Quinta das cinco cronicas vencedoras do V Concurso Literário “Cidade de Maringá”. Sebas Sundfeld é de Tambaú/SP.
Zéca, moço simples da roça, trabalhador e religioso, herdara umas terrinhas do avô. Para lá se tocou com a mulher, a tomar posse da propriedade e botar mãos à obra. Com seu trabalho já rendendo alguma coisa e bom cristão que era, convidou o vigário da Vila para benzer o fruto do seu esforço honesto e suado.
Após o almoço suculento servido na cozinha da casa de chão de terra-batida e teto de telha-vâ, saíram ao sol, o vigário de barrete e o Zéca com seu chapéu de banda. Com justo orgulho, o roceiro ia mostrando, rindo e gesticulando, o produto resultante do seu esforço rude.
- Seu padre, aqui era só mato. Carpi tudu no cabu da inxada, edubei e prantei. Óia agora o mio imbonecando... os cacho do arrois...e ali, óia, o feijão nos carreadô.
O vigário benzeu e ponderou: - É, meu filho, mas tudo foi com a ajuda de Deus.
Passaram por perto do pasto, onde um matungo tordilho descansava do arado, à sombra de um jatobazeiro nativo. Uma vaquinha leiteira e um bezerro completavam a cena bucólica.
- Aqui, seu padre - o Zéca continuava mostrando - fofei a terra e óia só que beleza de hortinha!
E o vigário contrito, alegou novamente: - Muito bom, meu filho, mas, veja bem, com a ajuda de Deus.
Assim foi, o Zeca mostrando o fruto do seu trabalho e o vigário lembrando a ajuda de Deus. Por último, o roceiro já meio encabulado mostrou o pequeno celeiro. Comentou: - Tá barrotado.
Outra vez o vigário repetiu: - Bonito, meu filho, mas com a ajuda de Deus, não esqueça.
Desenxabido, coçando o cocoruto, o Zéca desabafou:
- Tá certo, seu vigário, tá certo. Mai, porém, o sinhor percisava era vê cumu tava istu tudo aqui, quando Deus trabaiava sozinho...
Fonte:
AGULHON, Olga e PALMA, Eliana. V Concurso Literário "Cidade de Maringá". Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.
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