sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Salomão Sousa (Poemas Avulsos)

Ela espera com as verbenas boas...

Ela espera com as verbenas boas
e em repouso todos guerreiros mortos
A luta esqueceu de bater na porta
e buscavam guerreiros de bom garbo
as chamas das verbenas sobre as águas
Estariam após as portas do sol
Schiller ameaçou tocá-las em Jena
e antes que as alcançasse houve a cegueira
Erguiam pontes e nelas se agarravam
e iam e se perdiam fundos nos lamaçais
Eram milhões para depois do gelo

E ao lado dos mortos fervem as hienas
vorazes nas vísceras dos guerreiros
e jamais se juncarão de verbenas
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E é o veneno que cresce no silêncio...

E é o veneno que cresce no silêncio
E é até o broto da lágrima
que está seco dentro de uma rocha
E é um vazio como um grão de ouro
e é uma tortura como o sentir de um coice
A mão esquecida sobre a bainha
e não há um corte para esvaziar o escarro
Há o pressentir de um estouro
e há um campo cheio de quietos touros
e não há uma queda onde quebrar a cara
e não há uma vara para escapulir da tara
Sem um gorjeio sequer num vento livre
e tudo é vendaval sem pedir ajuda
Não há o corte fino de uma lâmina
sobre o desejo que escurece
a passagem que vai dar ao ânimo
Não era para ficar uma pétala
Não era para bater um coice
E caem alimárias e crescem galhos
Fundição num domínio de pedra
e não há o bafejar do vento
e não há o entranhar de uma gota
e não há o pulsar de um malho
Irá inocular e será inócuo
Será sem sentido e falhas puras
O bote cairá numa pedra
e o brilho será jacinto murcho
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Mede o universo verde...
 

Mede o universo verde
a lacraia no caule da piteira
Queimará seu dia de sol
Passará pela última lança
com as cem patas ondeadas
Não sou nem mesmo o eunuco
cuidando das fibras
das damas verdes
Não sou nem mesmo a pata
fritando dentro da trempe
Chegarei a esmo à ultima lança
e não terei atravessado
o cabo das tormentas
Meço o universo
e não sou nem mesmo o louco
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Nula fístula na língua...

Nula fístula na língua
Nulos lambris de nylon
Nulos pára-choques
pára-brisas parangolés
Nulo curral de lama
Desentupir nas bisnagas
e nas agulhas
os debruns
de enfeitar os nulos trapos
Desentupir nas tetas
o leite para as nulas goelas

Desfincar as estacas
que estancam as bocas dos sapos
Admirar ser a nula lacraia
debaixo do cavaco
A nula tartaruga demaiada
com a nula areia no sovaco
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Nasci entre toras...

Nasci entre toras
Só entendo
de maneira entre
cortada
De carne em cubos
De esterco
esfarelado
De madeira em
cavacos
Frases de três
duas palavras
Uhm?
Posso perguntar
sem nenhuma frase
Além de nascer
entre lenhas
entre pirilampos
Posso
esbarrar no silêncio
uhm rhum!
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Para quando será a entrega?

Para quando será a entrega?
Está sendo aguardada
com todas as ardentias
Virá num ribombar de raios
e nada deixará sobre o solo
Não será o tridente
ou a tocha de ferro dos deuses
Também a semente prepara
o estalo de alguma entrega
Dará as veias da madeira
ou a arrogância do espinheiro
Também o sol prepara
o esvaziamento de uma entrega
Dará um barro quebrado
no poço onde estaria a aguada
Virão as ardências da pele
e a esfrega será putrefata
Virá a violência do meteoro
e a estrela será de pedra
Se não for de fogo
derramará seus grotões de água
E se a entrega for de leite
este também será derramado
nos intentos de impedir a trégua
E será possível tocar na dor
com a entrega do balde de lágrima
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Ame com as forças e os frouxames...

Ame com as forças e os frouxames
derramado corpo entre as águas
bóiá-lo molhado entre velames
Ame com as águas e os vexames
nenhum vulto de pedra aos pássaros
encorpá-la a freguesia de chamas
Ame com os pássaros e os enxames
enxotá-los os melros do torpor
afundar nos porões do prazer
corpo úmido abri-los os tapumes
Ame de braçadas entre melames
decantado ópio da podridão
corpo lavado levantar novas façanhas
Para atravessar atravessá-los os baldrames
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No espelho o nó...

No espelho o nó
a estação sem vitrines
e no lugar do seio
sem nódulos
veio uma verruma
Este espelho está
de olho velho
Perde um talho
na partição do acaso
Perde um artelho
na caminhada lerda
Perde a erva
após o ânimo
do último animal
E se fosse uma casa
iria perder as telhas
E se fosse uma árvore
perderia o verde
Tenta lançar
um tentáculo
Está lá o galho de arruda
Tenta
e nem o vento a favor
ajuda
Está de olho velho
está sem tentáculos
este espelho
Desaparece entre
os atalhos das aparências
a tentação da última prece
e o eco da última vítima

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/salomao_sousa.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ssousa.html

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