sábado, 16 de dezembro de 2023

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) – Capítulo 25: Momentos de incertezas

Após ser socorrida e medicada, Enila permaneceu em observação e se manteve por muitas horas em sono profundo. 

No dia seguinte, logo nos primeiros raios do amanhecer, ela despertou. E sua mãe que havia passado a noite sentada ao lado de sua cama, sorriu aliviada.

- Filha, tudo bem?  Estás a sentir alguma dor? 

- O que aconteceu? 

- Aparentemente, caíste do cavalo.

- Ah, sim, lembrei. 

- Por sorte, sofreste ferimentos leves, mas poderia ter sido muito pior. 

- Me ajude a sentar. Estou com o corpo um pouco adormecido. 

- Claro, filha.

- Espera. Não consigo mexer as pernas.

- O que disse?

- Mãe, chame o médico. Não consigo mexer minhas pernas – pediu, assustada. 

A mãe saiu gritando pelos corredores – Socorro! Socorro! Socorro!

Ao examiná-la, realizaram alguns testes de sensibilidade. 

- Não sinto nada, doutor.

- Fica calma. Vamos fazer uns exames para ver o que está acontecendo. 

Dona Eliana juntava as mãos em prece pela filha, que pouco tempo depois recebeu o diagnóstico.

- Querida Enila, precisas ser forte. Vou dar o diagnóstico sem delongas: fraturaste a coluna. Estás paraplégica. 

- Não! – gritou a mãe. 

Enila desmaiou outra vez ao receber a notícia. 

Toda a família se compadeceu. Vó Gorda repetia: eu avisei. Mas não adianta, quando é pra acontecer...

Enquanto estava hospitalizada, Enila recusou receber a visita do noivo. Sentia que sua vida estava destruída. Recusou até mesmo a visita de Isadora, sua amiga de todos os momentos. Mergulhou em profunda tristeza e pediu a Deus que a levasse, pois seus sonhos estavam desfeitos.

Dias depois retornou para casa em uma cadeira de rodas. Foi recebida por todos em clima de festa. Inclusive pelo noivo, que a recebeu de braços abertos, flores e embrulhos de presentes.

Ela se sentia envergonhada. Jamais se imaginou numa situação parecida.

Seu pai e seu irmão Bruno, conteram as emoções 

- Eu vou cuidar de ti ,“fia”. Tu está viva. Isso é o que importa – disse Vó Gorda, mimosa, apertando – a num abraço fofo. 

- Quero pilotar essa cadeira. Logo poderei ficar mais em casa – disse o irmão.

Isadora, em silêncio, lhe deu um presente. Era um retrato das duas brincando no jardim quando crianças. 

- Meus amores, agradeço muito o carinho de todos, mas preciso ficar um pouco a sós com Júlio. 

Todos saíram da sala para que eles pudessem conversar à vontade. 

Júlio teve o impulso de beijá-la... Mas Enila o rejeitou.

- Por que está me evitando?

- Precisamos romper o nosso compromisso – disse ela revolvendo a aliança. 

- Não tens culpa sobre o que aconteceu. Jamais te abandonaria. Não sejas injusta.

- Não sejas tolo. Como poderei cuidar da nossa casinha e te dar filhos? Logo te cansarás de mim. 

- Podemos contratar empregadas para cuidar das tarefas domésticas, pagar bons médicos para tratar do teu restabelecimento. Quanto aos filhos, acho que nada nos impedirá. Não te deixarei. A não ser que... 

- A não ser que? 

- Que nesses dias de solidão no hospital, descobriste que não me amas o suficiente para passar o resto de teus dias comigo.

- Nada disso. Só estou tentando ser racional. 

- Amor, confesso que estou me sentindo um pouco ofendido com tuas atitudes. Parece estar pondo em dúvida meu caráter e meus sentimentos. Sei que estás nervosa com a nova condição. E relevarei tudo o que dissestes. Aliás, já esqueci.

Me dê tua mão, quero recolocar o anel. E não tire mais. Pessoal, voltem para a sala. Família tem que permanecer unida. 

No quarto, em frente ao seu altar de Orixás, Vó Gorda intercedia, pedindo pelo casal. 

- O amor há de vencer – disse ela com seu rosário na mão.
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continua…
Fonte: Texto enviado pela autora 

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