Você conhece alguém que seja macérrimo? Certamente, sim. Calma, isso parece palavrão, mas é só o superlativo erudito de "magro". Se você já esqueceu, superlativo é uma das flexões de grau do adjetivo. Não se assuste com os nomes, aparentemente complicados. Adjetivo você lembra o que é. É palavra que modifica um substantivo, atribuindo-lhe qualidade, característica, estado etc.
Em "prefeito incompetente", "prefeito" é substantivo, e incompetente" é adjetivo. Pode-se querer realçar a qualidade que o adjetivo indica, e para isso existem alguns recursos. Um deles é lançar mão de um reforçador direto desse adjetivo. Pode-se dizer, por exemplo, "prefeito muito incompetente" ou "prefeito extremamente incompetente".
Outro recurso é usar um sufixo, elemento que se coloca no fim da palavra que se quer modificar. No caso do prefeito, pode-se dizer que ele é "incompetentíssimo". O sufixo "-íssimo" eleva o adjetivo ao grau superlativo. O superlativo de "incompetente" não causa surpresa, o que também ocorre com o de alto (altíssimo), rico (riquíssimo), inteligente (inteligentíssimo), fraco (fraquíssimo) e tantos outros.
O problema começa quando, na passagem para o superlativo, a raiz do adjetivo se altera e volta para a língua de origem – o latim, por exemplo. Surgem então as chamadas formas eruditas, que costumam surpreender muita gente. E o caso de "macérrimo", que nada mais e do que o superlativo de "magro".
Quem é muito magro é macérrimo. Duro é convencer alguém a usar isso na mesa do bar. O que as pessoas dizem mesmo é "magérrimo", que os dicionários ou não registram ou dão como mera forma popular. Vale lembrar que é mais do que legítima a forma "magríssimo", apoiada na raiz portuguesa da palavra.
Vamos ver outros superlativos eruditos: o de negro é nigérrimo; o de nobre é nobilíssimo; o de soberbo é superbíssimo; o de pobre é paupérrimo; o de cruel é crudelíssimo. Caetano Veloso compôs uma obra-prima chamada "O quereres" ("Onde queres revólver, sou coqueiro…"), Na letra, há uma passagem ("construir-nos dulcíssima prisão") em que Caetano faz uso do superlativo erudito de "doce" ("dulcíssimo"). Trata-se de uma canção popular, escrita, porém, em português mais do que culto, o que é bastante comum na obra de Caetano.
Na língua do dia-a-dia, recentemente surgiu um sufixo que também denota o superlativo. Trata-se do "-ésimo", que se ouve em palavras como "gostosésimo", "chiquésimo", "tranquilésimo”, etc. Seu uso é limitado à linguagem publicitária e a algumas situações com familiares ou amigos. Surgiu também, de início na linguagem da garotada e agora em várias faixas etárias, o superlativo feito com "mó"; "mó legal", "mó frio", "mó chato", "mó bom".
Voltando à flexão culta, uma surpresa. As gramáticas e os dicionários dizem que alguns adjetivos terminados em "io", como frio, sumário, sério, devem ter o "i" dobrado na passagem para o superlativo; friíssimo, sumariíssimo, seriíssimo.
Acredite se quiser. Use se tiver coragem.
Fonte: Pasquale Cipro Neto. Inculta & Bela. SP: Publifolha, 1999.
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