FILOSOFIA
O Homem tem que ser contraditório
se o mesmo homem que ri
é o mesmo homem que chora,
se o mesmo homem que odeia
é o mesmo homem que adora...
O Homem tem que ser contraditório
se em seu próprio destino a sua própria vida
se contradiz,
- se o que hoje é tédio, ontem foi prazer, foi gozo,
se isto que agora o faz sentir-se venturoso
é o mesmo que depois vai torná-lo infeliz!
Destino glorioso
ou talvez, destino inglório,
- neste mundo incoerente, absurdo, assombroso,
o homem tem que ser contraditório…
- - - - - –
FILOSOFIA PERFEITA
Primeiro
eu queria dobrar as curvas de todos os caminhos,
e soltar os meus olhos livres
pelo mistério de todas as florestas
pela distância de todos os horizontes
e do cimo de todas as montanhas...
Depois,
abrir serenamente os braços coo aquele louco
lírico e profundo,
o mais louco e o mais lírico do mundo,
- e dizer para os homens que ficaram la embaixo
a amargurar os seus destinos:
- " deixai vir a mim os pequeninos..."
E finalmente, eu queria
como aquele gênio que desceu da montanha,
a montanha mais alta e mais estranha,
- fugir dos homens, da vida,
volver os olhos pra trás,
- e a sombra das ramagens da árvore do silêncio
provar o fruto do sonho, e beber a água pura e bendita,
da paz!
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FUTURO
(A Pedro do Couto Filho)
Era após a última guerra...
O homem vestido de preto da cabeça aos pés
parecia que estava de luto, e falava aos fiéis
como há mil anos faz:
- "que enfim possa a hecatombe ter servido
de experiência aos homens,
e que esta tenha sido a última guerra,
e no futuro os homens vivam em paz!"...
..........................
No dia de Natal, a criança órfã dizia à mãe
ainda desconsolada:
- quero que pai Noel
traga do céu, um tambor... e uma espada!
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HINO
(A Renato Homem)
Quisera que meus braços fossem extensos e infinitos como os horizontes
para abraçar todas as terras.
Meu coração universal conhece todos os idiomas, e os meus
olhos trouxeram a cor dos mares
que contornam todos os países...
Meus pés não distinguem no atrito das terras as diferenças de raças
e as minhas mãos não distinguem no aperto de outras mãos
as diferenças de cores
Meus pés só distinguem os caminhos ásperos dos caminhos suaves
e as minhas mãos só distinguem as mãos rudes que trabalham
das mãos macias que vegetam...
Quisera abrir os braços e envolver todas as terras e todas as pátrias
e ensinar a todos os homens que a luz vem de um único sol
e que o amor deve unir todas as mãos ásperas
para que todos os caminhos sejam suaves…
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HUMANIDADE
(A Ema Santandreu Morales)
Os homens me ensinaram a matar
foram eles que me deram a arma de dois gumes
do pensamento...
Os homens me tornaram um criminoso
e eu hoje me sinto
como se meu cérebro fosse o esquife do último deus...
Os homens me ensinaram a pensar
e eu assassinei o último deus
com a lâmina aguda do meu pensamento
friamente...
Agora os homens me perseguem
covardemente...
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HUMANISMO
(A Romain Rolland)
Fale ele italiano, russo ou japonês,
alemão
ou chinês,
se lhe estenderes franca e livremente a mão:
- será teu irmão!
Fale ele português, inglês ou castelhano,
tenha nascido na Ásia, África, Oceania
ou seja americano,
se ao seu lado estiveres na hora do perigo:
- será teu amigo!
Fale ele italiano, russo ou japonês,
francês
ou o idioma que for,
se a tomares nos braços e beijar-lhe a boca:
- será teu amor!
Mas... pode ele nascer até na tua casa,
ter teu sangue nas veias
morar mesmo contigo
partilhando uma herança ou disputando um bem:
será teu inimigo!
.........................
Volta, pois,, para o teu lar, para o teu campo,
teu escritório ou tua oficina,
e larga essa arma assassina
que te trará remorsos, ou quem sabe? - horror
- e vive em paz com o teu trabalho, com teus amigos,
com o teu amor!
E vê se agora não erras ...
Tens a chave que explica o segredo de todas
as guerras!
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. O Canto da Terra. 1945.
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