AMANHECER I
O sol amarrado
no porão da noite
escapa.
Afugenta a lua
espanta as estrelas.
Decidido vai para rua
e anuncia
um novo dia.
AMANHECER II
A madrugada vem a galope
no alazão da noite.
No céu, entre as nuvens,
o rasto que fica,
são estrelas.
AMANHECER III
o sol sonolento
lentamente
desperta
e com agulhas certas
tece o amanhecer.
AMANHECER IV
o amanhecer é
um pássaro ligeiro
leva nas asas
a escuridão
da noite.
ASSALTO
Eu só não te devolvo
estes anos de ti roubados,
porque os meus sonhos guardados,
estes sim,
num assalto, por ti
foram levados.
Roubaste-me o tempo.
Roubaste-me o sono.
Já nem sou mais dono
do meu coração.
CAIS I
Gaivotas já não
acordam a paisagem.
A tarde ancora
no porto.
Fecham-se os olhos do dia,
anoitece.
Chega a noite
em negrito,
debulha estrelas
no infinito
enquanto no porto,
ancorada em mim,
a paisagem agora
dorme.
CAIS II
Meus sonhos
adormecidos
levantaram
âncoras.
Veio a noite
veio o dia
e se atracaram
nos meus cais.
Fiquei no porto
apregoando versos
de um poema torto
ancorado em mim.
INDIFERENÇA
pêssegos ásperos
lâminas frias
estilhaços
quem diria?,
a tua frieza
aquece meu coração.
INTIMIDADE
o acordo
nosso
é tão
íntimo
que a cor do
nosso íntimo
revelar,
não posso.
MOVIMENTO
Voo da ave ferida
paisagem aberta – amplidão.
Há uma espécie de conspiração
movendo as coisas:
a vida!
NEON
quando a noite vem
uma teimosa ilusão
inventa uma lua,
é no meio da rua
que os sonhos ainda estão.
NOVO AMOR
Todo novo amor
é um conto de fada.
Pode ser tudo
pode ser nada.
Água corrente
de morro abaixo,
diante deste riacho;
refrescar os pés,
olhar as nuvens
e sonhar.
NUDEZ
atrás do biombo
das minhas ilusões
dispo-me
das decepções
que querendo ou não
a vida sempre me veste.
OS LENÇOS
pendurados no varal
meus lenços ainda úmidos
de um recente adeus
esperando o sol
ainda respingam
lentas lágrimas.
RACHADURAS
o desprezo
é uma arma dura
fere fundo,
atravessa
as armaduras
de qualquer
coração.
Fonte:
Jaime Vieira de Souza Filho. Asas. SP: EDICON, 1989.
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