segunda-feira, 11 de julho de 2011

Carlos Leite Ribeiro (Solidão)


Bem cedo habituei-me a estar só.

Já várias vezes tentei descrever a palavra "solidão" por gestos.

Fingi que chorava, assumi um ar desamparado e até murmurei o que pensei que fossem sons solitários. Mas a definição "solitário" é muito difícil de descrever - é mais fácil senti-la.

Saber distinguir entre sozinho e o solitário, pode ser importante, mas eu encontro alívio e paz na solidão.

Habituei-me à solidão.

Um escritor gosta de estar só, escrever como se tivesse a falar consigo próprio, sem precisar de gente para arrumar as cenas.

A solidão na juventude é triste porque até então não se aprendeu a arte de viver confortavelmente com ela. Em geral, só na maturidade é que a solidão se torna deliciosa.

Hoje, quando me sinto perplexo, procuro na solidão, na eloquência do silêncio, e espero que as respostas cheguem. E elas chegam ...

O escritor - um eremita na caverna da sua mente - muitas vezes é uma pessoa solitária. Mas a solidão também pode ser um doce sofrimento, ao que dizem, torna-nos mais sinceros.

Ao passarmos por uma rua movimentada, em geral passamos pelas pessoas sem olhar para elas. Porém, numa rua tranquila, quando nos aproximamos de uma pessoa sozinha, a cumprimentamos, e até falamos com ela. É um acto estranho, provocado pelo magnetismo inexplicável de duas pessoas que se sentem sós.

A ideia que eu tenho de um lugar perfeito para morar, é uma casa no meio dum pinhal, à beira de um lago, com muitos animais em redor, e da qual eu não pudesse ver outra qualquer. Nem mesmo uma chaminé distante, para não destuir a minha sensação de tranquilidade. De noite, as janelas iluminadas, são olhos curiosos que me espreitam.

Aqueles que vivem compreensivamente com a solidão, acham-na uma companheira tolerável, simpática e até empolgante.

Para quem gosta, a solidão tem os seus encantos.

Hoje, na minha idade, se eu fosse representar a solidão, havia de sorrir e fazer um ar satisfeito.

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Texto enviado pelo autor

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