domingo, 31 de dezembro de 2023

Daniel Maurício (Olhares) 2


Alma Borboleta
Nos teus olhos embaçados
Uma gota de lua
Insiste em te manter acordada
Mesmo já tão cansada
Das dores da madrugada
Agarra-se a um ponto de luz.
Ardem as veias intoxicadas...
Mas a alma borboleta
Sempre criança espoleta
Não deixa de visitar o jardim.
Beija uma flor
Colhe palavras
Como se fossem ramalhetes
Pra colorir seus versos e bilhetes
Espalhando tanto amor.
Na carona do vento plana suave
Tão leve como uma nave
Economiza energia
Pois sabe que vem outro dia
E por entre nuvens tem que atravessar.
Voa borboleta destemida
Pois meu olhar
É unguento pra tuas feridas
Uma flor desenho pra te alegrar.
Uma lágrima solitária
= = = = = = = = = 

APEDREJAMENTO

As pedras
criam asas,
nas mãos
da intolerância.
= = = = = = = = = 

A tarde
vai fechando
os olhos.
Os pardais
nos beirais
chilreiam.
Minha mãe
chuleia
uma meia.
Meus olhos
fixos
nos quadros,
no relógio
que eternamente
marca seis horas.
= = = = = = = = = 

A vida passa
menos pro velhinho
da praça
que parece ter encruado
com o tempo.
= = = = = = = = = 

Cabelo de sol
levanta as estrelas
dissipando a noite,
aquece a minha alma
calejada de solidão.
Cabelo de sol
acalma meu peito aflito
que revive o pulsar da paixão.
Cabelo de sol
queimas minha pele
num beijo desprotegido
que deseja muito mais
que um amor de verão.
= = = = = = = = = 

Com o tempo,
alguns lugares
algumas pessoas
algumas casas
ainda me olham
saudosos.
Mas a minha
Jaguariaíva
continua
ardendo
no meu peito.
= = = = = = = = = 

DESPEDIDA

Um olhar perdido
no infinito,
Casas e árvores
correm.
Meus olhos
presos no
espelho
do automóvel
e eu imóvel, 
vejo uma mão
que acena.
Minha mãe.
Meu Deus!
Eu penso.
Adeus?
Me pergunto.
O vento bate
em meu rosto,
estou indo
embora.
= = = = = = = = = 

ECLIPSE

A tímida lua
Vestiu-se
De vermelho
Sob os olhares
Curiosos
Nuamente linda
Toma banho
De sol.
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FOLHAS SECAS

As folhas secas
são almas
de borboletas
aprendendo
a voar.
= = = = = = = = = 

 Na memória dos tempos
Arde a fogueira improvisada
Onde causos e risadas
Se misturavam às refeições.
O cheiro gostoso de café no ar
Acorda o acampamento
Que sem nenhum lamento
Se levanta pra tocar o gado com amor.
Mas no caminho mais uma carcaça
Faz da onça o alvo da caça
Que aos poucos por aqui, quase acabou.
Mas ao se pronunciar "Jaguariaíva"
Ruge o espírito da onça altiva
Margeando o "rio da onça ruim".
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O ESPELHO

O espelho que há
em tuas palavras
não me deixa
mentir.
= = = = = = = = = 

o presente
voa apressado
para o futuro,
transformando- se
em passado.
Passarinho
colorido
torna-se
encantado.
= = = = = = = = = 
Daniel Maurício. Olhares. Curitiba/PR: Ed. do Autor, 2021.
Enviado pelo poeta.

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