quarta-feira, 13 de julho de 2011

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje III)


Luxo e Lixo
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"

O pobre catando lixo
E o poder só no luxo;
A cambada nem se lixa
Só tem a ideia fixa
No seu salário que é farto
No seu abono que é fixo.
Usa um discurso que é falso
Fingindo ser boa gente
Enganando o pobre incauto,
Vira as costas pro indigente
Faz mau uso do erário
Fica rico de repente...

Só vive de mordomia
Cheio de facilidade;
Sua vida é só folia
Carnaval o ano inteiro,
Pois não lhe falta dinheiro
E mesmo com o rei deposto,
Vive de pura mamata
Enquanto o povo se mata
De tanto pagar imposto...

Mas um dia a casa cai
Isso não vai demorar
O povo não vai querer
Nem o pobre agüentar
Ficar segurando a vaca
Pra vagabundo mamar!

A um pintassilgo
Belmiro Braga

Por que vens tu cantar, ó passarinho,
por entre as folhas úmidas de orvalho,
no flóreo jasmineiro meu vizinho
E mesmo em frente à mesa onde trabalho?

Por que não vais vigiar teu fofo ninho
(Não te zangues comigo, eu não te ralho)
a baloiçar à margem do caminho,
qual rosa escura num recurvo galho?

Tu tens em que cuidar; por isso, voa
e deixa-me sozinho... Esse teu canto,
embora sendo alegre, me magoa...

Não te demoras, vai! Deixa-me agora,
que o teu gorjeio me faz mal, porquanto
nunca se canta ao lado de quem chora...

Pedido
Sônia Maria Grillo/ES

Venha quando quiser,
mas venha,
venha se puder ou se der,
mas não deixe de vir...
Grite, solte-se, escreva, ligue,
o som da sua voz, quero ouvir,
dê notícias suas,
não suma, não se desligue de mim
e das minhas esperanças nuas...
Fale-me de você
sobre seus caminhos,
suas andanças pelas ruas,
pelas luas, pelas estrelas, pelo ninhos...
Não se esqueça,
sobra espaço na minha vida sim?
Sobra espaço também no meu coração
então, por favor não desapareça,
não se perca de mim!

14.05.2009
Vitória-ES

Renúncia
Manuel Bandeira
1886 / 1968

Chora de manso e no íntimo... procura
Tentar curtir sem queixa o mal que te crucia :
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia .
Então ela será tua alegria,
E será ela só tua ventura...

A vida é vã como a sombra que passa
Sofre sereno e de alma sombranceira
Sem um grito sequer tua desgraça.

Encerra em ti tua tristeza inteira
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira.

Rugas
Maria Nascimento Santos Carvalho/RJ

Há nas rugas precoces do meu rosto
sensível nitidez do sofrimento
de não poder falar do meu desgosto,
e de ter que esconder meu sentimento.
Estas rugas são marcas de um sol posto
relegado a tristeza, a esquecimento...
São vincos de um passado em mim exposto
para externar as marcas de um tormento.

Sempre há uma história triste em cada ruga :
um desencontro... as mágoas de uma fuga
ou mesmo a dor de um - Não - que alguém nos disse...

Mas, seja por qualquer razão que for,
as rugas feitas pelo desamor
ferem mais do que as rugas da velhice...

Na tasca
Raimundo Correa
1859 / 1911

Dentro, na esconsa mesa onde fervia
Fulvo enxame de moscas sussurrantes
Num raio escasso e tremulo do dia
Espanejando as azas faiscantes.
Vi-o; bêbado estava e, inebriantes
E capitosos vinhos mais bebia,
Em tédio, como os fartos ruminantes
A boca larga e estúpida movia.

Eu pensativo, eu pálido, eu descrente,
Aproximei-me do ébrio, com tristeza,
Sem ele quase o pressentir sequer,

E vi seu dedo, aos poucos, lentamente
No vinho esparso que ensopava a mesa
Ir escrevendo um nome de mulher.

No colo da poesia
Zena Maciel - Recife/PE

Brinco no colo da poesia
Excito-me com as letras em euforia
rodopio com as fantasias
faço uma seresta no coração

Engravido as palavras de sonhos
Bebo rimas risonhas
Vôo nas asas de um poema
de um pássaro sedutor

Acordo nos braços do paraíso
com a boca cheia de sorrisos
sedenta de lirismo
de um soneto encantador

Bato palmas para as loucuras
Visto-me com as diabruras
do irresistível verbo amar
Ponho-me a sonhar!

Sonho que sou a primavera
Imantada de carnívoras flores
com o néctar de doces quimeras
e uma alma bordada de paixão!

O Beijo
Bastos Tigre
1882 / 1957

A namorada do Mário,
Lia - um anjo de inocência,
Para um caso de consciência
Vai consultar o vigário.

E, a face rubra de pejo,
Lhe pergunta se é pecado
Dar um beijo ao namorado,
Ou dele levar um beijo.

Diz o padre: - Um beijo apenas
É pecado, dos veniais,
Mas sendo dois, três ou mais
Merecem do inferno as penas.

Lia está de causar dó!
Pavor do inferno, bem vejo,
Ela bem sabe que o beijo
Não se dá nem leva um só...

Fonte:
Textos enviados pelo autor

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