Após ser socorrida e medicada, Enila permaneceu em observação e se manteve por muitas horas em sono profundo.
No dia seguinte, logo nos primeiros raios do amanhecer, ela despertou. E sua mãe que havia passado a noite sentada ao lado de sua cama, sorriu aliviada.
- Filha, tudo bem? Estás a sentir alguma dor?
- O que aconteceu?
- Aparentemente, caíste do cavalo.
- Ah, sim, lembrei.
- Por sorte, sofreste ferimentos leves, mas poderia ter sido muito pior.
- Me ajude a sentar. Estou com o corpo um pouco adormecido.
- Claro, filha.
- Espera. Não consigo mexer as pernas.
- O que disse?
- Mãe, chame o médico. Não consigo mexer minhas pernas – pediu, assustada.
A mãe saiu gritando pelos corredores – Socorro! Socorro! Socorro!
Ao examiná-la, realizaram alguns testes de sensibilidade.
- Não sinto nada, doutor.
- Fica calma. Vamos fazer uns exames para ver o que está acontecendo.
Dona Eliana juntava as mãos em prece pela filha, que pouco tempo depois recebeu o diagnóstico.
- Querida Enila, precisas ser forte. Vou dar o diagnóstico sem delongas: fraturaste a coluna. Estás paraplégica.
- Não! – gritou a mãe.
Enila desmaiou outra vez ao receber a notícia.
Toda a família se compadeceu. Vó Gorda repetia: eu avisei. Mas não adianta, quando é pra acontecer...
Enquanto estava hospitalizada, Enila recusou receber a visita do noivo. Sentia que sua vida estava destruída. Recusou até mesmo a visita de Isadora, sua amiga de todos os momentos. Mergulhou em profunda tristeza e pediu a Deus que a levasse, pois seus sonhos estavam desfeitos.
Dias depois retornou para casa em uma cadeira de rodas. Foi recebida por todos em clima de festa. Inclusive pelo noivo, que a recebeu de braços abertos, flores e embrulhos de presentes.
Ela se sentia envergonhada. Jamais se imaginou numa situação parecida.
Seu pai e seu irmão Bruno, conteram as emoções
- Eu vou cuidar de ti ,“fia”. Tu está viva. Isso é o que importa – disse Vó Gorda, mimosa, apertando – a num abraço fofo.
- Quero pilotar essa cadeira. Logo poderei ficar mais em casa – disse o irmão.
Isadora, em silêncio, lhe deu um presente. Era um retrato das duas brincando no jardim quando crianças.
- Meus amores, agradeço muito o carinho de todos, mas preciso ficar um pouco a sós com Júlio.
Todos saíram da sala para que eles pudessem conversar à vontade.
Júlio teve o impulso de beijá-la... Mas Enila o rejeitou.
- Por que está me evitando?
- Precisamos romper o nosso compromisso – disse ela revolvendo a aliança.
- Não tens culpa sobre o que aconteceu. Jamais te abandonaria. Não sejas injusta.
- Não sejas tolo. Como poderei cuidar da nossa casinha e te dar filhos? Logo te cansarás de mim.
- Podemos contratar empregadas para cuidar das tarefas domésticas, pagar bons médicos para tratar do teu restabelecimento. Quanto aos filhos, acho que nada nos impedirá. Não te deixarei. A não ser que...
- A não ser que?
- Que nesses dias de solidão no hospital, descobriste que não me amas o suficiente para passar o resto de teus dias comigo.
- Nada disso. Só estou tentando ser racional.
- Amor, confesso que estou me sentindo um pouco ofendido com tuas atitudes. Parece estar pondo em dúvida meu caráter e meus sentimentos. Sei que estás nervosa com a nova condição. E relevarei tudo o que dissestes. Aliás, já esqueci.
Me dê tua mão, quero recolocar o anel. E não tire mais. Pessoal, voltem para a sala. Família tem que permanecer unida.
No quarto, em frente ao seu altar de Orixás, Vó Gorda intercedia, pedindo pelo casal.
- O amor há de vencer – disse ela com seu rosário na mão.
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continua…
Fonte: Texto enviado pela autora
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