quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 4

Pintura a óleo de Angela Kelly Topan
(Foto: José Feldman)
Tem muro de cemitério
que esconde um certo mistério,
pé-de-moleque, cocada,
que agradam à garotada;
tem brincadeira de roda
(que essa nunca sai de moda)...
A roça é boa... a danada!
(SELINA KYLE)

Tem máquina de costura
com tudo que se procura:
dedal, botões, linha, agulha...
Tem pomba-rola que arrulha
porco gordo no chiqueiro
cavalo manso e ligeiro
e arroz guardado na tulha!
(PEDRO ORNELLAS)

Lá tem duença deferente!
Si u muleque fica duente
pode sê que teja aguado
o das bicha discunfiado.
Quem num tem berne na bunda
véve cum dor na cacunda,
morre de bucho virado...
(PAULO TARCIZIO)

Tudo é divinação,
fica aberto o coração
lá na roça, no meu lar.
No fogão a crepitar
junto à lenha e o fogaréu
vejo naquele escarcéu
meu amor esbrasear.
(PALAS ATHENA)

Lá tem paiol, tem picada,
tem gado bom na invernada,
tem galinha no terrero
e eu que tomém fui rocero
tarde aprendi na cidade
que a tar da felicidade
não se compra cum dinhero!
(PEDRO ORNELLAS)

Lá na roça é diferente,
eu me sinto tão ardente.
Dos meus sonhos na ciranda,
numa rede na varanda
onde eu possa divagar
com os beijos sem cessar
deste amor que em mim comanda.
(PALAS ATHENA)

Lá no galho da paineira
bem pertinho da cocheira,
dorme o galo cantador
com garganta de tenor
pra Maria ele acordar,
a rabinha vai esquentar,
é café pro seu senhor.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem espinhela caída,
muita noite mal-dormida
tem até ventre-virado
deixando o pobre coitado
a procurar “benzedeira”
pra se livrar da canseira
deixa-lo, inteiro, curado.
(MARILU MOREIRA)

Pro sertanejo é chacina
dia de tomar vacina,
não tem medo de serpente,
mas, na agulha ele sente,
aquela dor tão profunda
quando tem que mostrar bunda
pra macho bem diferente.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Lá que tem Seu Zé quejero
que trabáia sem vaquero,
só ele e a Dona Carminha.
Levanta madrugadinha,
tira o leite da vacada
depois vem, ca costa arcada,
tomá café na cozinha.
(PAULO TARCIZIO)

Lá tem capim amargoso,
que é ruim de carpi, tinhoso,
chega faz calo na mão...
lá num tem moleza não...
pra cabocro bom de enxada
lá tem roça praguejada
de carrapicho e picão!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem a cabrinha de um dia
que nasce e já faz folia
cabeceando a galinhada
que sai tudo em debandada
- menos a galinha choca,
que os seus pintinhos convoca,
se arrepia e dá bicada.
(PAULO TARCIZIO)

Tem um menino bobinho
que se envergonha todinho
quando encontra ca Rosinha.
Esta sim, é espertinha,
vê que o menino tá ganho
mas dá riso de arreganho
pra quem passa na estradinha.
(PAULO TARCIZIO)

Feijoada de mocotó
é tão boa que dá dó
ver escorrer no pescoço
aquele “cardo” tão grosso,
a mãe, de testa franzida,
vê, a moça na “lambida”,
“zoiando” “praquele” moço
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem a colcha de retalho
tem ranger do assoalho
tem toalha de crochê
Cozinha com fumacê
tem cebola e muito alho,
na roça tem espantalho
para o milho não "cumê"
(MARILU MOREIRA)

Na roça, em minha cabana,
tem facão de cortar cana,
tem lenha no fogo e até
tem sempre bolo e café;
tem lamparina de azeite,
tem muita flor como enfeite...
Vem aqui pra ver como é!
(SELINA KYLE)

Lá tem jacá de taquara,
é feito de fina vara
tirada do bambuzal
bem perto do milharal,
lugar de preparar ceva
pra onde o perigo leva
a caça, bicho animal
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tive lá Pedro, e gostei!
Que belezura essas moda...
É que nem quando na roça
lá no galpão se acomoda
todo o povo do retiro
que chega a solta suspiro
pros violeiro em meio à roda...
(SÔNIA TARASSIUK)

Água se guarda no pote
pra roça vai no corote,
na moringa ou na cabaça...
lá na mina tem de graça
pagamento não precisa
pra quem encharca a camisa
enfrentando uma quiçaça!
(PEDRO ORNELLAS)

Muita festança e rojão,
canelinha e quentão...
Tem uma "baita" quadrilha,
"camaradage" e partilha
não só de pão mas, de par
que as vezes chega no altar
formando bela família!
(VÂNYA DULCE)

Lá tem, de manhã bem cedo,
requeijão de leite azedo
deixado pelo leiteiro
que, preso num atoleiro,
amanheceu lá no brejo
por causar o maior frejo:
chamou de sogro o vaqueiro.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Morta a bezerra de um dia
afogada na água fria
na cachoeira do poção.
Prende o leite, de paixão,
a boa vaca leiteira.
Mergulha a Rosa vaqueira:
volta com o bicho na mão.
(PAULO TARCIZIO)

Tem cipó pra gangorrar
e ribeirão pra nadar,
tem muito capim-gordura
e canavial com fartura
pra fazer muita cachaça,
o melado sai de graça
e só vende a rapadura.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem mato pra se esconder
brincadeira de correr,
roubar fruta do vizinho,
depois fugir de mansinho...
Tem doce feito no tacho,
bicho na goiaba... eu acho.
Como é bom esse cantinho!
(SELINA KYLE)

Lá tem moda sertaneja,
bule quente na bandeja,
disco em cesto de por milho
embrulhado em coxinilho,
pra sentar tem um pelego,
num banco perto do rego...
na vitrola um Estribilho .
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Noite de lua encantada
tem viola enluarada
tem canção de seresteiro
tem cavalo de vaqueiro
leva a moça garupa
e fazendo upa, upa,
vai bancando o cavaleiro.
(ILNEA MIRANDA)

Amendoim saboroso
-isso é viagra pra idoso,
também plantação de trigo
e pra fazer doce, o figo,
limão, laranja e banana...
Sutiã de barbatana
pra evitar qualquer perigo.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Fonte:
Setilhas enviadas por Pedro Ornellas

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