quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Luiz Damo (Trovas do Sul) LIII


A abelha durante o dia
não para de trabalhar,
nunca fez engenharia
e faz tudo sem falhar.
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Água por todos os lados
de ilha podemos chamar,
triste é ficarmos ilhados
sem que possamos nadar.
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A justiça, embora tarde,
nunca deverá falhar,
inimiga do covarde
que não quer se revelar.
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Altos montes ou baixadas
por florestas revestidas,
pelas fontes são regadas
prometendo novas vidas.
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As gotículas de chuvas
descendo nos parreirais,
se misturam com as uvas
formando doces cristais.
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Das flores gostamos tanto
pelo perfume que exalam,
são templos do puro encanto,
com ternura elas nos falam.
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Do semblante da criança
tão sorridente a brincar,
brotam raios de esperança
que ajudam a iluminar.
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Doze meses o ano tem,
trinta dias tem um mês,
sete a semana contém
tempo que o mundo Deus fez.
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Ecos podem ser ouvidos
num silêncio singular,
podendo ser confundidos
com distúrbio auricular.
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Lares fartos de ternura,
campos cheios de verdor,
sobre a mesa da cultura
brilhe a chama do labor.
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Muitos sonhos são desfeitos
por falta de consistência,
buscamos os mais perfeitos
nos caminhos da existência.
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No cantar dos passarinhos
Deus também se manifesta,
cantos cobrem os caminhos
e transformam as florestas.
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Nos abismos do passado,
talvez um projeto antigo,
jaz em dores, transpassado,
esperando um solo amigo.
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Nossa luta pela vida
no nascimento começa,
sendo apenas concluída
quando a morte se atravessa.
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Nossos rios e lagoas
estão sendo poluídos,
quase ninguém canta loas
por julgarem já perdidos.
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Nunca devemos correr
quando o certo é devagar,
antes, sempre socorrer,
que o socorro mendigar.
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Onde quer que a luz esteja
é lá que estaremos nós
e assim o mundo nos veja
conhecendo a nossa voz.
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Os caminhos da verdade
às vezes não são floridos
e os espinhos da maldade
machucam nossos sentidos.
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Outrora a "palavra" tinha
sotaque de um documento
e a fonte donde ela vinha
era mais que um testamento.
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Quem nunca soube plantar
como pode pretender,
algum sonho alimentar,
ou de bons frutos colher?
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Tendo flores nos caminhos
bons perfumes vou sentir,
porém se tiver espinhos,
são dores: por quê mentir?
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Se as águas forem cercadas
pela terra firme e boa,
mesmo que estejam paradas
não passam duma lagoa.
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Se quisermos comer pão
trigo devemos plantar,
para tê-lo sempre à mão
no almoço, café e jantar.
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Toda mãe devia ser
um Anjo feito pessoa,
onde o filho possa ver
uma santa que se doa.
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Tudo passa tão depressa
que por vezes perde a graça,
quando a confiança cessa
um novo contexto traça.
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Um terreno pedregoso
nunca se deve escolher,
pra não tornar-se oneroso
o fruto que for colher.
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Fonte: Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014. Enviado pelo autor.

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