quinta-feira, 16 de julho de 2020

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XVIII


RETRATOS... TEMPO...

MOTE:
Passa o tempo sem demora
e causa tantos maus tratos,
que os meus retratos de outrora
não são mais os meus retratos!
Adalberto Dutra Rezende
Cataguazes/MG, 1913 – 1999, Bandeirantes/PR


GLOSA:
Passa o tempo sem demora,
tal qual um vento bem forte,
e o que vou fazer agora
para encontrar o meu norte?

E o tempo chega inclemente
e causa tantos maus tratos,
que machuca muito a gente
com seus males imediatos!

Sigo triste, vida afora,
e constato com agonia
que os meus retratos de outrora
eram cheios de alegria!

Eu sinto que não mereço
essas imagens. São fatos,
que me cobram alto preço!
não são mais os meus retratos!
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NÃO

MOTE:
Não andem por onde andei,
nem façam nunca o que fiz,
que envelheci e cansei
sem conseguir ser feliz!
Adelmar Tavares
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ


GLOSA:
Não andem por onde andei,
os caminhos são amargos
e, por eles, caminhei,
divagando, a passos largos!

Não sigam o meu exemplo,
nem façam nunca o que fiz,
hoje, o passado eu contemplo
e ele nada bom me diz!

Grande dano me causei!
Vi na procura sem fim,
que envelheci e cansei
e esqueci até de mim!

No tempo cruel, passando,
eu sou o meu próprio juiz
e continuo chorando
sem conseguir ser feliz!
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RELÓGIO

MOTE:
Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar...
Eu quero ser enganado,
quando a velhice chegar!
Amália Max
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014


GLOSA:
Relógio, fique parado!
As horas, não marques mais,
é um pedido emocionado,
para esquecer os meus ais!

É de joelhos que lhe imploro,
não deixe o tempo passar...
Gosto de viver... Adoro!
Eu preciso me salvar!

Quero amar e ser amado!
Se o engano for de amor,
eu quero ser enganado,
pois solidão, causa dor!

E com o passar dos anos,
quero bem jovem estar,
enfrentando os desenganos
quando a velhice chegar!
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ROMANCE TERMINADO

MOTE:
Quase morro de saudade
de um romance terminado,
que o tempo só por maldade
nunca deu por acabado!
Analice Feitoza de Lima
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP


GLOSA:
Quase morro de saudade
dos nossos beijos de amor,
daquela felicidade,
daquele nosso fervor!

Ficou em mim a lembrança
de um romance terminado,
mas não morreu a esperança
de vê-lo recomeçado!

Chorei na realidade
o fim de um amor tão grande,
que o tempo só por maldade
mais e mais, em mim, expande!

O tempo não conseguiu,
matar meu sonho sonhado,
e esse amor que ressurgiu,
nunca deu por acabado!
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PEQUENINO PESCADOR...

MOTE:
Eu me sinto pequenino
ante a grandeza do mar,
sou pescador do destino
que inda não sabe pescar!
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS


GLOSA:
Eu me sinto pequenino
como um grãozinho de areia,
me sinto quase um menino
que pela praia vagueia!

Me extasio ante a beleza,
ante a grandeza do mar,
afogo nele a tristeza,
e, então, me ponho a sonhar!

Me lanço a esse mar divino,
procurando nem sei quê,
sou pescador do destino
tentando pescar você!

Com mil anzóis de poesia
eu a quero conquistar,
sou pescador – fantasia,
que inda não sabe pescar!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XXXIV. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2007.

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