CHORO
Era a propaganda
com seus feitos
:aumentadas estrelas
avistadas através
dos telescópios
o melhor dos mundos
coordenado pela
maior inteligência
há o momento
em que sozinho
o pensamento
recai na solidão
e a verdade aflora
a insignificância
de alguém que chora.
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COMODIDADE
Num dia comum
de horas comuns
atividades comuns
idas e voltas comuns
de repente
como nada
como tudo
como sempre
a irrealidade
inviabiliza
incomoda
a comodidade
que nos esconde
incomuns pessoas
deslocadas
desfocadas
desesperadas
pelo retorno
comunitário.
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DESCAMINHO
Por onde sigo
descaminho
em passos rápidos
no trajeto curto
descaminho
de longa caminhada
na chegada não prevista
descaminho
apresso (mais) os passos
por onde passo
descaminho
sei do fracasso
do regresso
para onde vou
descaminho
sei que não haverá
chegada.
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DISTÂNCIAS
Distantes nos tornamos
menos críticos
na visão panorâmica
de amplos ângulos
em todas as curvas
na distância somos
meros pontos contra
a linha do horizonte
o distanciamento poupa
a vida nos sentimentos
resguardados no que
não podemos ver
distantes lembranças
abrandam a saudade
guardada nos corpos
aproximados.
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HISTÓRIA
Em voz baixa me contam a história
fatos e atos realizados e acontecidos
na vergonha de tempos de escuros
simulacros: a chuva bate contra
a vidraça e a água escorre vidas
perdidas em batalhas sangrentas
onde o ódio e a ganância alternam
os ataques: nossos irmãos fogem
para outras terras cujos donos
não os recebem simpaticamente
presos aos poderes maléficos
mantemos abaixadas as cabeças
e o orgulho escondido na vergonha
de sermos explorados e ludibriados
no medo que nos devora a mente
vozes mínimas repetem o texto oral
que do passado não há réplica
sobre o que nos contam: fomos
sempre assim e ainda somos
pois a raiva cedeu lugar
ao impassível rosto: nenhuma
fibra vibra onde não há mistério.
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TANTO
Tanto ordenamos
condenados
tanto mudamos
isolados
tanto buscamos
escondidos
tanto queremos
desesperados
o tonto não percebe
as oportunidades
brinca em ameaças
tanto da vida perdida
indo atrás do vento
e do vulto fugidio
das imagens
tanto sonhamos
acordados.
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Fonte:
Pedro Du Bois
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