domingo, 12 de janeiro de 2014

Miguel Carneiro (Balada do Cangaceiro sem Mãe e Outras Baladas) I

Balada do Voluntário da Pátria
Quando a guerra,
mostrou a sua verdadeira face,
beijei minha mãe em despedida,
e fui embora pro “front”.
Minha mãe continuou chorando
na beira daquele cais.
Enquanto o navio singrava
por águas repletas de sais.

Durante três semanas
naveguei naquele oceano,
com um único plano,
de eu não vir a me ferir.
A guerra tem dessas coisas:
A única lógica é
Inevitavelmente sucumbir.

Desembarquei naquelas terras,
E dentre charcos, pântanos e a escuridão,
Eu tinha que me salvar
Levando a bandeira de minha nação.

Balada do Cavaleiro Verde em Busca de Luar

Na garupa de meu cavalo,
vem quem eu possa confiar.
Pelos caminhos do mundo
onde a tirania não possa se instalar.
Levando na retina
a paisagem de cada lugar.
Trilhei por muitas terras
até onde meu galope pode alcançar.

Sempre manso no amor,
carinhoso no tratar,
e cruel na traição.
Na garupa do meu cavalo
só vem quem tem bom coração.
De onde eu vim
não queira me indagar:
Lá eu fiz a revolução.

Guerreei contra brutos,
armado só com o meu facão.
Deixei donzela apaixonada,
em alcova de grande mansão.

Por estradas vou andando,
galopando sem parar.
Meu cavalo é o companheiro,
quando se instala a solidão,
não tenho pouso,
só tenho a liberdade
entre as rédeas da minha mão.

Sou o cavaleiro verde,
vindo de longe do sertão.

O Anjo Exterminador

Coloquem pão ázimo
Por cima dos beirais
Para que eu possa identificar
A casa dos devotos
Tementes ao Senhor
Onde jamais Satanás
Poderá ali um dia
Querer se alojar.

Eu vou derramar dos céus
Chuva de fogo e enxofre
Para que tu possas
Saber que Deus
É o único em que se pode confiar.
Na entrada das cidades
Minha espada desembainhará
E escolherei aqueles que irei matar.

Botem pão ázimo
Em cima de vossos beirais
Para que eu possa identificar
A casa dos devotos
Tementes ao Senhor
Onde jamais Satanás
Poderá nela morar.

O vinho da ira da luxúria
Não mais irão beber
Descerão para as profundezas
Para que nelas se façam esquecer.
Por causa de tuas blasfêmias
Por conta de tuas profanações

Depositem pão ázimo
Por cima dos beirais
Para que eu possa identificar
A casa dos devotos
Tementes a Deus
Onde jamais Satanás
Poderá nela se aconchegar.

Abandonem as cidades
Fujam para as montanhas
Para que eu possa salvar.
Levem consigo seus filhos
a mulher e seus criados.
Levem até os seus animais,
As cidades eu o farei se incendiar.
E do céu um coro de anjos,
Descerá
Para celebrar a grandeza do Altíssimo
Até os séculos se findar.

Fontes:
Miguel Carneiro. Balada do Cangaceiro Sem Mãe e outras Baladas
Imagem = Pintura em tela . textura e tinta acrílica, de Katia Almeida

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