A CIGARRA E O POETA
(Homenagem ao saudoso mestre e padrinho Olegário Mariano)
Quando a cigarra canta o espírito delira;
e desse canto alegre as notas musicais
criam na mente a forma excelsa de uma lira
em que o poeta canta os sonhos eternais.
O Vate empunha a lira e canta os ideais
que vêm do coração e os leva à etérea pira
eternizando ali, em versos magistrais,
o sonho bom pra ver se a mágoa se retira.
O singular refúgio, onde o poeta canta,
é o paço sideral, perene, é o universo..,
E o canto, mansamente, explode na garganta,
Seu canto é oração - simbólico rosário...
E cada conta dele é delicado verso,
onde reza a cigarra amiga de Olegário.
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A MARCHA DO TEMPO
Sem pressa as horas passam uma a uma,
escorrem para o túnel do passado,
- não se consegue segurar nenhuma -
pois cada qual já deu o seu recado.
Para a memória humana resta a bruma
que pode dar prazer ou desagrado.
Querendo nós ou não assim se esfuma
a vibração do tempo - este é seu fado.
Essa rotina segue sem descanso,
no transcorrer sutil da eternidade,
num caminhar tranquilamente manso.
Assim também os versos do soneto
vão no papel deixando a novidade
envelhecer no último terceto.
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A MORTE DO SOL
Rondando o velho Sol pela amplidão do céu,
já moribundo cai, cansado, no horizonte,
enquanto a Noite vem trazendo o negro véu
que à Terra toda envolve, à espera que desponte
a Lua a comandar o imenso povaréu
de Estrelas, para o adeus ao Astro-Rei, insonte,
em silente cortejo até seu mausoléu,
localizado além dos píncaros do monte.
São lágrimas da Noite o orvalho, o desencanto,
enquanto a Lua espelha a sideral tristeza
na intensa palidez de seu argênteo manto.
Mas Deus, que é Luz e Amor e tudo fez do nada,
com Sua Mão gentil tocando a Natureza,
o Sol ressuscitou nos braços da Alvorada.
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LUZ DO ALÉM
Inspiração nascida à luz de vela,
que mansamente jorra no papel,
é delicada, meiga, assaz singela,
porém precisa praticar rapel.
Quando a energia foge da procela
galopa o Vate em seu sutil corcel
buscando a gema preciosa e bela,
a gema rara do divino anel.
Cada mensagem que de Deus provém
virá trazer aos corações humanos
a luz que brilha muito além do Além.
Assim, portanto, nasce cada verso,
sagrado, santo, aos olhos dos profanos
provindo do Arquiteto do Universo.
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TROVAS
Em métrica setimal
e quatro versos somente
a trova é gentil fanal
que ilumina nossa mente,
Eu creio que não mereço
o valor pago na cruz.
Caro demais foi o preço:
Vida, Sangue, Amor e Luz.
O Saci perdeu a graça
e agora só faz careta
quando diante de nós passa
mas não quer usar muleta.
Quem mantém um passarinho
na gaiola em cativeiro
diz por ele ter carinho
mas é cruel carcereiro.
Trovando com luz de vela,
com certeza, o que acontece:
a trova fica mais bela
pois ganha uns ares de prece.
Fonte:
Lilia Souza (org.). Coletânea: Academia Paranaense de Poesia. Curitiba: APP, 2012.
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