segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sonetos Satíricos I

Libreria Fogola Pisa
ÁLVARO ARMANDO 
Helena Ferraz de Abreu (Rio de Janeiro RJ 1906-1979) .

Herbert Moses

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Pequenino. Apelidam-no "mosquito".
Não perde coquetel ou festa de arte.
Anda aos pulinhos, como periquito,
E pula, ao mesmo tempo, em toda parte!

Não há banquete em que, com qualquer fito
Ou sem nenhum, não diga o seu aparte.
E discursos faria, ao infinito,
Se um turista chegasse, lá de Marte!

Aos jornalistas tudo acerta, ajeita.
Se da ABI na doce presidência
Hábil e sutilmente se grudou,

A própria oposição bem o respeita,
Pois tem que se curvar ante a evidência:
Até o Getúlio foi e... ele ficou.

(Obs: ABI – Associação Brasileira de Imprensa)

ARTUR AZEVEDO 
(Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo (São Luís MA 1855-1908)

Tertuliano, o paspalhão
 

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Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!

PADRE CORREIA DE ALMEIDA

A Dança dos Partidos

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Os dous estragadíssimos partidos
Ocupam a seu turno a governança;
E nós imos vivendo da esperança
De ver os nossos males combatidos.

Os quinhões são de novo repartidos,
Toda vez que se dá qualquer mudança,
Se aquele outrora encheu, este enche a pança
E os clamores do povo são latidos.

Se as velhas leis têm sido violadas,
Estando nossas crenças abaladas,
Novas leis não darão melhores normas.

Palavras eu não sei se adubam sopa,
Mas a fala do trono é que não poupa
Reformas e reformas e reformas.

FRANCO DE SÁ
Joaquim Mariano Franco de Sá (Alcântara/MA – 1807 – 1851)

A Esbelta

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A "Esbelta", o alvo dos suspiros nossos,
É fada vaporosa, é flor das flores;
Em vez de carne, vestem-na vapores,
É leve a rapariga, só tem ossos.

Os caniços do lago são mais grossos
Que as canelas gentis dos meus amores;
Tem nas lindas bochechas menos cores
Que a seca múmia quando sai dos fossos.

Ah! ditoso mancebo, eu te prometo
Que se hoje, noivo, trêmulo, desmaias,
Beijando a anágua que lhe encobre o espeto,

Talvez, quando marido, morto caias
Vendo surgir o pálido esqueleto
Da espessa nuvem de umas oito saias.

JOINVILE BARCELOS (RS)

Benedito Salgado

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Vai às aulas e às feiras, lê, patina,
Namora, odeia os militares. Tersos
Os seus sonetos, nos jornais dispersos,
João dos Anzóis "pomposamente" assina.

Ama o truco, o bilhar, jogos diversos.
Ah! Viver no "xadrez" (que bela sina!!),
Tendo ao lado uma cândida menina,
Bons patins, bons autores e bons versos.

Vive alheio aos jurídicos assuntos.
Provas de exame nós "colamos" juntos,
Eis por que ainda não levamos pau.

Prega aos caloiros tímidos na Escola:
"Não tenham medo, aqui tudo se 'cola',
'Cola-se' até solenemente — o grau!"

MOACYR PIZA
Moacyr Toledo Piza (São Paulo, 1891 – 1923)

O Cartola

(a Cardoso de Almeida)

Pança, asneira, bazófia, parolice;
Parolice, bazófia, asneira, pança:
— Eis o que revelou desde criança,
E o que há de revelar até a velhice.

É um realejo, que jamais descansa,
A remoer sempre o que Leroy já disse.
Ninguém, a um tempo, faz tanta tolice;
Ninguém tanta tolice a um tempo avança!

Pingue de enxúndias mas de miolos pecos,
Lembra, na linha, o Conselheiro Acácio,
Superando, em idéias, cem Pachecos!

Nunca um raio de luz lhe entrou na bola.
Pensa o leitor que pinto algum pascácio?
— Engana-se, leitor, pinto o Cartola.

MÚCIO TEIXEIRA
Múcio Scevola Lopes Teixeira (Porto Alegre/RS, 1857 — 1926)

O Girafa

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Borrar papel, Girafa!, é teu fadário,
Contra a honra de toda a gente séria;
Oh! alma pustulenta e deletéria...
Oh! ente nauseabundo e salafrário!

Ontem... entre os rebeldes, mercenário,
Hoje... parece mesmo uma pilhéria!
Qual vende o leito crapulosa Impéria,
A pena alugas por qualquer salário.

Jornaleiro metido a jornalista,
Dos vícios teus a criminosa lista
Verás aqui... e para além te empurro!

Por andares na berra, estás na barra;
Pois hoje a Musa em teu focinho escarra,
"Doutor na asneira, na ciência burro!"

ROCHA PITA
Sebastião da Rocha Pita (Salvador/BA, 1660 —1738)

Soneto da Desdentada

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Pondero a emudecida formosura
De Fílis sem temer que impertinente
Possa no meu soneto meter dente
Pois carece de toda a dentadura.

Se por cobrir a falta esta escultura
Tão muda está que não parece gente,
Estátua de jardim será somente
Se de pano de rás não for figura.

O senhor secretário quer que a creia
Bela sem dentes, eu lho não concedo;
Desdentada é pior do que ser feia;

E em silêncio só pode causar medo,
Ser relógio de sol para uma aldeia,
Para um povo estafermo de segredo.

RUBENS PEDROSO (RS)

Toda e Qualquer Semelhança...


Descomunal, vastíssima senhora,
Imensamente gorda. Ela é feliz
Chacoalhando essa banha a toda hora,
Metendo em toda parte o seu nariz.

Mesmo gorda, é uma "fina" salafrária:
Sabe mentir como poucas ante um juiz.
E é cínica, é safada e ordinária,
E mais coisas, talvez... que não se diz.

Monumento de enxúndia e de rancor,
De veneno e maldade inchada está.
Não é mulher, é um monstro, é um horror.

E na cova, onde um dia ficará,
Até o mais faminto verme roedor
Sua gordura com nojo deixará.

TAPAJÓS GOMES
Manoel Tapajós Gomes (Belém/PA, 1884 – ?)

Amador Cobra

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Este "enorme colega" (assim define-o
Outro colega, espirituosamente),
Não garanto, mas deve ser parente
Dalgum poste da Light, consangüíneo.

É professor e aluno juntamente,
Tem prática, traquejo, raciocínio,
E onde quer que ele esteja tem domínio
Só pela altura... que faz medo à gente.

É muito alto, demais, o nosso Cobra
E embora assim comprido, ele não dobra
Apesar, meus leitores, dos pesares...

Isto de altura é coisa que acontece,
Mas o Cobra, palavra que parece
Um sobrado de três ou quatro andares!

Fonte:
http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/satirico.htm

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