quarta-feira, 13 de julho de 2011

Afonso Félix de Sousa (Rondó de Porto Alegre)


No te pongas melancólico,
amigo. Voemos sorrindo.
Quem nos deu a melhor arte
não deu o mal de quem parte
como prêmio por ter vindo.
Ao ar! Ao ar! – Evaporam-se
as lembranças, formas de éter,
e entre as nuvens onde estamos
nossas almas, em suéter,
se nutrem do que deixamos.

No te pongas melancólico,
Se por seis dias dormiste
no que fora alegre porto,
não seja agora um sol morto
que acorde em ti quem foi triste.
Se em águas sem sal nem lágrimas
aportaste em noites frias,
não sentes já que não mais
hão de secar, se as bebias
em meio a ventos carnais?

No te pongas melancólico,
meu velho. Se já não clamam
anos mais anos de sede
prostrados junto à parede
da fonte aberta aos que amam,
seja o amor tapete mágico
a levar-te entre dois braços,
já que preso te libertas,
e é mais alto que os espaços
o teu mundo em descobertas.

Fonte:
SOUSA, Afonso Felix de. Chamados e Escolhidos. RJ: Record, 2001.
Imagem = Johnson Tour http://www.johnsontour.com/portoalegre.html

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