segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Simone Athayde (A Ilha Triste)


Emanuel andava apressado, esperando que aquela última oportunidade que lhe tinham acenado fosse real. Por tantos dias vagara, sem rumo e comida, que o espírito já lhe fraquejava e ele não sabia mais quanto tempo ia suportar viver daquele modo ingrato.

Não tinha nada naquela vida: nem estudo, nem dinheiro, nem tampouco lugar pro pouso noturno. Virara pouco mais que um vagabundo, e se ainda não roubara é que sua mãe, quando viva, soubera lhe ensinar o que era certo. Preguiça não tinha, era capaz de fazer qualquer serviço, mas havia tanta gente mais necessitada que ele, tanto desemprego, que só podia pôr a culpa naqueles tempos difíceis.

Enfim, com a cabeça estourando com o calor daquela terra, com o estômago nas costas de não comer nenhuma refeição decente em muitos dias, chegou ao tal porto, que apesar de ter muitos barcos velhos, muito peixe sendo limpo ali mesmo na praia, dava até gosto de ver: um mar azul que era uma lindeza só.

Parou perto do primeiro barco que viu e perguntou ao homem, que de tão ocupado com o que fazia, nem se preocupou em fitá-lo:

“Bom dia. Fiquei sabendo de um serviço lá na ilha Triste. Queria saber se o senhor pode me levar até lá.”

O homem levantou os olhos, perscrutando o jovem.

“Só quem faz essa viagem é o Preto Genésio, mas o senhor deve estar com muita precisão pra querer trabalho naquele lugar.”

“Ah, isso tô mesmo! Mas onde encontro o tal homem?”

“O barco dele sempre fica de frente pro bar. É pertinho, não tem como errar.”

Então Emanuel agradeceu, e estava tão satisfeito que não percebeu que o homem lhe queria falar mais alguma coisa, que parecia preocupado. Foi andando mais rápido até avistar o tal bar e um homem negro enrolando um cigarro de palha, sentado no barco sem se preocupar com o balanço excessivo produzido pelas embarcações que chegavam ou partiam. Alheio ao balanço das águas e ao movimento do mundo.

“O senhor é Seu Genésio?”

“Pode falar “Preto”. Preto Genésio é como todo mundo me chama”, disse o homem sem levantar a cabeça.

“Tarde. É que quero ver o serviço lá na ilha Triste. Um moço me falou que só o senhor é que faz essa viagem.”

“Verdade. Vai ter que conversar com o dono. Se ele gostar de você, te dá o trabalho.”

“Ele vai gostar. Mas o senhor pode me levar lá agora? E quanto custa? Não posso pagar muito.”

“Você me paga quando receber. Eu estou sempre indo praquelas bandas mesmo, não vai me faltar oportunidade de cobrar.”

Emanuel riu e pulou pro barco. A viagem começou e o preto ia lento, lentamente. O jovem tinha ficado atrás dele, de modo que não podia ver o rosto escuro enquanto conversavam. Não que falassem muito, na verdade, demorou bem uns dois minutos até que o barqueiro começasse uma cantiga triste, e mais uns três até que resolvesse falar.

“Tá vendo a ilha?”

“Tô. É uma lindura! Por que um lugar tão bonito pode ter um nome tão triste?”

Mas o homem não respondeu, e continuou com a cantiga.

“Há de ser um serviço duro. Veio uma chuva brava, uma ventania louca, e derrubou o barracão do homem trabalhar.”

“Não tenho medo da lida. É bom que tenha muito trabalho mesmo, porque assim fico uns dias de barriga cheia.”

“Também não há de lhe pagar muito, mas não é tratante. Se acertar, paga.”

“Antes pingar que faltar.”

