No início de 1955, quando para aqui mudei, havia dois jornais em Maringá: “O Jornal”, de circulação diária, e o semanário “A Hora”. Um dia, cerca de três meses após minha chegada à cidade, peguei a monareta e fui conhecer a redação de “A Hora”, localizada numa casinha de madeira na Zona 2. Lá encontrei o Chico de Souza, mistura de gerente, vendedor de anúncios, editor e tudo o mais. Apresentei-me, disse que gostava de escrever e perguntei se ele aceitaria colaboração. “Aceito sim, disse ele, e se quiser comece agora”. Tomei um susto, claro. Chico explicou que precisava fechar a edição, mas faltava o editorial. O redator-chefe adoecera na véspera e ele estava ali sem saber o que fazer. Indaguei qual seria o assunto. “É contra o prefeito”, acrescentou, dando as razões da briga. O prefeito era o Villanova, a quem eu só conhecia de nome. Mas tudo bem: sentei-me diante de uma velha máquina Remington e em poucos instantes o artigo estava pronto. Ele leu, arregalou os olhos, chamou o tipógrafo: “Rapidinho, cara, componha este texto e ponha pra rodar”.
Só depois dessa agitada cena o Chico me convidou para tomar um cafezinho e iniciou o interrogatório: quem era eu, de onde vinha, se queria emprego no jornal e coisa e tal. Respondi que desejava apenas publicar uma crônica semanal, sem remuneração. Aceita a oferta, assim se fez. O problema foi o remorso que bateu dias após, quando vi de perto pela primeira vez o prefeito Inocente Villanova Júnior e com ele bati um papo rápido. O homem era uma simpatia, um herói lidando com os desafios de uma prefeitura sem dinheiro e com mil coisas a serem feitas a curtíssimo prazo. Nunca mais falei mal dele...
“A Hora” era um jornal valente, composto numa daquelas tipografias antigas, sem nenhum desses recursos eletrônicos que hoje fazem maravilhas. O outro informativo da cidade, bem mais moderno (tinha até linotipo e impressora rotativa), era o “O Jornal de Maringá”, do saudoso jornalista Ivens Lagoano Pacheco, ancestral do atual “Jornal do Povo”, do nosso veterano mestre Verdelírio Barbosa.
Chegava a ser surpreendente um lugar tão novinho já contar com dois jornais de boa qualidade. Mas foi ali que os primeiros jornalistas de Maringá começaram a influir decisivamente na construção da história do município. Os maringaenses mais antigos se lembram do poder de influência dos editoriais do Ivens, dos artigos de Dom Jaime Luiz Coelho, do Dr. Mário Urbinatti, do Dr. Hellenton Borba Cortes, do Dr. Altino Borba.
Além dos dois jornais, havia a Rádio Cultura, a emissora pioneira, que por vários anos foi a única porta-voz da geração que inaugurou esta jovem urbe. Depois vieram outros jornais, outras emissoras de rádio, a televisão... Legal lembrar tudo isso.
(Crônica publicada no “Jornal do Povo” – Maringá – 12-3-2020)
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Texto enviado pelo autor.
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