domingo, 3 de julho de 2011

Amosse Mucavele (A Poesia Epigramática do Amin Nordine ou a Babalaze do Atirador das Verdades)


Um poema assim é árduo/ sem cola e na vertical/ pode levar uma eternidade. ‘’ ARMÊNIO VIERA’’ Ao Sangare Okapi e Lúcilio Manjate "Amosse Mucavele"

Amin Nordine nasceu em Maputo aos 17 de fevereiro de 1969 e perdeu a vida aos 5 de fevereiro de 2011,e autor de apenas 3 livros, o que não tem importância porque a literatura não se assemelha a uma competição, onde quem publica muitas obras sai vencedor (assim sendo existem escritores que tem sido felizes nesta maratona aliando a quantidade versus qualidade como o seu cavalo de batalha e tem se notabilizado como verdadeiros campeões ex: Mia Couto, Antônio Antunes, Pepetela, Moacyr Scliar…),bastando lembrar-se do Luís B. Honwana, Noemia de Sousa, Gulamo Khan,e Lilia Momple para sustentar a tese de que qualidade nem sempre rima com a quantidade.

Publicou - Vagabundo Desgraçado (1996), Duas Quadras para Rosa Xicuachula (1997), e Do lado da ala-B.

Amin Nordine e um militante de uma escrita sólida em todos lados seja o da ala- A ou da ala- B, isenta de qualquer submissão política, caracterizada pelo inconformismo da realidade que o circunda e pela revolta social, esta poesia epigramática e uma revelação de um fatalismo que voa em voo rasante sobre as angustias de um passado melancólico, e um presente envenenado.

E do futuro o que se espera ? o futuro não será isto!’’… superlotada receita galgando o vento/com as mãos no coração do destino.’’

O que é do lado da ala-B? o leitor descobrirá que esta no lado mas vil de um jovem país com os seus problemas, e é neste lado onde reside o poeta solitário nas suas abordagens anti-heróicas, mas das multidões na sua mordacidade social, um verdadeiro maquinista do comboio dos duros, um autêntico vomito da babalaze de um poeta bêbedo do seu dia-a-dia. Detentor de uma caligrafia rebelde, com versos quentes como o fogo e cortantes como a espada afiada, onde eclodem temáticas de afrontamento de um certo tempo histórico (ex: carta ao meu amigo Xanana, banqueiros de banquetes, bandeira galgada aos 25, (c)anibalizinhos…)

Talvez o outro lado da ala destes poemas, não! Isto ultrapassa a dimensão poética, ou por outra destes melancolicos dissabores que despertam os filhos desta pátria que nos pariu deste manancial de barbaridades versus mentiras, que transformam o sonho de estar livre da opressão em um pesadelo ,não será esta a voz do povo?

Estes melancolias dissabores são a pólvora contida na’’ bala’’(ala-B) desta poesia que o autor preferiu chamar de’’ arma da vitória’’ que dispara esta bala certeira onde a cada estrofe vai abatendo o seu alvo. Dai nasceu este livro embrulhado por uma critica social.

A título de exemplo o poema ‘’barbearia dos cabrões (‘’queixos barbudos engravatados/ barbearia dos cabrões/ que deixa todo chão careca/ e ao alto mastro hasteiam bandeira/ para desfraldarem o corpo nu do povo…’’)

‘’Apesar da irrequietude e da impenitência, algumas vezes virulentas que caracterizam esta poesia ou das entremeadas doses de apurada ironia ou de compaixão pelos desafortunados, o que sobressai nesta forma particular da escrita e um virtuosismo estimulador da sensibilidade da razão,(…),nessa brevidade desafiadora da nossa capacidade leitoral e estética.’’( F.NOA-o prefaciador).

Segundo Zenão a brevidade e um estilo que contêm o necessario para manifestar a realidade. Esta brevidade encaixa-se na poesia do A.Nordine onde nota-se uma presença massiva de traços inter-textuais da obra do poeta Celso Manguana cidadãos da mesma esquina (ambos eram jornalistas culturais do semanário Zambeze) guerreiros da poesia epigramática, e soldados da mesma trincheira. A.Nordine exilou-se na morte, Celso Manguana exilou-se na loucura, e eu procuro exílio na memória destes 2 poemas:

‘’Sonâmbula esta pátria
cresce nas estatísticas
e acorda com fome
custa amar uma bandeira assim?
tem o amargo do asilo
almoço de pão com badjias
sabem bem todos dias.’’
Celso Manguana pag.14- aos meus pais-Pátria que me pariu-2006.

‘’ Se por tanto tivesse ser capaz
moça-pátria deste amor que refrega
seja o meu coração a minha entrega
escrever-te a cerca duma paz
e alto levante-se da vez que nega
não é para o povo o discurso assaz
nenhum político, milagroso ás
é tamanho o sofrimento que chega!
para o povo aumentem um quinhão
venha do vosso governo mais pão
burilada a página da história
apagar a sua triste memória
fazemos o país livre da escória!!!’’
A.Nordine-pag.50-soneto da paz-Do lado da ala-B-2003.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

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