quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Irmãos Grimm (Os Emissários da Morte)

Em tempos remotos, em certa ocasião, um gigante estava viajando por uma estrada muito grande, quando de repente um desconhecido apareceu diante dele, e disse, "Alto lá, nem mais um passo adiante!"

"O quê é isso!" exclamou o gigante, "uma criatura que eu posso esmagar no meio dos meus dedos, quer impedir o meu caminho? Quem és tu que te atreves a falar com tanta ousadia?"

"Eu sou a Morte," respondeu a criatura. "Ninguém pode comigo, e tu também deves obedecer às minhas ordens."

Mas o gigante se recusou, e começou a lutar com a Morte. Foi uma luta longa e violenta, mas finalmente o gigante levantou sua mão, e golpeou a Morte com um soco, e ela caiu que nem uma pedra.

O gigante seguiu o seu caminho, e a Morte ficou ali desolada, e estava tão fraquinha que não conseguia se levantar novamente.

"O que será que vai acontecer agora," disse a morte, "se eu ficar deitada aqui num cantinho? Ninguém mais vai morrer no mundo, e ele vai ficar tão cheio de pessoas que não vai haver mais espaço e eles terão de ficar um ao lado do outro."

Enquanto isso, um jovem passava pela estrada, ele era forte e saudável, e cantava uma canção, e olhava para todos os lados. Quando ele viu a criatura meio desmaiada, ele ficou tomado de compaixão, levantou o infeliz, ofereceu-lhe uma bebida restauradora que trazia num frasco, e esperou que ele se recuperasse.

"Tendes noção," disse o estranho, enquanto se levantava, "de quem sou, e de quem se trata aquele a quem ajudaste a se levantar novamente?"

"Não," respondeu o jovem, "Não conheço a ti."

"Eu sou a Morte," respondeu a criatura. "Eu nunca poupo ninguém, e não posso fazer uma exceção para você, — mas podes ver que sou grato, e te prometo que não irei te buscar inesperadamente, mas enviarei meus mensageiros para ti antes de chegar a tua hora."

"Bem," disse o jovem, "já é uma grande vitória o conhecimento de que saberei o dia da tua chegada, e que de qualquer forma estarei livre de tua presença por tempo tão longo."

Então, o jovem tomou seu caminho, e estava aliviado, e feliz consigo mesmo, e viveu despreocupado. Mas juventude e saúde não costumam viver juntos por muito tempo, logo as doenças e as preocupações começaram a aparecer, as quais o atormentavam durante o dia, e o tomavam conta dele durante o resto da noite.

"Morrer não vou," dizia para si mesmo, "pois a Morte me enviará seus mensageiros antes que isso aconteça, mas eu gostaria que estes infelizes dias de doença tivessem acabado."

Assim que ele se sentiu bem novamente ele começou a viver feliz outra vez. Até que um dia alguém bateu levemente em seus ombros. Olhou de lado, e a Morte estava diante dele, e disse,

"Segue-me, pois é chegada a hora de tua partida deste mundo,"

"O quê," respondeu o jovem, "estais descumprindo tua palavra? Não me prometeste que enviarias teus mensageiros antes que vieste definitivamente? Não vi nenhum deles!"

"Silêncio!" respondeu a Morte. "Não te mandei eu um mensageiro após o outro como prometi? A febre não veio e te castigou, te sacudiu, e te deixou prostrado? As tonturas não te povoaram a cabeça? A artrite não contraiu todos os teu membros? Os teus ouvidos não ficaram zunindo durante algum tempo? A dor de dentes não te visitou todos os dias? A escuridão não te molestou a visão? E além de tudo isso, será que o meu irmão o Sono nunca te fez lembrar todas as noites de mim? Nunca deitaste durante a noite como se já tivesses morrido?"

O jovem não conseguia responder; se resignou diante do destino, e seguiu o seu caminho em companhia da Morte.

Fonte:

Nenhum comentário: