terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Agostinho Craveiro (Trilogia do Amor)


EFÊMERO

A seara ondulava
Sensual
E as papoulas
Efemeras
Adornavam o cenário
Que embalava
O voar das borboletas
Assim eras tu
Em Maio
Na frescura dos caminhos
Radiante
Com o mundo a teus pés
Gostavas do teu brilho
E embriagavas-te
Na imagem do espelho
Que enfeitavas
Com as cores
Duma eterna primavera
Esqueceste os aromas da terra
E não viste que os deuses
Despreocupados
Em olímpico tédio
Jogavam o teu destino
Em jogo de dados
Dedilhado
Em acordes chorados
O espelho fragmentou-se
E não percebeste
A sensação de frio
Nos caminhos que te levaram
À solidão
Dum palco vazio.

DANÇA

Estavas tão concentrada
No papel de Margot
Que não vias
No canto da sala
Os olhos suspensos
No teu respirar
Eram mais uns
Na plateia domada
Enquanto dançavas
Como ninguém
E as pétalas das rosas
Rendidas
Vertiam perfume
Ao teu rodopiar
A carruagem partiu
Na meia-noite temida
Deixando no ar
Da sala hipnotizada
O aroma envolvente
A promessa de vida
Da cinderela alada
Desci a avenida
Nureyev a dançar
Enquanto desenhava
Com a pétala que restava
A musa encantada
Saída do sonho
Do teu esvoaçar.

PRIMAVERA

Éramos jovens potros
Imunes ao receio
E a primavera de Vivaldi
Em harmonia vibrante
Era o primoroso retrato
Do nosso entusiasmo
No galopar sem freio
A seara ondulava, sensual
E viajávamos no sonho
Embalados no rumor da aragem
Que escrevia
Nas folhas dos freixos
Sinfonias à nossa passagem
A paixão das cigarras
Morava dentro de nós
E a linha do horizonte
Meta por conquistar
Era a tela
Dos planos traçados
Dum mundo por desbravar
Adormecia nos teus braços
Em noturno de Chopin
Terna e doce vassalagem
E só o romper da aurora
Rebate do mundo lá fora
Quebrava o feitiço da viagem.

Fonte:
Colaboração de Silviah Carvalho

Um comentário:

Unknown disse...

Bom vê-lo aqui Agostinho, fico muito feliz.
Bjs.