quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Walflan de Queiroz (Poesias Avulsas)


ORAÇÃO

Meu Deus, estendei sobre mim tua mão
E então poderei entender o silêncio,
Então poderei andar sobre as águas do mar.

Meu Deus, estendei sobre mim tua mão,
E então poderei compreender teu Verbo,
Então poderei olhar os lírios do campo.

Meu Deus, fazei-me ouvir de novo tua voz,
Para que eu responda aos que vieram de Sabá,
E me restitua integral e perfeito a Ti.

(O testamento de Jó, p.25)

AUTORRETRATO
A Luis Carlos Guimarães

Não tenho a beleza de Rimbaud, nem o rosto torturado de
Baudelaire.
Tenho sim, olhos negros, negros como os de Poe.
Meus cabelos são soltos, em desalinho
Como os de algum anjo ou demônio.
Minha pele, queimada eternamente de sol, tem o sal do mar
E a cor morena dos que são náufragos.
Minhas mãos são pequenas, tristes embora,
Como as mãos de alguém que só as estendeu para o adeus.

(O tempo da solidão, p.38)



Meu Senhor, sou tua argila,
Manda de novo o teu vento,
Destruir minhas plantações,
Para que eu não veja, ao longe,
Senão, este deserto imenso,
E esta solidão de estrelas,
Onde te encontro.

Meu Senhor, sou tua criação,
Manda de novo o teu anjo,
Dispersar os meus rebanhos,
Para que eu não veja, ao longe,
Senão, esta montanha, Sião,
E estas torres muito altas,
Que se perdem, no azul destes ocasos,
Bordados com as cores do teu Manto.

(O testamento de Jó, p.37)

POEMA

Eu te falarei da noite misteriosa e doce
E das mil angústias que afligem a minha alma.
Na tua procura pelos mundos desolados,
Encontrei somente a dor habitando a minha solidão
Eu te falarei do mar ausente, e da nuvem
De mármore que se quebrou de encontro ao ocaso.
Não te falarei das colinas de Deus, dos penhascos
Distantes decorados por horizontes de ouro.
Te falarei, entretanto, da minha solidão
Caminhando pelas florestas insones do pranto
E te recordando em cada flor, em cada pássaro
Voando em direção à aurora em busca da morte.
Te direi apenas da minha pobreza, da minha dor
Quanto desfeitas e caídas com pétalas das mãos de Deus.

(O testamento de Jó, p. 49)

HINO À NOITE
A Tânia

Vem, Noite. Perco-me novamente
Em tuas constelações.
Quero procurar pela rua mais deserta
O sereno clarão de tua lua.

Vem, Noite. Quero ser eternamente teu.
Quero andar pelos becos mais distantes,
Em busca da luz de tua mais remota estrela.

Já não tenho túmulos, em mim.
Tenho apenas uma sombra, e um silêncio.
Vindo de minha solidão que fere os astros.

(O testamento de Jó,p.75)

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