Por fim chegaram. A beleza daquele lugar e o vento bom que soprava ali caíram nele como feitiço. Abriu os pulmões pra respirar fundo aquele ar, e quando olhou de novo pra ilha, viu sobre um pequeno monte, uma mulher que parecia um anjo. Tinha os cabelos da cor do ouro, tão longos e lisos que, com o vento, voavam. O rosto era tão perfeito que não parecia real. No instante em que ele se virou para perguntar ao preto quem era aquela maravilha, eis que ela desapareceu.

“Você viu, Preto? Quem é aquela?”

O barqueiro ficou muito sério. Só então Emanuel reparou nos olhos dele, que eram opacos, quase brancos.

“Quer um conselho, amigo? Não vá atrás de aparição. Faça seu trabalho, que o mais pode ser muito perigoso. Venho aqui toda semana trazer mantimentos e pegar as peças que o homem faz. Ele é artista. Na minha próxima viagem posso levar você de volta, se tiver terminado o serviço. E não enrole, quanto menos conversar e mais rápido andar, melhor pra você. Até logo.”

“Não vai me esperar?”

“Não vai ser preciso. Ninguém mais ia querer esse serviço. O homem sabe disso.”

Então Emanuel agradeceu, um pouco encabulado com tantos conselhos. Ao estender a mão pra cumprimentar o homem, sentiu um calafrio: o preto era mesmo cego.

Emanuel atravessou a areia e a parte pedregosa que vinha depois até avistar a casa. Era uma construção muito simples, não parecia ter sido feita com capricho. Havia um cômodo na parte superior e, da janelinha aberta, Emanuel pôde ver que alguém o observava. Bateu palmas e chamou. Como demorassem pra atender, andou por trás da casa, até chegar ao barracão que havia sido destruído pela chuva.

“Um estrago e tanto, né?”

Emanuel levou um susto, mas logo se recompôs. Com o chapéu nas mãos, abaixou a cabeça num cumprimento. O homem olhava-o severo, não lhe deu nenhum sorriso.

“Foi uma chuva como nunca se viu, pensei que não ficava vivo. Mas a minha casa é mais bem construída. Esse barracão foi eu que fiz e por isso não resistiu. Agora preciso de alguém que saiba trabalhar, porque não posso levar prejuízo de novo.”

“ Metade do cômodo se foi”, disse Emanuel observando atentamente. “Mas posso fazer isso ficar uma belezura.”

“E quanto tempo demora?”

“Pra um homem sozinho é serviço pra duas semanas, no mínimo.”

“Tá brincando”, disse o homem, muito irritado. “Te dou uma semana, e te ajudo se for preciso. Se não der conta pode ir dando o fora.”

Emanuel pediu calma. Sabendo que não haveria como ir embora, disse que poderia dar conta do serviço no prazo estabelecido. Então o homem, que apesar de ser forte, já tinha muitas rugas, cabelos brancos e uma barriga proeminente, começou a lhe explicar melhor o serviço, as regras que deveria cumprir, e o quanto pagaria. Disse que não gostava de conversa, nem que ficassem de andanças na sua ilha, nem que fossem na sua horta e comessem seus frutos, que já eram poucos, e que dormisse ali mesmo no barracão porque não gostava de se misturar com ninguém. Vivia sozinho que era como gostava.

Emanuel sentiu vontade de perguntar da moça, mas achou melhor não, e depois de ouvir tamanha ladainha, pensou que poderia se dar a um pequeno atrevimento.

“Posso começar agora mesmo, moço, mas é que estou com muita fome. Será que o senhor pode me arrumar nem que seja um pedaço de pão?”

O homem mandou que ele começasse a trabalhar, que logo lhe traria o que comer. E assim foi feito. Emanuel começou com a lida e algum tempo depois lhe veio uma refeição completa e farta, tão gostosa que não parecia ter sido feita por um homem que dizia viver sozinho. Depois que comeu, descansou alguns minutos e trabalhou sob a vista do patrão o resto do dia. Só parou com o escuro, porque o outro não tinha lampiões de sobra. Quando perguntou onde podia tomar um banho, teve que ouvir mais desaforos.

