AMADA
É tão doce, sutil, quase secreta,
tão gentil quanto a mais gentil donzela,
esta aura que faz de mim poeta
e me afaga ao entrar pela janela.
Vem da amada esta brisa e é por ela
que meu verso se faz canto de esteta,
e se alteia na estrofe que revela
que esta vida sem ela é incompleta.
Solidão era antes o meu nome
tão carente neste ermo, que consome
a esperança, a certeza e o porvir.
Mas foi ela quem veio dissipar
meus temores e fez-me acreditar
que hoje tenho razões para sorrir.
****************************************
MILAGRE
Eu era um deserto cinzento, sem flores
- um chão de tristeza em que não cresce a palma.
Então ela vem e me fala de amores,
e sobre o meu ermo a esperança se espalma.
Cobrindo de estrelas o ocaso sem cores,
trocando amarguras por noites de calma,
com rimas e afagos calou minhas dores,
e pôs em meu peito o candor de sua alma.
O vulgo não sabe quem é a criatura
que a mim favorece com tanta doçura,
repondo em meu ser a perdida alegria.
Os bardos já sabem do que estou falando,
mas vou concluir feito um bardo, cantando,
dizendo entre versos: seu nome é Poesia!
****************************************
TELEFONEMA
(Para o compadre Geraldo Nogueira)
- Alô, quem é que fala?... Ah, como vais amigo?
- Vou enganando aqui a minha ancianidade,
driblando-a como posso, a cultivar meu trigo,
curtindo a natureza e espantando a saudade...
E tu, como é que vais com teu mister antigo
de enganar, versejando, a dura realidade?
Bem pior do que tu, que em teu rural abrigo,
não sofres como nós os males da cidade.
- Então, porque não vens, com malas e papéis
soltar a inspiração aqui nestes vergéis,
ver a vida acordar na paz de todo dia?...
- Quem me dera!... Não posso... Este meu coração
é carrapato urbano... E longe deste chão,
de tédio e solidão decerto eu morreria.
- Qual nada, meu irmão!... À sombra hospitaleira,
que o nosso coração há muito te oferece,
e sob a imensa paz ao pé do cordilheira,
tudo mais que escraviza a gente logo esquece.
– Tua amizade, irmão, sempre foi verdadeira.
Estar junto de ti é desfrutar a messe
que nos vem lá do céu, serena, alvissareira,
e é dádiva de paz que conforta e que aquece...
- O mesmo digo eu sobre a tua amizade...
Será bom te abraçar e matar a saudade
dos antigos serões, de tuas boas falas...
- Pois então, se é assim, me espera por aí...
Preciso desligar... Vou correndo daqui
juntar os meus papéis e preparar as malas.
****************************************
TRANSCENDÊNCIA
Meu bem, o meu amor já se faz quieto,
já não se perde em queixas ou lamúria.
Mesmo ele sendo o teu prazer dileto,
não quer que esse prazer mude em luxúria.
Meu corpo, que te quer além do afeto,
pede à libido que contenha a fúria.
Não pretende que eu o torne um objeto
mudando o sol do amor em luz espúria.
O meu amor quer ver a luz radiante
que a ternura projeta em teu semblante,
convertendo-te em anjo sideral...
Toma, pois, minha mão, sente minha alma,
e vê como palpita em tua palma
meu desejo de amor transcendental!
Fonte:
Thalma Tavares. Alguns sonetos e sonetilhos. São Simão/SP, 2014.
Apostila enviada pelo poeta.
É tão doce, sutil, quase secreta,
tão gentil quanto a mais gentil donzela,
esta aura que faz de mim poeta
e me afaga ao entrar pela janela.
Vem da amada esta brisa e é por ela
que meu verso se faz canto de esteta,
e se alteia na estrofe que revela
que esta vida sem ela é incompleta.
Solidão era antes o meu nome
tão carente neste ermo, que consome
a esperança, a certeza e o porvir.
Mas foi ela quem veio dissipar
meus temores e fez-me acreditar
que hoje tenho razões para sorrir.
MILAGRE
Eu era um deserto cinzento, sem flores
- um chão de tristeza em que não cresce a palma.
Então ela vem e me fala de amores,
e sobre o meu ermo a esperança se espalma.
Cobrindo de estrelas o ocaso sem cores,
trocando amarguras por noites de calma,
com rimas e afagos calou minhas dores,
e pôs em meu peito o candor de sua alma.
O vulgo não sabe quem é a criatura
que a mim favorece com tanta doçura,
repondo em meu ser a perdida alegria.
Os bardos já sabem do que estou falando,
mas vou concluir feito um bardo, cantando,
dizendo entre versos: seu nome é Poesia!
TELEFONEMA
(Para o compadre Geraldo Nogueira)
- Alô, quem é que fala?... Ah, como vais amigo?
- Vou enganando aqui a minha ancianidade,
driblando-a como posso, a cultivar meu trigo,
curtindo a natureza e espantando a saudade...
E tu, como é que vais com teu mister antigo
de enganar, versejando, a dura realidade?
Bem pior do que tu, que em teu rural abrigo,
não sofres como nós os males da cidade.
- Então, porque não vens, com malas e papéis
soltar a inspiração aqui nestes vergéis,
ver a vida acordar na paz de todo dia?...
- Quem me dera!... Não posso... Este meu coração
é carrapato urbano... E longe deste chão,
de tédio e solidão decerto eu morreria.
- Qual nada, meu irmão!... À sombra hospitaleira,
que o nosso coração há muito te oferece,
e sob a imensa paz ao pé do cordilheira,
tudo mais que escraviza a gente logo esquece.
– Tua amizade, irmão, sempre foi verdadeira.
Estar junto de ti é desfrutar a messe
que nos vem lá do céu, serena, alvissareira,
e é dádiva de paz que conforta e que aquece...
- O mesmo digo eu sobre a tua amizade...
Será bom te abraçar e matar a saudade
dos antigos serões, de tuas boas falas...
- Pois então, se é assim, me espera por aí...
Preciso desligar... Vou correndo daqui
juntar os meus papéis e preparar as malas.
TRANSCENDÊNCIA
Meu bem, o meu amor já se faz quieto,
já não se perde em queixas ou lamúria.
Mesmo ele sendo o teu prazer dileto,
não quer que esse prazer mude em luxúria.
Meu corpo, que te quer além do afeto,
pede à libido que contenha a fúria.
Não pretende que eu o torne um objeto
mudando o sol do amor em luz espúria.
O meu amor quer ver a luz radiante
que a ternura projeta em teu semblante,
convertendo-te em anjo sideral...
Toma, pois, minha mão, sente minha alma,
e vê como palpita em tua palma
meu desejo de amor transcendental!
Fonte:
Thalma Tavares. Alguns sonetos e sonetilhos. São Simão/SP, 2014.
Apostila enviada pelo poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário