Era uma vez dois compadres: um era rico e morava num grande palácio, e o outro era pobre e morava por perto, numa choupana. O compadre rico era muito avarento e não ajudava nada ao compadre pobre, o qual, muitos vezes, não tinha nem o que comer.
Um dia o compadre pobre foi até o alto de um morro, onde havia um pé de coco. Quando pelejava para derrubar um coco, este caiu e rolou morro abaixo, indo parar dentro da casa de um velhinho que morava por ali. O pobre homem desceu o morro e bateu à porta da casa pedindo licença ao velhinho para apanhar o coco e dizendo-lhe que era para alimentar seus filhos, que deixara chorando de fome.
O velhinho disse ao compadre pobre que podia pegar o coco, mas perguntou-lhe se não o queria trocar por três abóboras. O pobre aceitou a proposta e o velhinho então, disse-lhe que fosse à horta e apanhasse aquelas abóboras que lhe dissessem: "Me tira! Me tira!"
Assim fez o pobre homem, mas antes de ir embora foi agradecer ao velhinho, o qual falou: "Quando o senhor chegar com as abóboras no princípio do morro, jogue uma delas ao chão. Quando chegar lá em cima, jogue outra, e quando chegar em casa, jogue a terceira que não se arrependerá."
Quando o compadre pobre ia começar a subir o morro jogou a primeira abóbora ao chão, como o velhinho lhe dissera. Apareceu então um belo cavalo, todo arreado, no qual ele montou e prosseguiu caminho. Ao chegar lá em cima do morro, jogou a segunda abóbora ao chão, e apareceu-lhe uma vaca acompanhada de um bezerrinho, que ele tocou para casa. Ali chegando, jogou a última abóbora. Apareceu-lhe um montão de dinheiro, tão grande que levou dias apanhando-o com a mulher e os filhos e levando-o para dentro de casa.
Com o dinheiro que ganhou, o homem mandou fazer uma bela casa e melhorou tanto sua pequena propriedade que ela parecia até um jardim. Daí por diante passou a viver como homem rico que era, e muito feliz com sua família.
Um dia o compadre rico passou por ali e viu aquilo tudo tão mudado, que se admirou, não resistindo a uma visita a seu compadre, ao qual perguntou como conseguira tal riqueza. O compadre que era pobre contou todo o caso para o outro, sem esconder nada. O rico foi embora, picado de tanta inveja e resolvido a ganhar também uma riqueza de maneira tão fácil.
Assim foi que se encaminhou para o mesmo coqueiro no alto do morro e deixou cair um coco, que rolou direito à casa do velhinho. O homem rico desceu o morro e foi ter com o velho, dizendo-lhe que era muito pobre e que aquele coco que ali caíra ia servir para alimentar os seus filhos. Como o velhinho sabia de tudo, disse ao homem invejoso que se ele quisesse trocaria o coco por três abóboras. Mais do que depressa o rico concordou. Então o velhinho explicou que fosse à horta e apanhasse as três abóboras que falassem: "Me tira! Me tira!"
O compadre rico apanhou as abóboras maiores que ele viu na horta e foi embora sem nem sequer agradecer ao velhinho. Quando começou a subir o morro jogou uma abóbora no chão. No mesmo instante, apareceu um bando de marimbondos que deu em cima dele, picando-o todinho. O homem subiu o morro correndo e lá em cima tratou de jogar outra abóbora fora; apareceu-lhe, então, uma bruta onça, a qual saiu correndo atrás do homem, quase o pegando.
Quando o compadre invejoso chegou à sua casa com a última abóbora em baixo do braço, fugindo da onça, abriu e fechou depressa a porta. Jogou a abóbora no chão, chamou a família toda e mandou que fechassem bem a casa. Assim fizeram. Foi aí que apareceram cobras por todos os lados, mordendo e matando todas as pessoas da casa. Quem mandou o homem ser tão invejoso?
Fonte:
Estórias e lendas de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro 6.
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