Partirei bem mais triste e tão sozinho,
deste mundo feliz que tanto amei,
ao lembrar da alegria do meu ninho,
nos instantes felizes que passei.
Peço a Deus que me mostre outro caminho,
sem fronteiras, por onde eu passarei,
de onde eu possa enxergar mais um pouquinho
deste mundo que um dia eu deixarei.
Não desejo partir. Pai, nem tão cedo,
mas eu sei que esta vida tem segredo
que jamais a ninguém vai revelar.
O que quero é esquecer meus pesadelos,
curtir muito esta paz dos meus cabelos
no meu simples, feliz e doce lar!
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NOITE ENLUARADA
Quando a lua clareia a noite escura,
rasga o manto das trevas seculares,
eu contemplo a mais linda criatura,
versejando, no topo dos altares.
Poetisa que inspira, com brandura,
nossos prantos, soluços e cantares...
Lua cheia, no céu, doce ternura,
que enfeitiça o poeta, encanta os mares.
Da varanda do quarto, abro a janela,
para vê-la, no céu, tão pura e bela,
desfilando sozinha na amplidão...
E eu, sozinho, em meu quarto, estendo os braços,
adormeço, matando os meus cansaços,
contemplando o luar na solidão!
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OBSTINAÇÃO
Quando eu vejo, no espelho, a crueldade
que uma réstia do tempo me causou,
eu percebo, de fato e na verdade,
que o meu tempo de infância já passou.
Até hoje eu carrego, com saudade,
tudo aquilo que o tempo me levou.
Dos feitiços banais da mocidade,
a lembrança foi tudo que restou.
E ao lembrar desta infância tão querida,
nunca esqueço do amor de minha vida,
descoberto na infância, certa vez.
E este amor que, na vida, foi meu sonho,
na velhice me torna mais risonho,
explodindo o meu lar com sensatez!
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SENTIMENTO
Quando o dia se apressa e vai embora,
num silêncio que fere e que angustia,
a tristeza me invade e me devora,
nos instantes de dor do fim do dia!
Como quem diz adeus e triste chora,
vai-se o sol, num delírio de agonia,
e a cortina da noite, Deus decora,
com luz tênue, de vã melancolia.
Já distante, nas trevas, muito além,
a tristeza me acena, como quem
se despede de alguém que já morreu.
Foi apenas a luz de um dia lindo,
que cansada, acenou quase dormindo,
e, nos braços da noite, adormeceu!
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TEU RETRATO
Na moldura, contemplo o teu retrato,
que me deste sorrindo, um certo dia,
e por vê-lo, confesso e te relato,
que ainda vivo este sonho e fantasia.
Passa o tempo e não passa esta alegria
que conservo na mente e não maltrato,
porque sem conservá-la, a nostalgia,
transformava este sonho em sonho ingrato.
Vendo o teu rosto lindo e sedutor,
como eu lembro da força deste amor,
nestes seus lábios ternos, sensuais...
Ah! Que pena que o tempo nada sente,
e o que guardo comigo eternamente,
é uma foto, consolo dos meus ais!
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Fonte: Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017.
Enviado pelo poeta.
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