Das profundezas a ti clamo, ó Senhor!
Davi, Salmos, 130, 1.
Nas imensas planícies geladas da Sibéria, muitas léguas distante da pitoresca Korelinsk, existe um lago — Szira-Kul —, reservatório imenso de águas salgadas, no fundo do qual o professor Iezhov, geólogo russo, descobriu as ruínas de antiquíssima cidade.
Como explicar a existência daqueles palácios e templos sepultados nas profundezas do lago de Szira?
Interessante e sugestiva lenda tártara explica a origem das misteriosas ruínas que dormem sob o tranquilo lençol das águas do famoso lago siberiano.
Ouçamos a curiosa fantasia.
Reza a lenda que no vale estreito, que as águas do Szira cobrem atualmente, existia, outrora, próspera e rica cidade habitada pelos tártaros Ouigur — povo guerreiro que chegou a dominar grande parte da Ásia Central. Em suntuoso templo dessa rica metrópole encontrava-se, sob grande laje, sepultado o corpo de Almagor, o último rei Ouigur.
Quis o destino que os mongóis de Gengis Khan invadissem os domínios de Almagor. Atacada pelo poderoso inimigo, a cidade foi facilmente vencida e saqueada. Os bárbaros conquistadores massacraram os homens e escravizaram as mulheres.
No dia em que a cidade caiu em poder dos mongóis, rompeu-se, como por encanto, a pedra que cobria o túmulo do rei Almagor. A sombra imponente desse monarca surgiu e fez-se ouvir, lúgubre, impressionante a sua voz:
— Chorai, ó mulheres tártaras! Chorai lágrimas salgadas de aflição e desespero! Chegou o último dia do povo Ouigur!
Sensibilizadas com as palavras do rei tão querido, que o amor à pátria fizera erguer da tumba, as mulheres puseram-se a chorar. E prantearam suas amarguras, dia e noite, sem descanso. Ordenaram os vencedores que elas dessem fim àquelas lamentações aflitivas. As mulheres de Ouigur, porém, não atenderam à intimação dos tiranos e continuaram com seus gemidos e soluços. Era ordem do rei Almagor, e que faziam elas senão obedecer ao rei?
Os guerreiros de Gengis Khan, exasperados com aquelas lamúrias intermináveis e impelidos por indomável furor sanguinário, degolaram, sem piedade, todas as prisioneiras. As infelizes escravas, porém, mesmo depois de mortas, continuaram a chorar incessantemente, e as suas lágrimas ardentes e abundantes, em gotas e gotas sem fim, formaram caudalosa corrente. Esse rio de prantos invadiu o vale, submergindo jardins, palácios e mesquitas luxuosas.
Surgiu, assim, formado pelas lágrimas das inditosas esposas tártaras, o lago de Szira, em cujo seio dorme, para sempre, a cidade de Almagor.
E ainda hoje (afirmam os menos incrédulos) o viajante que se aproxima, no silêncio da noite, das margens do famoso lago ouve o eco de estranho clamor, longínquo e misterioso, que se perde pelas estepes geladas. É a voz do rei Almagor no seu último e desesperado apelo:
— Chorai, ó mulheres tártaras, chorai!
Asseguram os sábios pesquisadores, é mais fácil, talvez, acreditar nessa lenda do que descobrir, dentro dos ditames, postulados e princípios da ciência, uma hipótese capaz de explicar a origem daquelas ruínas misteriosas que repousam no fundo de um lago gelado em meio da planície siberiana.
Fonte:
Malba Tahan. Novas Lendas Orientais.
Davi, Salmos, 130, 1.
Nas imensas planícies geladas da Sibéria, muitas léguas distante da pitoresca Korelinsk, existe um lago — Szira-Kul —, reservatório imenso de águas salgadas, no fundo do qual o professor Iezhov, geólogo russo, descobriu as ruínas de antiquíssima cidade.
Como explicar a existência daqueles palácios e templos sepultados nas profundezas do lago de Szira?
Interessante e sugestiva lenda tártara explica a origem das misteriosas ruínas que dormem sob o tranquilo lençol das águas do famoso lago siberiano.
Ouçamos a curiosa fantasia.
Reza a lenda que no vale estreito, que as águas do Szira cobrem atualmente, existia, outrora, próspera e rica cidade habitada pelos tártaros Ouigur — povo guerreiro que chegou a dominar grande parte da Ásia Central. Em suntuoso templo dessa rica metrópole encontrava-se, sob grande laje, sepultado o corpo de Almagor, o último rei Ouigur.
Quis o destino que os mongóis de Gengis Khan invadissem os domínios de Almagor. Atacada pelo poderoso inimigo, a cidade foi facilmente vencida e saqueada. Os bárbaros conquistadores massacraram os homens e escravizaram as mulheres.
No dia em que a cidade caiu em poder dos mongóis, rompeu-se, como por encanto, a pedra que cobria o túmulo do rei Almagor. A sombra imponente desse monarca surgiu e fez-se ouvir, lúgubre, impressionante a sua voz:
— Chorai, ó mulheres tártaras! Chorai lágrimas salgadas de aflição e desespero! Chegou o último dia do povo Ouigur!
Sensibilizadas com as palavras do rei tão querido, que o amor à pátria fizera erguer da tumba, as mulheres puseram-se a chorar. E prantearam suas amarguras, dia e noite, sem descanso. Ordenaram os vencedores que elas dessem fim àquelas lamentações aflitivas. As mulheres de Ouigur, porém, não atenderam à intimação dos tiranos e continuaram com seus gemidos e soluços. Era ordem do rei Almagor, e que faziam elas senão obedecer ao rei?
Os guerreiros de Gengis Khan, exasperados com aquelas lamúrias intermináveis e impelidos por indomável furor sanguinário, degolaram, sem piedade, todas as prisioneiras. As infelizes escravas, porém, mesmo depois de mortas, continuaram a chorar incessantemente, e as suas lágrimas ardentes e abundantes, em gotas e gotas sem fim, formaram caudalosa corrente. Esse rio de prantos invadiu o vale, submergindo jardins, palácios e mesquitas luxuosas.
Surgiu, assim, formado pelas lágrimas das inditosas esposas tártaras, o lago de Szira, em cujo seio dorme, para sempre, a cidade de Almagor.
E ainda hoje (afirmam os menos incrédulos) o viajante que se aproxima, no silêncio da noite, das margens do famoso lago ouve o eco de estranho clamor, longínquo e misterioso, que se perde pelas estepes geladas. É a voz do rei Almagor no seu último e desesperado apelo:
— Chorai, ó mulheres tártaras, chorai!
Asseguram os sábios pesquisadores, é mais fácil, talvez, acreditar nessa lenda do que descobrir, dentro dos ditames, postulados e princípios da ciência, uma hipótese capaz de explicar a origem daquelas ruínas misteriosas que repousam no fundo de um lago gelado em meio da planície siberiana.
Fonte:
Malba Tahan. Novas Lendas Orientais.
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