“Você gosta de mordomias, heim, moço? Do lado esquerdo da praia aonde vocês chegaram, tem um riachinho, que é de onde tiro minha água. Não é fria nessa época do ano, é até muito aprazível.”

Emanuel resignou-se, mas estava tão cansado que acabou por dormir depois da refeição noturna, tão boa e farta quanto a anterior. No outro dia, acordou com a aurora, e foi logo procurar o riachinho. Era um lugar bonito, agradável, e a água realmente não era fria. Ficou nu e se demorou por lá, até que viu, já com a luz plena da manhã, a mesma moça do dia anterior. Tratou de vestir-se, mas ela não estava envergonhada de vê-lo nu. Porém, quando foi conversar, ela fugiu.

Não contou nada pro patrão, mas passou o dia inteiro pensando naquela jovem. Quando foi jantar, descobriu, debaixo do arroz, um bilhete escrito com letras tortas e feias:

“Vá se banhar a meia-noite”.

E assim Emanuel fez. Mas não se banhou nu, por pudor ou medo, e acabou rápido pra esperar uma nova aparição. Ela demorou, mas veio. Desta vez chegou perto, e tinha olhos tristes.

“Quase não pude vir. Ele não dormia.”

“O que ele é seu?”

“Meu pai. Mas parece um monstro, porque me tranca nesse lugar maldito e nunca, nunca deixa que ninguém me veja. Sou tão infeliz...”

“Por que ele faz isso?”

“Diz que é pra me proteger. Diz que nunca vai me entregar para homem algum.”

“Quer que eu te ajude?”

Então ela sorriu, e Emanuel soube que poderia ser tragado por aqueles olhos verdes profundos.

“Quero que me conte coisas. Me fale sobre o que acontece do outro lado do mar.”

Emanuel começou a falar da sua vida, do que as pessoas faziam no continente. Lara, como ela se chamava, encantava-se com tudo, empolgada como criança.

“Tenho que ir”, disse, ao se assustar por ver que o dia amanhecia.

“ Não vá ainda.”

“Volto amanhã, na mesma hora.”

E ficou tão perto do rosto de Emanuel que ele pôde sentir o hálito de alecrim que exalava do sorriso dela.

“Me beija”, ela pediu.

O jovem obedeceu, mas ao invés de sentir-se feliz, teve um estranho pressentimento. Lembrou-se das palavras do preto, e soube que ali começava sua perdição.

A outra noite chegou e novamente conversaram muito, mas Lara não deixou que Emanuel a beijasse, para que ele não pensasse mal dela. E foi no quarto dia que aconteceu o acidente, que mudaria o rumo da vida de Emanuel (ou talvez o rumo de sua vida já estivesse traçado antes que ele colocasse os pés no barco do Preto).

Enquanto o patrão ajudava a carregar umas vigas pesadas para reconstruir a última parte do telhado, eis que não suportou o peso da madeira. Ao tombar, a viga caiu sobre seu tórax, num impacto que o fez urrar como um animal. O homem empalideceu e continuou gritando, sentindo muita dor. Seu sofrimento foi tanto que chamou atenção de Lara, que da casa, ouviu os gritos e achou melhor acudir. Chegou desesperada, mas quando o homem a viu, deu-lhe grande bronca.

“O que está fazendo aqui? Já para dentro.”

“Fiquei com medo que morresse.”

Enquanto isso Emanuel não sabia se tirava a viga de cima do homem, ou se admirava a beleza de Lara, mas por fim pediu:

“Moça, me ajude aqui. Esta viga é pesada, tem que ser tirada com jeito, pra não machucar mais ele.”

Sem que pudesse protestar, o homem viu os dois se ajudarem até conseguir livrá-lo. Depois, não se importou mais de ser amparado por eles até a parte interna da casa.

