segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 2

Saudade da Roça, por Agnaldo Silva
E, à noite, o céu estrelado
vem compensar o cansado
sertanejo que, à varanda,
vê o seu gado que anda
pelo pasto, à luz da lua,
e a vida, assim, continua...
... como Deus do Céu nos manda!
(SELINA KYLE)

Lá na roça tem penico,
menstruação se chama Chico,Adicionar imagema diarréia é caganeira
e é folha de bananeira
que se limpa no “local”.
Arma de vaqueiro é pau
pra fechar vaca Faceira.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Cafezinho de comadre
aprovado pelo padre
tem biscoito de polvilho
e tem cavaca de milho
dura de quebrar o dente
se comida de repente
enquanto faz trocadilho.
(ILNEA MIRANDA)

Na roça tem fazendeiro
muito disposto e faceiro
que no campo, passa o dia.
Mas à noite se agonia
querendo amor a granel
na rede, olhando pro céu
estrelando com a Maria.
(CIDA)

O pão de queijo quentinho,
hoje tem no meu cantinho
que Deus sempre abençoou!
Mal a alvorada soou,
eu levanto e vou pra roça,
tocando o boi da carroça
que me leva aonde eu vou.
(SELINA KYLE)

Ah! quando chega o domingo
tem até “pé de cachimbo”,
nada de pito de palha,
dia santo, não trabalha,
vão à missa pra rezar
é dia de se arrumar,
fazer barba com navalha.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem numa lasca do rancho
lampião suspenso num gancho,
sanfoneiro de respeito
marcando um xote a seu jeito...
E lembrando a mocidade
tem uma baita sodade
escrafunchando em meu peito!
(PEDRO ORNELLAS)

No bom sentido, ó xente
foi isso aí, de repente,
pois que a roça é uma beleza
é cheia de gentileza
é cheia de coisa boa
do empregado à patroa
é fartura e natureza.
(ILNEA MIRANDA)

Lá tem paredes caiadas
bate o sol, estão douradas,
água fresca tem na talha,
lá não tem nego que “falha”,
pois tem ovos de codorna
e gemada na água morna
a tisnar lá na fornalha.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem café em pilão batido
que foi torrado e moído
e passado no coador
hum! cheirinho encantador
feito no fogão de lenha
não há ninguém que desdenha
dessa riqueza, o sabor!
(SÔNIA TARASSIUK)

No quintá um poço raso
Onde nasceu pur acaso
Certa feita um pé de ipê
Tão bonito como quê...
E uma istória interessante
Numa estrofe mais adiante
Eu vô contá pra vancê!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem patos nadando em lama,
malas debaixo da cama.
Cercas de arame farpado,
mulher no cabo de arado.
Pão-de-queijo na gamela,
macaúba na panela...
e buraco, só no trado!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem nas lembranças do ausente
uma saudade insistente
que corta igual canivete...
no peito, pintando o sete,
inspira versos e rimas
verdadeiras obras-primas
que a gente vê na Internet!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem o sotaque "maneiro"
do caipira hospitaleiro...
Doce d'abóbra no tacho
que hoje procuro e não acho...
Tem as mangueira frondosas
de frutas deliciosas...
E as bananas só em cacho...
(SÔNIA TARASSIUK)

Tem violeiro entoado
cantando o seu passado
nas cordas d'uma viola,
no quintal da fazendola,
chamando num assobio
"cumpadi prum desafio"
não aprendido na escola.
(MARILU MOREIRA)

Numa toada bem matreira,
canta, o moço, a noite inteira,
o que vai no coração.
As cordas do seu violão
já estão pra lá de bem gastas,
mas as donzelas, tão castas,
nem chegam no janelão.
(SELINA KYLE)

E tem mais: lá tem viola,
que no ponteio consola
as mágoas do sofredô...
e um pé de ipê, seu dotô,
que dexa na primavera
o teiado da tapera
atapetado de frô!
(PEDRO ORNELLAS)

No meio-dia, cansado,
larga o cabo do machado,
o sertanejo... e a labuta.
Senta e fica só na escuta
do tropel da cavalhada,
que vem pisando na estrada
trazendo o almoço... oh, que luta!
(SELINA KYLE)

Tem a colcha de retalho
tem ranger do assoalho
tem toalha de crochê
Cozinha com fumacê
tem cebola e muito alho,
na roça tem espantalho
e tem saci-pererê....
(MARILU MOREIRA)

Lá na roça, tem bodega
- de graça, ninguém não pega -
pode ler na tabuleta:
Fiado? Na caderneta!
Bodegueiro cinquentão,
tem de querosene a pão;
bola, pião e corneta.
(CIDA)

Uma colcha de retalho,
bem grossa, como agasalho,
para ficar na varanda
vendo a lua olhar de banda,
iluminando o terreiro,
e o vaga-lume ligeiro
que voa, acende e "se manda".
(SELINA KYLE)

O povo ajuda contente,
é fiel e nunca mente,
comida farta na mesa
com sorriso na pobreza.
Cada um tem seu jardim,
no perfume do jasmim
conserva toda riqueza!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem no meu peito de ausente
uma sodade insistente
que me estraçaia e me corta...
pur isso é que sem revorta
carrego a roça no peito
pru módi tê desse jeito
tudo o que eu tive de vorta!
(PEDRO ORNELLAS)

Fontes:
Setilhas enviadas por Pedro Ornellas
Agnaldo Silva Artes

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