domingo, 20 de novembro de 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 5)


ARRASTAR A ASA
Arrastar a asa para uma mulher é tentar conquistá-la com galanteios, fazendo charme. É o que o galo faz para conquistar uma galinha. Por isso, o galo capenga, de asa arriada, morre cedo: overdose de sexo.

BABAU!
Há três versões para a origem da interjeição indicativa de coisa perdida para sempre, o leitor escolhe:
(a) é uma onomatopéia (palavra imitativa de som, como tiquetaque, zunzum...);
(b) veio do quimbundo (língua africana) babau, que significa "foi-se";
(c) veio de baba, com o argumento de que a exclamação é freqüentemente acompanhada do gesto de passar as costas da mão do pescoço ao queixo e estendê-la aberta em frente ao rosto, indicando que a pessoa babou e não comeu.
O troféu criatividade vai para a última concorrente.

BAGULHO
O latim baga (baga) originou o português baga, fruto carnoso com sementes (como o tomate, a uva, o mamão) ou, por semelhança, gota. Baga é a origem de (a) bagaço, com a terminação aumentativa e pejorativa -aço e (b) bagulho, com a terminação diminutiva e depreciativa -ulho. Bagulho é o nome que se dá à semente (carocinho) da uva e de outros frutos. Por analogia e extensão ganhou o sentido de objeto usado ou de má qualidade, ampliado depois para coisa, troço.
Voltando ao latim baca, daí veio o italiano bagatelia (coisa sem valor), que deu o português bagatela, com o mesmo sentido. Depois, o uso popular, por ironia, deu-lhe o sentido oposto (quantia exagerada), com que aparece hoje mais freqüentemente - "o carro custou a bagatela de US$80 mil".
Baga foi para o masculino e ficou bago, com o significado inicial de cada fruto de um cacho de uvas; depois vieram outros sentidos, por analogia: qualquer fruto parecido com a uva, conta de rosário.

BAITOLA
A palavra teria surgido durante a construção da primeira estrada de ferro do Ceará. O chefe da obra, um engenheiro inglês, afetadíssimo para os padrões locais, vivia advertindo os trabalhadores para terem cuidado com a "baitola", que era como ele pronunciava a palavra bitola (a distância entre os trilhos). Então, alguns trabalhadores, convictos de que afetação não é coisa de macho, criaram baitola para designar o homossexual passivo.
E aí está o leitor a torcer o nariz. Tudo bem, tem cheiro de historinha, mas, até hoje, os etimólogos só encontraram essa explicação para a origem da palavra.

BANAL
Do francês banal. O sentido original da palavra banal, tanto em francês como em português, surgiu na época do Feudalismo: banal era tudo aquilo que pertencia ao suserano (o senhor) e era utilizado pelos vassalos (seus súditos). Assim, um moinho de um feudo, utilizado por todos os habitantes, era um moinho banal, sinônimo de comunitário. A partir daí, a palavra, nos dois idiomas, teve seu sentido ampliado para o de comum, vulgar.
O francês banal veio de ban, a proclamação do senhor feudal em seu território. Depois ban ganhou o sentido de comunidade formada pelos vassalos e seus semelhantes sob o comando do mesmo suserano. Como o espaço em que o suserano exercia esse comando era afastado e ficava fora das muralhas de seu feudo, recebeu em francês o nome de banlieue (ban + lieue, légua), palavra que hoje significa arredores, subúrbio.
O francês antigo ban também gerou a palavra bandon, autoridade, poder. Daí veio abandonner -a + bandon + (n)-er-, com o sentido literal de deixar alguém sob seu próprio e exclusivo arbítrio, origem do português abandonar.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

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