Conheci-o muito, muito pequeno. A bem da verdade, tanto ele, o rio, quanto eu, este à-toa, éramos muito, muito pequenos. E, em nossa pequenez, pequeneávamos pela vida, grande, tão grande quanto o mar, destino de um rio.
À margem do rio, do pequeno rio de minha infância, a mata ciliar cobria os olhinhos dele de muito verde, esperança viva de ver de perto o que o mundo tem: casa, gente, bicho, planta e céu, muito céu sobre o rio, o mar.
Nós, o rio e eu, sabíamos que a vida passa como passa um pássaro, sem pouso fixo na mão da gente, no olhar do bicho, no pé da planta, no céu da casa e no cais do céu. A vida é um canarinho, um vão pardal voando livre.
Livre, de manhãzinha, cruzava o rio, o pequeno rio, com meus barquinhos. Tinha-os feito à tarde outra, ao chegar da escola. Eram iguais às caravelas!... Não descobririam o Brasil, mas um país de peixes, um estado novo, a pesca.
Caindo o dia, ribeira azul, o pequeno rio e este velho amigo, crianças, contaríamos um ao outro o que vimos daquele dia, das barcarolas, das canoinhas, sem nada, quase nada de histórias. Assim, inventaríamos tudo. Tão bom!...
O rio, sem saber do mar, e eu, sem saber do mal, fomos crescendo juntos, envelhecendo as mágoas que, desde a foz, trazíamos todas, como marcas d'água nessa limpidez, nessa face fria que é só disfarce em nós. Tempo: mágoa.
A bem da verdade, tanto ele, o rio, quanto eu, este à-toa, inda somos muito, muito pequenos. E, em nossa pequenez, pequeneamos pela vida, grande, tão grande quanto o lar, destino de um filho, dois filhos do Pai: o mar.
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Texto enviado pelo autor.
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