No quarto, que ficava no andar superior, havia uma cama de casal enfeitada com uma colcha muito bonita. Lara ajeitou o homem com tanto carinho que ele relaxou e não se preocupou mais com o intruso.

O rapaz foi ficando por ali, ajudando a jovem a colocar emplastos de ervas. Ela disse que uma costela fora quebrada, pelo menos. Por fim, vencido pela dor e pelo cansaço, o homem dormiu, e Lara e Emanuel foram para a parte de baixo, onde num cômodo único, ficava uma mistura de cozinha e sala. Numa mesa mais afastada, estavam esculturas muito estranhas e belas.

“É ele quem faz. As pessoas do outro lado gostam, é assim que vivemos.”

“São bonitas.”

“Ele tira o barro aqui da ilha mesmo. É o segredo dele: um tipo de barro especial que dá esse tom, esse brilho.”

Depois ela lhe serviu comida, e aproveitaram para se beijar, embora timidamente. Depois de algum tempo o homem chamou-os.

“Rapaz, obrigada por me socorrer. Eu devia ter deixado você me ajudar com o peso, mas fui teimoso. Agora você já conhece meu tesouro: essa é minha mulher, Lara. Pode comer aqui conosco até terminar seu serviço, e pode se banhar aqui em casa se quiser. Mas sou um homem ciumento. Não admito falta de respeito.”

“De maneira nenhuma, senhor, não sou homem de cuspir no prato que come”, disse isso enquanto ainda se embasbacava com o que o homem dissera, de ser Lara mulher dele, e não filha.

Despediu-se e reparou que Lara movia os lábios, sem emitir som, pedindo que fosse ao riacho.

Na hora costumeira ela chegou. Emanuel ficou lívido ao vê-la nua. Ela o abraçou e disse, desconsolada:

“Ele mentiu sobre eu ser mulher dele, mas é um monstro, dorme comigo. E agora que já você já sabe, quero que fique comigo.”

Emanuel quis negar, quis sair correndo, mas afundou-se naquele corpo macio, que amava, e sentiu tanto contentamento quanto angústia.

O patrão continuava de repouso, mas permanecia na parte térrea da casa, de olho em Lara. Por causa do acidente, o trabalho de Emanuel atrasou, e findada a semana, ele teve que ir com a mulher até o barco do Preto. Este levou tanto susto quando percebeu que eles estavam juntos, que perdeu o costume de ficar mais calado, e falou aflito.

“O que você faz com essa perdição, filho?”

Emanuel contou só do acidente, mas o preto, com seu instinto de cego, sentiu neles o cheiro do amor, e soube de tudo o mais.

“Ele vai descobrir. Você tá perdido.”

“Ora, descobrir o quê?”, perguntou a bela.

“Você sabe. Quer desgraçar a vida dele igual desgraçou a minha?”

“Do que você tá falando, Preto?”

¬“Da minha cegueira. Foi o homem dela quem fez isso comigo, só porque um dia, depois de muito tempo que vinha aqui, vi ela e disse que era a coisa mais linda do mundo. Ele me enfiou o canivete nos olhos, me colocou no barco, e o empurrou pro mar, e disse que aquilo era pra eu aprender a não desejar o que era dele.

Emanuel ficou pálido feito cera, aterrorizado com a história, mas Lara ficou desmentindo, nervosa.

“Por que não ficou quieta no seu canto? Você gosta é de desgraçar os outros.”

“Não vê que é mentira, Emanuel? Se fosse verdade, por que ele voltaria aqui depois de tudo?”

“Porque é o único caminho que sei fazer sem meus olhos. O caminho que já sei de cor dentro da minha alma; e porque seu homem nunca mais me amolou, e me paga direito.”

Lara não deixou o preto falar mais. Puxou Emanuel, carregando os mantimentos na outra mão. Mais na frente pararam. Emanuel estava dos mais acabrunhados.

