como órgão do Grupo Seara. O editorial do n.º 2 (1986) se refere ao surgimento do grupo, "um conjunto também heterogêneo: dez mulheres que fazem do exercício de linguagem escrita não um meio de extravasar seus anseios e frustrações íntimas, porém um vigoroso e assumido trabalho de criação artística". A partir do n.º 5 mudou o formato 15x21 para o 21x28, passando a ser editada em Brasília e tendo como Conselho Editorial Beatriz Alcântara, Marly Vasconcelos e Samira Abrahão. O último número, o sétimo, é de 1991, sob a coordenação geral de Beatriz. Divulgou contos das principais contistas cearenses do final do século XX, como Ângela Barros Leal, Beatriz Alcântara, Glícia Rodrigues, Inez Figueredo, Isa Magalhães, Joyce Cavalcante, Marisa Biasoli, Marly Vasconcelos, Mary Ann Leitão Karam, Nilze Costa e Silva e Regine Limaverde.

O Pão teve início em 1992 (o primeiro número é de 30 de maio) e durou alguns anos. O nome do jornal da Padaria Espiritual deu fama ao periódico do poeta Virgílio Maia. Nele se publicavam poemas, contos, artigos, desenhos.

Espiral - Revista Literária apareceu em 1995, sob a coordenação geral de Beatriz Alcântara, secundada por Dimas Macedo, Márcia Arbex, Marly Vasconcelos e Francisco Nóbrega. A proposta desta nova revista é mais abrangente, não mais se limitando a divulgar somente obras de escritoras. O primeiro número traz as seções intituladas poesia, conto, ensaio, homenagem, entrevista e livros. Os contos são das cearenses Inez Figueredo, Lena Ommundsen, Joyce Cavalcante, Erika Ommundsen Pessoa e Nilze Costa e Silva e de Nilto Maciel. No segundo número aparecem outras seções: crônica, glossário, memória, artigo e centenário. A revista passa a ter o subnome "Revista de Literatura". Expande-se o leque de colaboradores, agora de todo o Brasil. Os nomes do editor, coordenador geral e dos membros do conselho editorial foram se revezando ao longo das edições, a partir do n.º 2, com a incorporação de João Dummar Filho, como editor. O número 7 saiu em 2002.

Almanaque de Contos Cearenses, embora não tenha sido criado como revista, pode ser considerado a única revista cearense de contos. Um dos primeiros atos do grupo se deu quando, em janeiro de 1997, alguns escritores se reuniram sob as árvores do bosque do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará e, com a presença de Dona Zezé Moreira Campos e Natércia Campos, esposa e filha do contista Moreira Campos, batizaram o local de Bosque Moreira Campos. Participaram da solenidade os escritores Alano de Freitas, Alba Alves, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Caio Porfírio Carneiro, Dimas Carvalho, Dimas Macedo, Jorge Pieiro, Napoleão Souza Jr., Natércia Campos, Nilto Maciel, Paulo de Tarso Pardal, Pedro Rodrigues Salgueiro, Sânzio de Azevedo e Tércia Montenegro. Na ocasião foi lançada a idéia do Almanaque. Meses depois saiu a edição do n.º 1 da referida publicação, sob a direção de Elisangela Matos, Pedro Rodrigues Salgueiro e Tércia Montenegro. Dividido em duas partes, a primeira intitula-se "Arquivo/Memória" e visa "resgatar contos perdidos em periódicos ou não reeditados". Apresenta contos de Adolfo Caminha, Otávio Lobo, Moreira Campos e Juarez Barroso. A segunda – "Inéditos/Dispersos" – objetiva mostrar ao público contos de diversas gerações. É a vez dos contistas em atividade, desde os mais velhos aos mais novos: Eduardo Campos, José Alcides Pinto, Caio Porfírio Carneiro, Natércia Campos, Nilto Maciel, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Batista de Lima, Ronaldo Correia de Brito, Alano Freitas, Pardal, Carlos Emílio Corrêa Lima, Jorge Pieiro, Luís Marcus da Silva, Dimas Carvalho, Pedro Salgueiro, Napoleão Sousa Jr, Luciano Bonfim e Tércia Montenegro.

Literapia – Revista de Literatura da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores surgiu em julho de 1999, sob a direção do poeta Pedro Henrique Saraiva Leão. Apesar de se tratar de publicação de uma entidade de médicos, tem publicado poemas, contos, crônicas, artigos de escritores em geral.

Literatura – Revista do Escritor Brasileiro nasceu em Brasília (janeiro de 1992), por iniciativa de Nilto Maciel, e até o n.º 23, relativo ao segundo semestre de 2002, se imprimiu na Capital da República. A partir de então passou a se editar em Fortaleza. Traz entrevista, artigos e ensaios de literatura, poemas, contos etc.
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continua...final (síntese cronológica).
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Fonte:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=986

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