quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 5, final


Banquinho feito de tora,
café moido na hora,
passado no coador,
pra aumentar seu sabor
água fresca na moringa
garrafa de boa pinga
prá espantar dissabor...
(MARILU MOREIRA)

Mulher grávida é 'buchuda'
no quintal tem pé de arruda
filho novo é 'bacorinho'
boca cheia de sapinho
varal de arame farpado
violeiro apaixonado
tangendo as cordas do pinho!
(PEDRO ORNELLAS)

Na roça tem uma venda,
tem de tudo que encomenda,
vende tudo “pendurado”
e não tem preço dobrado,
o vendeiro é gente boa
vende banha de leitoa
e toucinho defumado.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Noite escura, madrugada,
feiz baruio a cachorrada.
Deu medo de sombração
e eu qui num fui lá vê, não.
De manhã no galinheiro
nóis vimo que o perdigueiro
distroçô um gambazão.
(PAULO TARCIZIO)

O clima é de nostalgia
sempre reina a cantoria
lamparina com pavio
sanfona da cor de anil
o casal dentro da rede
eletrola na parede
velhos discos de vinil.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Picada de marimbondo
que deixa o rosto redondo
cipó e urtiga no mato
no pasto tem carrapato
tem muriçoca, tem peba,
tiriça, berne e pereba
bichano que pega rato!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem pulga e bicho de pé
e só tira quem “quisé”
vai ficando dolorido
o povo dá dor de ouvido
de escutar reclamação
por andar com pé no chão
e ficar tudo encardido.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem fala móle e cantada
tem queijim com goiabada;
tem milho verde brotando
e uma leitoa engordando.
um berrante pendurado...
chapéu de palha furado,
fogão a lenha queimando!!!
(ANDREIA ETTIOPI)

Na roça tem mutirão,
um boi chamado Moirão,
tem canga no seu pescoço
numa “junta” com Caroço,
essa dupla é cabeceira
carreia a semana inteira
sem descanso para almoço.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem vizinhança sadia
caboclo que dá "bom dia"
mesmo pra quem não conhece
tem quando o dia amanhece
orquestra de passarinhos,
na alegre festa dos ninhos
que o meu retorno apetece!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem velho que é muito xucro
(até perdi todo o lucro)
Por namorar mariquita.
Não achem coisa esquisita:
Ele veio com trabuco
todo doido, bem maluco
dizendo: - Se perulita!...
(CAIRO PEREIRA)

Tem toco de bater sola
do polvilho faz a cola,
alguns chinelos de embiras
trançados com belas tiras...
linda colcha de retalho
lá na mesa do baralho
para alegrar os caipiras.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tio Dito era o sanfoneiro,
o Waltinho no pandeiro
e eu tocava violão...
e o tal "limpa-banco" então?...
Meia-noite, uma rancheira,
ninguém fica na cadeira
- pega fogo no salão!
(PEDRO ORNELLAS)

Eu nunca vou me esquecer,
em minha mente vou ver
aquele suco de milho...
Lá no bar do Seu Castilho
e eu muito longe da roça:
(a lembrança dessa joça)
só me traz dor neste trilho.
(CAIRO PEREIRA)

Lembro bem de uma bacia
que ficava lá na pia
era feita de metal
toda em cobre, especial
a nossa bela banheira
de amparar, também, goteira
em dias de temporal.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

O calor que forte bate
faz lembrar: touro no abate,
faz lembrar do frio do Andes
mesmo que pra sombra ande
eu sempre fico a pensar
e comigo a perguntar
como é que é cidade grande?
(CAIRO PEREIRA)

Lá tem caboca triguera
tem caba bom di penera
na coieita de café...
Lá tem Maria, tem Zé,
tem batata na foguera
tem moleque na carrera
fugindo de buscapé!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem passarada que canta
assim que o Sol se levanta
para saudar mais um dia,
e, com a água na bacia,
lavo o meu rosto amassado,
tomo o meu café coado,
com bolo de Nhá Maria.
(SELINA KYLE)

Lá na roda da fogueira
a rapaziada inteira
pega o cachimbo e o bom fumo;
da semana faz resumo
falando das fofoqueiras
das meninas matriqueiras
que vive andando sem rumo.
(CAIRO PEREIRA)

Tem moenda, tem pilão,
se anda de pé no chão
tem cinto feito de embira
tem caruru, cambuquira...
tem caniço e samburá,
tem gamela e tem jacá
que um modão sempre me inspira!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(ANTÔNIO JURACI)

Eu acordava bem cedo,
já corria pro arvoredo...
depois voltava cantando
com a barriga roncando,
então pegava a caneca,
com açucar e café...
levava lá pra "boneca"
a vaquinha do tiu "Zé"!!!
(ANDREIA ETTIOPI)

Tinha o Leite bem branquinho
deixava até um bigodinho...
de tanta espunha que vinha,
numa caneca inteirinha,
ia brincar no terreiro,
me sujava no barreiro
da chuva que de noitinha
molhou a terra inteirinha.
(ANDREIA ETTIOPI)

Dia de feira de gado
tinha um boi muito enfezado
lá no alpendre ele embrenhava
o povo todo gritava
e com vara de ferrão
fiz cair sangue no chão
provando que sou mais brava!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Na roça a vida é assim
tem plantação, tem capim,
tem rasta-pé todo dia
lá na casa da Maria,
tem galinha no terreiro
tem porco lá no chiqueiro,
é lá onde a "PORCA" chia...
(JOSÉ MOREIRA MONTEIRO)

Na roça tem pinga boa
que quando pega atordoa...
tem foice, enxada e facão...
tem gente de pé no chão,
tem cedo gente de pé
tem torrador de café
depois que sai do pilão!
(PEDRO ORNELLAS)

Vacas de laranja-lima
pedra pra brincar de ímã
e carrinho de lobeira
pra rodar lá na ladeira.
O que era chique, de fato,
era Monteiro Lobato
narrado ao pé da porteira.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(ANTÔNIO JURACI)

Fonte:
132 setilhas enviadas por Pedro Ornellas
Imagem = Flickr

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