“Vai deixar de me amar por causa disso?”

Emanuel a abraçou, sem ter coragem de perguntar de novo se aquela história era verdadeira, mas sabendo que mesmo se fosse, Lara não tinha culpa.

“Foge comigo, Lara, na próxima viagem.”

“A gente não precisa esperar até lá. Ele tem um barco escondido lá nas bandas do riachinho.”

“Então a gente pode ir agora mesmo, se você quiser. Ele nunca vai descobrir nosso rumo.”

Lara abaixou a cabeça, e Emanuel viu que ela não tinha muita certeza se queria fugir.

“Eu vou, mas não hoje, com ele tão doente. Quero que melhore mais.”

“Se melhorar muito, pode descobrir nosso plano.”

“Não. Daqui a dois dias. E vamos pra casa, que já demoramos muito.”

Viveram normalmente até o dia combinado, encontrando-se enquanto o homem dormia. Quando chegou a tal noite da fuga, caiu uma chuva violenta e Emanuel ficou chateado, achando que não poderiam ir. Foi jantar na cozinha, como o patrão permitira.

“O serviço tá indo bem.”

“É, mais dois dias e tá pronto.”

“Não vai ter jeito de você dormir lá essa noite. Pode ficar aqui na cozinha. Eu e Lara vamos nos deitar.”

Emanuel concordou, abaixando a cabeça, ressabiado em pensar que sua bela ia dormir com aquele. Aninhou-se num canto perto do fogão, que era onde estava mais quente, e só acordou com Lara chamando. A ilha parecia tremer com tanto trovão e relâmpago que caia do céu.

“Que pena. Acha mesmo que não dá?”

“Era procurar a morte nesse mar.”

“Então me beija.”

“Aqui não, Lara, é perigoso ele acordar.”

“Ele dorme feito pedra.”

E Lara começou a beijá-lo, apesar da resistência dele. E tanta era a disposição dela, que Emanuel até se esqueceu do perigo e deixou-se levar. Mas não durou muito tempo. Da rústica escada o homem gritou, com feição assustadora.

Desceu com tanta destreza como se não estivesse machucado, e investiu contra Emanuel com um soco violentíssimo.

Lara gritava, tentando defender o jovem, mas o homem a empurrou e continuou batendo em Emanuel. Este conseguiu desvencilhar-se e aplicou-lhe um golpe nas costelas, que o fez cair no chão com um gemido. Lara e Emanuel ficaram parados, olhando para ele, até que o jovem achou que tinham que ir mesmo embora e puxou a bela pelas mãos. Mas o homem levantou-se e sem que Emanuel percebesse, pegou uma faca sobre a mesa e avançou contra ele. Lara gritou, avisando-o, e Emanuel teve tempo de se defender, esmurrando o homem e jogando a faca longe. Porém, o outro era muito forte. Prensou o jovem contra a parede, enquanto tirava da cintura uma arma antes escondida, o canivete.

Emanuel segurava o braço dele, mas não tinha forças para resistir muito mais. Pediu desesperado:

“A faca, Lara! A faca!”

Mas Lara não se mexeu. Permaneceu grudada à parede, e seus lindos olhos nem piscavam.

Então Emanuel perdeu as forças, e o homem cravou-lhe o canivete muitas vezes, até perceber que se esvaia. E Lara permaneceu encostada à parede, silenciosa.

Então o homem descansou poucos minutos. Depois, sem dizer uma só palavra, carregou o corpo até a horta, que Emanuel em vida nunca pudera visitar. Com uma pá cavou um buraco, ao lado de quatro canteiros altos, onde estavam plantados pés de alecrim, e onde havia quatro cruzes.

O homem, molhado pela chuva e pelo suor, parou um pouco seu trabalho para olhar em direção à janela, e sorriu. E Lara lhe sorriu também.

Fonte:
http://www.simoneathayde.com.br/contemas.asp

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