(por Zálkind Piatigórsky)
Jesy de Oliveira Barbosa
15/11/1902, Campos RJ - 30/12/1987, Rio de Janeiro RJ
JESY BARBOSA, filha do jornalista e poeta Luiz Barbosa (ambos campistas), nasceu em Campos, Estado do Rio, em 15 de novembro de 1902. Espírito versátil e sensível, desde cêdo deixou patenteado seu temperamento artístico, tendo iniciado sua atuação em 1930, na Cidade Maravilhosa, onde também estudou. Dona de excepcional talento e de uma voz “diferente”, sua primeira expressão foi através do canto, tendo estreiado, sob os auspícios do saudoso Roquete Pinto, na Rádio Sociedade, no Rio, gravando a seguir inúmeros discos com canções brasileiras na R.C.A. Victor.
Paralelamente, iniciava-se na arte de escrever, fazendo-se presente em jornais e revistas de então.
Deixando mais tarde o canto, onde tanto se destacou, foi durante nove anos redatora e apresentadora de programas na Rádio Globo, da Guanabara; tendo sido uma das sócias fundadoras da Associação Brasileira de Rádio (A.B.R.).
Mas a plenitude de seu espírito criador só veio a amadurecer um pouco mais tarde, quando Jesy Barbosa, participando do movimento trovadoresco nacional, encontrou, nas quatro linhas da trova, o seu verdadeiro veículo de comunicação.
Mesmo assim, faltava-lhe um estímulo. Mas, predestinada para as cumieiras da arte do coração, êste não se fêz tardar. Apareceu sob a forma de um concurso de trovas. De um grande concurso de trovas – Os Primeiros Jogos Florais de Nova Friburgo – genial idéia de Luiz Otávio que os introduziu no Brasil, para isto contando coma cooperação e o dinamismo do consagrado poeta J. G. de Araújo Jorge. E Jesy apareceu. E apareceu ganhando, conseguindo, entre mais de 2.500 trovas concorrentes, o 4.° e 6.° lugares, pondo seu nome com letras de ouro entre os vinte vencedores. Era uma grande estrêla, luzindo no meio de uma constelação.
“Duvidas que numa trova
eu encerre o nosso amor?
Na hóstia tu tens a prova:
Não cabe Nosso Senhor?”
“Teu orgulho me parece
estranha contradição:
Nosso amor, que te engrandece,
é a minha humilhação.”
eu encerre o nosso amor?
Na hóstia tu tens a prova:
Não cabe Nosso Senhor?”
“Teu orgulho me parece
estranha contradição:
Nosso amor, que te engrandece,
é a minha humilhação.”
Excepcional em tudo que se refira ao que é de dentro, o seu amor filial conseguiu a ventura desta constatação:
“Surpreendente maravilha
A que agora me acontece!
- Minha mãe é minha filha
a medida que envelhece!”
A que agora me acontece!
- Minha mãe é minha filha
a medida que envelhece!”
Nestas “Cantigas de Quem Perdoa” descobrimos que a meiga Jesy não perdoou o mundo. Na verdade, ama-o demais. E quem ama, não chegando a sentir a ofensa, desconhece a necessidade do perdão.
Rio, março de 1963.
Era o milagre da sensibilidade, o triunfo do talento, a consagração da beleza. Era fôrça do coração atingindo alturas sublimes nesta composição.
“És rico... Mas que tristeza!
Tens vazio o coração...
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.”
Tens vazio o coração...
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.”
Era a poetisa Jesy que se descobria. Uma fonte límpida e incontrolável de água pura que corria sob o sol, sorrindo à libertação.
Suave flor em festa em alto cume, em breve Jesy superou-se e repetiu-se. E, em 1962, nestes mesmos Jogos Florais de Nova Friburgo que evoluíram como a própria escritora, entre mais de 5.000 concorrentes, alcançou o 1.° lugar com magnifica trova sobre ciúme:
“Quanto mais teu corpo enlaço.
mais padeço o meu tormento
por saber que o meu abraço
não prende o teu pensamento.”
mais padeço o meu tormento
por saber que o meu abraço
não prende o teu pensamento.”
Não só por êsses triunfos em competições públicas, mas por todo o conjunto de sua obra, hoje, é indubitável ser Jesy Barbosa um dos mais admirados e autênticos nomes representativos da poesia trovadoresca da língua portuguêsa.
Extremamente feminina – a mais feminina de quantas poetisas exercitam-se no idioma – suas trovas são bem o claro-escuro incompreensível e meigo e doce da alma da mulher:
“A maior impiedade
daquele que me magoa
é mostrar que, em realidade,
não vale a pena ser boa.”
daquele que me magoa
é mostrar que, em realidade,
não vale a pena ser boa.”
É uma queixa. Mas sua queixa é suave como pétalas que tombam. E na saudade, a saudade do vulto amado é mais que um milagre do coração:
“Tenho tua imagem tão viva
e tão dentro do meu ser
que, quando que rever-te,
fecho os olhos para ver”.
e tão dentro do meu ser
que, quando que rever-te,
fecho os olhos para ver”.
Poesia-conformação, poesia-ternura, Jesy Barbosa é sentimento, E, sobretudo, poesia-verdade, verdade clara e profunda, simples, sem contradição:
Fontes:
http://ubtsp.com.br/page3.aspx
Foto : acervo Rádio Club do Brasil.
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