domingo, 3 de julho de 2011

JB Xavier (Antologia Poética)


NÃO TENTES ME ESQUECER

Não tentes mentir ...não para ti...
E para não te machucares,
Não tentes me esquecer...
Tu não conseguirias....
Por que terias
Que renegar nossos momentos,
As auroras que nos encontraram
Trocando juras de amor...

Terias que relembrar a dor
De nossas partidas,
As alegrias febris dos reencontros...
Terias que ouvir de novo o que nos dissemos...
As promessas,
Os passeios amenos
Pelo parque, os sonhos,
E reviver todos os nossos projetos...

Terias que ouvir de novo os inquietos passarinhos,
Festejando na areia de nossos caminhos,
Revisitar as alamedas de luz
Que um dia brilharam para nós...
E terias que ouvir de novo a voz
Deste amor que em minha alma não cala!
Terias que ouvir tua própria fala
Jurando, assim, tão solenemente,

Que irias me amar eternamente...
Minta para mim, se o desejares,
A mim, que erigi altares
Onde sagrados tabernáculos
Guardavam teu amor, que duraria para sempre,
Mas não mintas a ti mesmo, te iludindo,
Porque jamais poderias sentir a dor
Deste fim de amor, que estou sentindo...!

PARA SEMPRE EM TUA VIDA

Se de ti vieram todos os meus sonhos,
Se te amei para além de todos os limites,
E se te amo ainda,
Por que o Universo te afastou de mim,
E me deixou a assim,
Nesses descaminhos tristonhos,
Onde eternamente espero a vinda
Deste amor que nunca teve fim..?

Se de amor forrei meu caminho,
Se de rosas perfumei nosso leito,
E se de luz pintei nosso universo,
Porque da rosa me restou o espinho
Que me obriga a seguir sem ti, sozinho,
Nesta realidade falsa , a me arrancar do peito
A lágrima que me resta, ou este último verso
Que ofereço a este amor, eivado de carinho?

Ah! Se teu peito latejasse sem ar, como arfa o meu!
Se tu sentisses a vida se esvaindo, como se esvai a minha
Se eu pudesse ser teu rei, como és minha rainha
Se a Verdade cumprisse tudo o que prometeu,
Tu serias minha e eu seria eternamente teu...

Mas, hei de estar em ti, na solidão entristecida
Desta derrota com gosto de vitória dolorida,
Porque enquanto ressoar pela eternidade a tua existência ,
Haverá, de nós, mais que uma simples reticência
Porque estarei, para sempre, na história de tua vida..

TEU BRILHO EM MINHA ALMA

Esse ponto brilhante que habita minha alma,
A natureza última do meu ser,
A tradução mais exata do meu entardecer,
A ficção cuja realidade transcende e acalma,
É o que restou do sol esfuziante,
Do instante
Em que tua luz inundou meu mundo...
E brilhará assim, na eternidade,
Nesse brilho pálido onde permeia uma saudade
A iluminar o dia que se faz noite, num céu moribundo...

LEMBRANÇAS DE TI...

Hoje te visitei, ou foste tu que me visitaste?
Que importa? Mas te vi, e teu toque novamente senti
Roçando em minha pele, os beijos que beijaste,
As lágrimas de alegria das tantas que chorei por ti...

Hoje em júbilo, novamente o sol nasceu sobre o mundo
Com a mensagem de esperança que tanto me sustentou
E o dia nasceu feliz, trazendo a cada segundo
As lembranças de ti, o riso, o canto, a alegria que tanto me sustentou...

Hoje trago o coração em festa, o universo te reverencia ,
O mundo sorri, as nuvens te rendem homenagem,
O vento me entrega teu perfume, e o próprio dia
Renasce orvalhado, na suavidade de sua doce aragem...

Hoje te visitei, ou foste tu que me visitaste?
Que importa? Que importa se esse encontro ainda tem algo de tristonho?
O que importa é que revivi os momentos em que vibraste
Aos meus abraços, ainda que tudo tenha sido um sonho…

A ÚLTIMA ROSA

Oh, rosa delicada, de onde vem
Essa doçura, esse veludo que te cobre,
Se convives entre esporões, nessa tua nobre
Altivez, que te coloca no infinito, e ainda além?

De onde retiras o frescor, a cândida doçura
O pulsante carmim, a oferenda irrestrita?
E se te escondes entre espinhos, como a prata na acantita...
O que te transforma assim, nessa meiga candura?

Vem, perfumada rosa, e ocupa o vazio de minha vida
Vem enfeitar a tristeza e adornar os caminhos
Por onde trilham meus pensamentos, desconsolados e sozinhos,
Vem mostrar-lhes teu ardor e lhes curar a ferida...

Que fazes aí nesse vaso, ainda viçosa e bela,
Ainda me lembrando do dia em que em ti habitavam minhas esperanças
No vermelho dos teus anelos, a me trazer dos lábios dela as lembranças
Neste minúsculo mundo onde rebrilhas, altiva e singela...?

Oh, delicada rosa, se ao menos esses espinhos que te enfeitam
Fossem venenosas garras que ferissem,
E ao ferirem levassem meu coração às sombras, se existissem
Ainda as ninfas que de amor tanto se deleitam...

És a última rosa, o último sinal, o último sonho deste amor distante,
A última fronteira, a última carta, a última amiga que assistiu
Meu último olhar e o último aceno quando ela partiu...
És tu a única testemunha deste último instante...

E aí estás, como minha mais ensandecida dor
Como a mais terna de todas as minhas recordações
Pois foste tu que estiveste entre nossos lábios, quando nossos corações
Beijaram-se, trazendo na luz dos olhares todo o nosso ardor...

Foste meu último presente, onde ofertei a ela todo o meu amor…

ENQUANTO HOUVER UM SONHO

Se não existe o mundo sem ti, que faço aqui,
Ainda habitando o sonho?
Que imaculado céu é esse que tampouco existe
Mas pelo qual procuro ainda a estrela que se perdeu?
Se a ilusão é a mais real das consistências, por que vivo
Nessa imaginada realidade, perseguindo visões
Cavalgando Pégasus, imitiando a Fênix,
Enquanto me ombreio a Sísifo
Em sua eterna tarefa de conseguir o impossível?

E se a realidade em que vivo nada mais é que o sonho perdido,
Porque quase te posso tocar, ainda que hoje sejas apenas uma ilusão?
Por que a luz que me serve de guia nessa eterna escuridão
Flui ainda de teus olhos, e tua voz ainda ecoa,
Como sinos a dobrarem num intangível campanário?

Ó deidades e eternos condenados,
Que indolentes se banham nas águas do Aqueronte,
Deixai-me ao menos que eu me transforme também nessa ilusão,
Para que o sonho possa ser minha realidade,
E eu, assim, repouse finalmente no barco de Caronte,
Para que me conduza a Hades,
Que há de selar meu destino com seu eterno silêncio
Ao qual, há muito, já me condenaste…

Fonte:
JB Xavier

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