em andante de sonata,
dispõe notas de amargura
no pentagrama de prata.
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A lua não se contendo,
sua tristeza desata
e as lágrimas vão descendo
pelas esteiras de prata.
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Brota a semente ao milagre
da vida em continuação:
Que o novo fruto consagre
as bênçãos que vêm do chão!
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Cerro os olhos, comovida,
e ainda me faz sonhar
a voz suave e querida
de minha mãe a cantar.
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Chegando ao guichê da vida,
eu compro a minha passagem,
e levo, já de partida,
só saudades, na bagagem.
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Da pena malabarista
(repórter, poeta, escritor),
cumpre pena o jornalista,
penando em qualquer setor.
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Desencantada e vencida,
as armas enfim, deponho;
não há batalha na vida
que reconquiste o meu sonho.
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Desfloram ipês, sem pressa,
de Agosto ao fim da estação,
e a primavera começa
no atopetado do chão.
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Encomendei um feitiço
pra te esquecer, minha linda;
mas reverteu, deu enguiço,
e eu te quero mais ainda.
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Entre pausas e gemidos,
na sua cantiga ingrata,
o vento faz-me aos ouvidos
enfadonha serenata.
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"É por pouco, eu logo parto",
diz a Vaidade, matreira.
Coração cede-lhe um quarto,
e ela invade a casa inteira.
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Lembro os mestres, no passado,
e me enche a alma de dor
ver hoje, tão humilhado,
o antes... Senhor Professor.
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Miragem... sonho às avessas...
Lá do horizonte se alteia
um céu de falsas promessas
sobre um mar de pedra e areia.
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Mulher, que firme resistes,
enfrentando os preconceitos,
que teu prêmio, enfim, conquistes
e assumas os teus direitos!
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Na miséria que o consome,
o mundo, velado e escuro,
é o negativo da fome
no retrato do futuro.
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Na treva de minha vida
treme débil claridade;
é a minha ilusão perdida,
fogo fátuo da saudade.
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Na vida, em sua viagem,
o "poeta fingidor"
finge que em sua bagagem
leva só versos... de dor.
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Ouvindo a doce cantiga
das aves, na madrugada,
bendigo a rama que abriga
tão maviosa alvorada!
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Para esquecer meus fracassos
dei tempo ao tempo, e ele assim,
entregue a outros abraços,
também se esqueceu de mim.
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Para quem olha, somente,
jangada é poema-canção;
para quem aos pés a sente,
é a incerteza do seu pão.
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Pela vida, passo incerto,
sem amigo, sem escolta,
sou beduíno no deserto,
em viagem que não tem volta.
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Resto de amor que não vibra,
que chega alquebrado e tarde
é sentimento sem fibra,
é fogo que já não arde.
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Sortilégio ou bruxaria,
que importa o nome que eu der,
se vivo preso à magia
desse feitiço-mulher?!
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Um pensamento secreto
faz o milagre. Eu ajoelho
e o teu perfil vem, discreto
refletir-se em meu espelho.
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Vendo a existência que finda,
torno ao fio de nossas vidas
querendo que o tempo, ainda,
resgate as horas perdidas.
Fonte: Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.
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