terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Professor Garcia (Pantuns) VI

Por definição, o Pantun é um poema de origem Malaia, composto por 4 estrofes de 4 versos cada um, no sistema ABAB. É uma composição poética e musical que faz parte do folclore malaio, no qual o tema mais comum é o amor e surgiu por volta do século XII. Diria que é um tanto quanto desconhecido -e pouco explorado pelos, poetas brasileiros; mas um Pantun bem acabado, torna-se uma composição muito atrativa,

Para se compor um Pantun, escolhe-se, inicialmente, uma boa trova de alguém, podendo ser do próprio autor. A trova escolhida passa a ser a trova tema do Pantun. Dela, surgirão 4 novas estrofes, obedecendo ao sistema ABAB. 

Atenção: tanto da trova tema quanto das novas trovas, o 3° verso é descartado, usando-se apenas o 2o e o 4o versos, e em cada estrofe surgem dois versos novos até o final. Além disso, finaliza-se o 4o verso da última estrofe com o 1o verso da trova tema.

Nem toda trova, por mais bela que seja, pode originar um bom Pantun, é bom ficar atento a esse detalhe. 

PANTUN DO VELHO ABANDONO

Trova tema:
Faminta e desprotegida,
vagando em busca do nada,
ganha o mundo e perde a vida
a criança abandonada.
(Zé Lucas-RN)

Vagando em busca do nada, 
perdida e sem esperança,
a criança abandonada,
mata o sonho de criança!

Perdida e sem esperança,
segue a criança tristonha!...  
Mata o sonho de criança!
Mas é feliz quando sonha!

Segue a criança tristonha,
exposta aos amores vis,
mas é feliz quando sonha,
que um dia será feliz!

Exposta aos amores vis,
mas pela vida iludida,
que um dia será feliz
faminta e desprotegida!
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PANTUN DO AMANHECER

Trova tema:
Da janela, o amanhecer
reluz sopros de esperança...
E a vida, em seu renascer,
lembra um sonho de criança!
(Eva Garcia-RN)

Reluz sopros de esperança
e, o sonho da vida em flor,
lembra um sonho de criança
na primavera do amor.

E, o sonho da vida em flor,
é a força que nos conduz;
na primavera do amor,
é sempre de paz e luz.

É a força que nos conduz,
em busca da eterna paz,
é sempre de paz e luz
e o sonho, ninguém desfaz.

Em busca da eterna paz,
vivo a sonhar e a sofrer;
e o sonho, ninguém desfaz,
da janela, o amanhecer!
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PANTUN DA VOVÓ SERENA

Trova tema:
Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela...
(A. A. de Assis – PR)

A vovó, serena e bela,
é feliz como criança;
entre o novelo e a novela...
Enche a vida de esperança.

E feliz como criança;
hoje, não faz nada à toa,
enche a vida de esperança,
vovó que tudo perdoa.

Hoje, não faz nada à toa,
ante o tempo carrancudo,
vovó que tudo perdoa
faz graça de quase tudo.

Ante o tempo carrancudo,
da infância sente saudade...
faz graça de quase tudo,
curvada ao peso da idade!
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PANTUN DA POBRE MARIA

Trova tema:
Maria é um resto somente
no cais largada ao desdém
quem foi mar de tanta gente
hoje é porto de ninguém!
(Tadeu Hagen – MG)

No cais largada ao desdém
pobre Maria do cais,
hoje é porto de ninguém
na solidão de seus ais.

Pobre Maria do cais,
entre a tristeza e a saudade,
na solidão de seus ais,
distante da flor da idade.

Entre a tristeza e a saudade,
Maria, pobre Maria,
distante da flor da idade,
abraça a vida vazia.

Maria, pobre Maria,
velha, esquecida, indigente,
abraça a vida vazia.
Maria é um resto somente.
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PANTUN DA OGIVA DO AMOR

Trova tema:
Lanço a bomba do meu sonho,
ogiva de paz e amor,
e o cogumelo medonho
ganha formato de flor.
(Cézar Defilippo – MG)

Ogiva de paz e amor
se eu lanço aos céus, todo dia,
ganha formato de flor
entre ogivas de poesia.

Se eu lanço aos céus, todo dia,
conselhos bons aos perversos,
entre ogivas de poesia
eu mostro a paz nos meus versos.

Conselhos bons aos perversos,
não peçam mais, por favor,
eu mostro a paz nos meus versos,
ante os sobejos do amor.

Não peçam mais, por favor,
que eu faça um verso tristonho;
ante os sobejos do amor,
lanço a bomba do meu sonho.

Fonte> Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017. 
Enviado pelo autor.

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