terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Miguel Carneiro (Balada do Cangaceiro sem Mãe e Outras Baladas) II

O Herói Anônimo

Quando a opressão
Clama por Justiça
Eu então me engolfo nessa Legião.

Defendendo em plagas distantes
A liberdade instalada em meu coração.
Eu já estou mutilado
Diante de tanta revolução

Não tenho mais uma perna
Não possuo nem mais uma mão.

Dentro de mim
Bate apenas o vento
De uma nova rebelião.
Balada do Cangaceiro Sem Mãe

Vim de muito longe
Das terras de Massacará
Trazendo somente farinha
E a vontade de pilhar
Pelejando por caminhos tiranos
Entre xiquexique, macambiras e gravatás.
Perdido entre tantas lembranças
Sozinho, sem mulher, sem sonhar.

Vindo de muito longe
Pra nessa terra guerrear.
O punhal sobre o peito
E o meu ferro de marcar.
Zé Baiano é o meu nome
E não sei
Onde minha mãe agora estar.

Anel de ouro, trancelim,
Seda, cachaça
Trago no fundo do emborná.

A coragem no meu olho
Sou de longe, sou de longe
Das terras de Massacará.

A coragem no meu olho
Sou de longe, sou de longe
Das terras de Massacará.

Minha sina é morrer lutando
Em qualquer tiroteio
Na hora que eu for enfrentar.
Tenho a benção do Meu Padim
Meu corpo fechado
Bala nenhuma irá se alojar.
Nem as pegadas do inimigo
Poderá um dia me alcançar.

Dormindo em coitos
Sem puder se quer descansar
Acordando no breu da noite
Depois de parar pra rezar
Minha vida pertence
ao Deus Dará
Vim de longe,
Vim de longe,
Das terras de Massacará.
Cangaço
Para João Bá

Para quem pensa
Que o cangaço se acabou
Vive parado na história
O cangaço continua
Silencioso na memória
Sem volantes, cangaceiros
Ou Lampiões
Matando muito mais gente
Pelas cidades e pelos sertões.

Quem imaginou
Que no tempo do Capitão
Houve mais mortandade
Enganados todos estão
O cangaço anda solto
Com a anuência do grande Cão
Agora dando gravatas
Em insuspeitos cidadãos
Matando muito mais pais de família
Pelas cidades e pelo sertão.

O nordestino morrendo de fome
E o preto pobre metralhado na invasão
Lampião foi um santo
Besta é aquele que difama o capitão
Diga-me se o cangaço
Não tá aí agora, não
Sem clavinote, fuzil ou mosquetão,
Silencioso na capital Federal
Em pleno coração de minha Nação.

Fontes:
Miguel Carneiro. Balada do Cangaceiro Sem Mãe e outras Baladas
Imagem = Pintura em tela . textura e tinta acrílica, de Katia Almeida

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